Eu não entendo - ou melhor, entendo, mas
não comento... - a relutância de alguns sectores da política regional da
oposição, incluindo os que recorrentemente usam o anonimato complementar como
afirmação da sua "coragem", em criarem condições políticas para
discussões sérias e construtivas, sem aproveitamentos políticos ou sombras eleitorais,
optando por dar prioridade às suas estratégias partidárias, políticas e mesmo
pessoais. No fundo falamos, sim ou não, a propósito dos incêndios florestais
que assolaram a Madeira, de audições parlamentares que devem ser sérias,
apostadas no esclarecimento público de tudo o que se passou, no debate em torno
de todos os assuntos que interessam aos madeirenses? E qual a seriedade de quem
se comporta de forma tendenciosa ao não querer incluir na "procissão"
de entidades a ouvir pelos deputados, quem tutela a nossa floresta, no fundo, o
epicentro de tudo o que aconteceu, o local onde tudo aconteceu?
Suspeito que estamos perante uma jogada política - não vou falar nem de protagonistas, nem de intenções subjacentes... - que se divide em duas partes distintas e que nem se complementam: uma primeira, a mais importante, a guerra política, partidária e até pessoal, tendo Albuquerque como alvo preferencial, eventualmente também Pedro Ramos, só porque tutela a Protecção Civil. Digamos que será uma audição que, a se manterem estas premissas, pouco diferirá de uma arena onde vale tudo. Uma segunda parte, menos interessante e por isso desvalorizada, mas que é claramente a mais importante para os cidadãos, apostada num debate sério, pragmático e documentado sobre o que aconteceu, porque aconteceu, que prejuízos foram registados, que erros foram cometidos no terreno, que medidas são propostas para futuro, qual a vigilância das nossas serras e que mudanças serão introduzidas, sobretudo nos períodos de verão, e não apenas na Laurissilva, qual o ponto da situação da limpeza dos terrenos abandonados nas nossas serras, o que aconteceu com aqueles depósitos de água, que durante a cobertura mediática dos incêndios foram anunciados como infraestruturas abandonadas, sem se perceber para que servem e porque foram desactivadas, que dificuldades sentiram os bombeiros no combate aos fogos, qual o papel dos meios aéreos no combate ao sinistro, o que impede a Madeira de ter mais 1 ou 2 meios aéreos em permanência, dado que se trata de uma região insular com uma orografia muito própria, com terrenos de difícil acesso, etc. Obviamente que os madeirenses, sobretudo os que residem em zonas mais vulneráveis, querem respostas a estas questões, querem saber que apoios foram aprovados, que acções foram já postas em execução no terreno, etc.
A guerra político-partidária, com tudo o
que ela implica em termos de disputa pessoal, é uma matéria que interessa aos
políticos, deputados ou não, aos comentadores - os que têm a coragem de dar a
cara ou os que usam o anonimato para insultarem, inventarem e atacarem - mas
interessa quase nada às pessoas. Os cidadãos querem respostas, sabem que
vivemos numa ilha infelizmente muito vulnerável a catástrofes, que precisa de
unir forças quando precisa para responder eficazmente aos desafios e exigências
e não perder tempo com discussões sobre o sexo dos anjos.
Eleições, querem mesmo eleições? Vamos
então para elas, vamos lançar mais confusão e instabilidade na Madeira, vamos
fazer as pessoas perder tempo e esperar mais uns longos meses para que as
eleições se realizem agora, quando a Legislatura regional nem cumpriu seis
meses depois das eleições de Maio. Querem eleições? Vamos a elas, deixem-se de
hipocrisias, deixem de usar o anonimato nas redes sociais, tenham a dignidade e
a coragem de assumir esse propósito, de dar a cara.
O caricato é que há partidos da esquerda
que, no seu habitual discurso para enganar distraídos, atiram-se ao Chega,
desfazem o partido e as suas ideias e ridicularizam os seus eleitos, mas depois
apaparicam-no porque sabem que sem ele a estratégia que não assumem (eleições
antecipadas) não é viabilizável.
Ou seja, eles sabem que para derrubarem o
governo regional em funções - e tudo serve para "justificar" a fome
de poder, nas redes sociais ou nas arenas políticas - eles precisam aproveitar
tudo, valorizar e empolar tudo, de transformar uma formiga num elefante. Mas
para isso o Chega deixa de ser fascista, extremista, xenófobo, racista e não
sei que mais. O Chega para essa esquerda passa a ser um partido
"porreiro", uma entidade a não hostilizar, que repetidamente passam a
não no pelo, na expectativa de que vote em função do que eles querem. Porque
eles pensam, erradamente, que manterão votações recentes e que foram interpretadas
erradamente, tidas como ganhos eleitorais irreversíveis e não como um episódio
isolado, irrepetível, ocorrido num determinado momento e contexto e por causas
concretas que forçosamente não se repetem.
Querem eleições? Vamos a elas, deixem-se de
hipocrisias, deixem de usar o anonimato nas redes sociais, tenham a dignidade e
a coragem de assumir esse propósito, de dar a cara, nomeadamente o eixo Santa
Cruz-Funchal, incluindo as suas ramificações a alguns sectores profissionais
facilmente identificáveis, que aparentemente nada têm a ver com a política ou
com debates partidários (LFM, Tribuna da Madeira, 7.9.2024, versão completa)
Sem comentários:
Enviar um comentário