Li com atenção declarações recentes de um
deputado do PSD-Madeira que não sendo nenhum "tubarão" na máquina
social-democrata foi, contudo, quem deu a cara em Santa Cruz, nos últimos anos,
e tem-se afirmado como um dos parlamentares laranjas mais activos. Estes
desabafos, que acredito visarem apenas chamar a atenção para situações que
devem ser resolvidas, internamente - penso que o PSD-Madeira tem muitas matérias
a resolver, e rapidamente – apostam também na mobilização das bases militantes
que muitas vezes parecem demasiado distantes. No passado, lembro-me bem,
afirmações como estas eram desvalorizadas e entendidas de forma redutora,
catalogadas como instrumentos desestabilizadores, tudo com base na treta do
politicamente correcto e, pior do que isso, com base na ridícula apologia de
que o "adversário está lá fora, não cá dentro". O problema é que, no
caso de muitos partidos políticos, o adversário esta exactamente dentro de
portas, e não falo sequer de pessoas. Falo de estruturas desajustadas a uma
realidade em constante mudança - a política hoje nada tem a ver com o que era a
gestão da política há 10 anos - de modelos de funcionamento obsoletos, de falta
de renovação de quadros, de incentivos aos jovens e às mulheres par a que se
envolvam mais na política, sem terem que fazer parte de facções ou de pretensos
núcleos duros, de mudanças estatutários que são urgentes em nome de maior
eficácia interna, e não se fazem, de concentração excessiva de poderes e também
de alguma incompetência para o exercício de funções que exigem uma constante
presença no terreno. Ninguém é obrigado a ter um perfil, pessoal e social, para
as exigências de cargos partidários.
Nos últimos tempos, fiquei com a reforçada
sensação de existência de uma grande falha em matéria de coordenação política,
no PSD-Madeira, e uma carência ainda maior em termos de comunicação política.
Carência também perceptível nos canais de contacto entre o PSD-Madeira e o
CDS-Madeira e o PAN-Madeira, parceiros assumidos dos social-democratas na
governação regional, relacionamento que tem de envolver diálogos
descomplexados, porque de ideológicos ou programáticos nada têm. Essa
descoordenação, na minha opinião, faz com que o PSD-Madeira deva repensar se, em
próxima reunião magna, deve reintroduzir a Comissão Permanente nos seus
estatutos. O verão foi, politicamente falando, penoso para o PSD-Madeira - não
confundir partido com governo, entidades cujas exigências neste domínio são
diferentes e separadas entre si - tendo-se notado uma ausência de comunicação
política coordenada que poderia pelo menos suster polémicas e neutralizar muita
especulação e manipulação surgida nessas semanas e com algum impacto desgastante
difícil de suster e neutralizar.
Como tenho por adquirido que a teoria predominante, porque é aquela que interessa à preservação do "status" assente no "deixa andar que logo vemos", é que está tudo na maior e que uns artigozinhos nos jornais resolvem carências que são a causa da perigosa perda de votos e de apoio, obviamente que tudo o que acabo de referir é chover no molhado, vale zero. Um PSD-Madeira que, sozinho, entre 2011 - quando começou a curva descendente - e 2024 perdeu mais de 30 mil votos, um centro-direita regional e tradicional (PSD e CDS) que naquele período perdeu mais de 43 mil votos, são factos concretos, mais do que suficientes, que desmentem muita coisa, desautorizam muitos papagaios e devem exigir a coragem de reflectir, discutir, debater, mudar e adaptar o PSD-Madeira - porque é isso que me importa - a uma nova realidade em termos de gestão partidária e do fazer política. Tão simples de entender. Mas tudo isto também passa pelos comportamentos de políticos com responsabilidades públicas acrescidas. E sujeitos a pressão e escrutínio permanente (LFM, texto publicado no Tribuna da Madeira de 13.09.2024)
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