segunda-feira, setembro 16, 2024

Clubes de futebol, partidos e autarquias são os mais expostos à corrupção

Segundo um relatório da Fundação Francisco Manuel dos Santos, os inquiridos avaliam o combate à corrupção como ineficaz, sendo as responsabilidades repartidas entre os vários agentes. Os portugueses consideram que os clubes de futebol são a entidade mais exposta à corrupção e que este fenómeno é bastante difuso entre as elites políticas e económicas. Segundo um relatório da Fundação Francisco Manuel dos Santos, os inquiridos avaliam o combate à corrupção como ineficaz, sendo as responsabilidades repartidas entre os vários agentes.

Dados do Barómetro da Corrupção revelaram que os participantes acreditam que todas as esferas da vida social avaliadas são, pelo menos, medianamente corruptas. Para os portugueses, os clubes de futebol são os mais expostos à corrupção, com uma média de 8,1, sendo 0 “nada corrupto” e 10 “extremamente corrupto”. De seguida, com uma média de 7,5, ficaram as esferas dos partidos políticos e das autarquias. As sociedades de advogados ficaram a meio da tabela, com 6,9.

A corrupção é percecionada com mais prevalente entre políticos, com uma média de 62,5, e empresários (48,2). “Os indivíduos que se posicionam mais à esquerda do espetro político tendem a expressar uma menor perceção de corrupção, comparativamente aos que se posicionam à direita ou ao centro”, lê-se no relatório. Os inquiridos concordam ainda que, em Portugal, se quisermos subir na vida, é importante conhecer as pessoas certas e, em menor medida, que só se fazem bons negócios se tivermos ligações políticas.

Mas como avaliam o combate à corrupção em Portugal? A resposta é “nada eficaz”, com 51,6%. Já cerca de 34,3% considera o combate “medianamente eficaz” e apenas 13% “totalmente eficaz”. “Os indivíduos com níveis mais altos de instrução são os mais negativos na sua avaliação do grau de eficácia no combate à corrupção”, explicam.

Quando questionados sobre os principais responsáveis pela ineficácia no combate à corrupção, “todos e cada um de nós” foi a resposta mais dada (26%). Entre os outros responsáveis apontados está o Governo (25,5%) e os tribunais (15,8%). Em contraciclo, as empresas foram os atores com menor responsabilidade (1%), segundo os inquiridos.

Para os portugueses, o fraco desempenho da justiça no combate à corrupção não deriva necessariamente de problemas como falta de meios ou “acusação tendenciosa”, mas antes de megaprocessos demasiado complexos e intermináveis (71,9%), demasiadas opções de recurso (43,4%) e da dificuldade de provar a corrupção (28,5%).

Os resultados do relatório mostram também que, em média, os participantes concordam que a política só atrai pessoas que procuram obter benefícios particulares à custas do bem comum e que até as pessoas honestas se deixam corromper quando ocupam um cargo de poder. “Estes dados sugerem que há um problema reputacional da política que precisa de ser acautelado pelas instituições políticas”, referem.

Os participantes defendem também os atributos mais importantes para a determinação da probabilidade de votar num candidato são a orientação ideológica (24,2%), seguida da integridade (20,3%) e da capacidade de compromisso (16,6%).

E que impacto tem a corrupção na vida dos portugueses? No último ano, os 49,6% dos inquiridos considera que não foi “nem mais nem menos afetada”. Já 29,6% considera que foi “mais afetada”. Do total, 7,6% refere que foi “menos afetada” e 7,1% “muito mais afetada”.

“Os meios de comunicação tradicionais, sobretudo a televisão, continuam a ser fundamentais para a formulação de opiniões sobre a corrupção, mas há uma preocupação com os efeitos perversos da luta pelas audiências e do sensacionalismo na qualidade do tratamento mediático do tema”, lê-se no relatório.

Este relatório baseia-se num estudo executado pela DOMP para a Fundação Francisco Manuel dos Santos, com base num inquérito apresentado a uma amostra representativa da população portuguesa, por quotas cruzadas de sexo, faixa etária e região de Portugal continental (NUTS II). O estudo insere-se na série de Barómetros da Fundação, através dos quais se pretende auscultar a população portuguesa.

O universo do estudo é composto pelos residentes em Portugal continental, com 18 ou mais anos, falantes de língua portuguesa, com telefone da rede fixa ou acesso à internet. O trabalho de campo decorreu apenas em Portugal continental, entre os dias 25 de março e 22 de abril de 2024, tendo sido recolhidas 1.101 entrevistas completas e validadas. Do total de pessoas que responderam ao Barómetro da Corrupção, 52% são do sexo feminino e 48% do sexo masculino, com a seguinte distribuição por grupos etários: 18 -34 anos (21,1%), 35 -54 anos (33,4%), 55 e mais anos (45,5%) (ECO online, texto do jornalista Frederico Pedreira)

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