Influência, novos mecanismos de participação e mais referendos: os portugueses querem ser mais vezes, e de mais formas, chamados a participar nas decisões políticas do país. É o que se retira de vários indicadores analisados pela sondagem ICS/ISCTE. Na comparação entre influência ideal e influência real, em que os inquiridos dizem que a população deveria ter muito mais influência do que tem, e nas sugestões de reformas políticas (ver gráfico no fim do texto).
Marcelo fez bem em não dissolver e Costa fez mal
em manter Galamba. Sondagem mostra que maioria dos inquiridos não acredita em
grandes mudanças mas espera um Presidente mais atento e interveniente
As duas ideias com maior aprovação são a de criar
novos mecanismos para os cidadãos participarem politicamente (85%) e fazer mais
referendos para “decidir assuntos importantes” (82%), questão recentemente
levantada a propósito da eutanásia, por exemplo. Contudo, nenhum dos referendos
nacionais que foram feitos — dois à legalização do aborto (1998 e 2007) e um à
regionalização (1998) — chegou aos 50% de participação, meta a partir da qual
se tornam vinculativos.
Segundo a sondagem, todas as referências sobre participação política parecem apontar para uma tentativa de pessoalização e dessacralização da política. No fundo, confirmando a desconfiança em relação a partidos, Governo e Parlamento.
Mudar o sistema eleitoral para “votar menos por
partidos e mais por candidatos”, ou seja, caminhar para um sistema de círculos
uninominais, e passar “mais poderes para as autarquias” são outras das ideias
com maior concordância.
Há, no entanto, outras mudanças do sistema
eleitoral a que os portugueses parecem avessos. À cabeça, a antecipação do
direito de voto para os 16 anos, que foi proposta por vários partidos na
revisão constitucional em curso, e que é rejeitada pela esmagadora maioria. Os
inquiridos parecem mais divididos em relação a mudanças que alterem as formas
de ir às urnas.
Se a possibilidade do voto por correspondência,
prática comum noutras geografias, é chumbada pela maioria, o voto por via
digital parte a sondagem quase ao meio. Diferente do voto eletrónico há muito
estabelecido nos EUA e no Brasil, a pergunta da sondagem era sobre a votação
através da internet, à qual a maioria diz que sim: 53% contra os 41% que
recusam a hipótese.
FICHA TÉCNICA
Sondagem cujo trabalho de campo decorreu entre os
dias 13 e 28 de maio de 2023. Foi coordenada por uma equipa do Instituto de
Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-ULisboa) e do ISCTE — Instituto
Universitário de Lisboa (ISCTE/IUL), tendo o trabalho de campo sido realizado
pela GfK Metris. O universo da sondagem é constituído pelos indivíduos, de
ambos os sexos, com idade igual ou superior a 18 anos e capacidade eleitoral
ativa, residentes em Portugal continental. Os respondentes foram selecionados
através do método de quotas, com base numa matriz que cruza as variáveis: sexo,
idade (4 grupos), instrução (3 grupos), região (5 regiões NUTII) e
habitat/dimensão dos agregados populacionais (5 grupos). A partir de uma matriz
inicial de região e habitat, foram selecionados aleatoriamente 128 pontos de
amostragem onde foram realizadas as entrevistas, de acordo com as quotas acima
referidas. A informação foi recolhida através de entrevista direta e pessoal na
residência dos inquiridos, em sistema CAPI, e a intenção de voto em eleições
legislativas recolhida recorrendo a simulação de voto em urna. Foram
contactados 3894 lares elegíveis (com membros do agregado pertencentes ao
universo) e obtidas 1204 entrevistas válidas (taxa de resposta de 31%, taxa de
cooperação de 42%). O trabalho de campo foi realizado por 52 entrevistadores,
que receberam formação adequada às especificidades do estudo. Todos os
resultados foram sujeitos a ponderação por pós-estratificação de acordo com a
frequência de prática religiosa e a pertença a sindicatos ou associações
profissionais dos cidadãos portugueses com 18 ou mais anos residentes no
continente, a partir dos dados da vaga mais recente do European Social Survey
(Ronda 10). A margem de erro máxima associada a uma amostra aleatória simples
de 1204 inquiridos é de +/- 2,8%, com um nível de confiança de 95%. Todas as
percentagens são arredondadas à unidade, podendo a sua soma ser diferente de
100% (Expresso, texto dos jornalistas João Diogo Correia e Sofia Miguel Rosa)
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