quinta-feira, junho 22, 2023

Partidos menores e mais radicais lideram nas redes sociais, revela estudo

Dentro da área política, a corrupção é o tema que motivou mais campanhas de manipulação informativa em Portugal. A presença dos partidos nas redes sociais (nomeadamente no Facebook), tendo em conta o número de seguidores, não coincide com a representação parlamentar. Na verdade, são os partidos de menor dimensão e mais radicalizados aqueles que lideram na atividade e partilha de publicações. Estas são algumas das conclusões reveladas no relatório do Observatório Ibérico de Media Digitais e da Desinformação (IBERIFIER), “Análise do impacto da desinformação na política, economia, sociedade e questões de segurança, modelos de governança e boas práticas: o caso de Espanha e Portugal”. O estudo foi apresentado esta quarta-feira numa conferência que contou com a presença de Augusto Santos Silva, presidente da Assembleia da República, de Ramón Salaverría (Universidade de Navarra e coordenador do IBERIFIER) e Gustavo Cardoso (ISCTE-IUL e investigador principal do projeto em Portugal). Em agosto de 2022, de acordo com o estudo, era o PSD o partido líder em número de seguidores (posição ocupada em 2019 pelo PAN), mas era o Chega o partido com maior “engajamento”, medido através de “gostos”, “partilhas” e “comentários”.

Em 2022, o ranking do engajamento tinha a seguinte ordem: Chega, Iniciativa Liberal, PSD, PCP, PAN, BE, Ergue-te, PS, CDS, ADN, PEV, LIVRE, Volt Portugal, Nós Cidadãos e Aliança. Dados de 2019 demonstraram também que o Chega e o PAN (no Facebook) e a Iniciativa Liberal (no Twitter e Instagram) eram os partidos com maior eficácia nas redes sociais, apresentando os melhores rácios entre o número de seguidores e de interações. Em termos de desinformação, no entanto, “foi detetada pouca pegada da parte do governo e da oposição durante a comunicação realizada nas campanhas eleitorais“, aponta o estudo.

Chega tem demasiado espaço nos media, como diz Costa?

Dentro da área política, a corrupção é o tema que motivou mais campanhas de manipulação informativa em Portugal, “o que denota diferença em relação a outros países, nos quais a imigração é o tema mais relevante”, refere o estudo.

“No entanto, Portugal apresenta características sociodemográficas, económicas e políticas que o tornam menos exposto a estratégias de desestabilização“, revela o relatório, sendo no entanto de notar “o surgimento de agressividade na linguagem pública dos novos partidos de extrema-direita (o Chega), com efeitos propagandísticos e de radicalização nos media e redes sociais”.

Desinformação em Portugal

Em Portugal, as campanhas de desinformação estudadas replicam modelos estrangeiros, sendo assim sobretudo “importadas”. Entre estas destaca-se a desinformação relacionada com a guerra na Ucrânia e a Covid-19, sendo que com esta última há dois objetivos: o de descredibilizar as decisões políticas e o de desestabilizar socialmente.

Manutenção de credibilidade é o maior desafio do jornalismo

O estudo aponta ainda que a situação financeira e de vulnerabilidade do ecossistema mediático português faz com que a preocupação com a desinformação “ganhe relevo” em Portugal, onde, no campo do jornalismo, “sobressaem os problemas relacionados com a credibilidade dos profissionais“, numa situação que resulta do “desinvestimento público no setor e do desinvestimento do setor em profissionais, a que deve juntar-se uma crescente politização do debate mediático por parte dos comentadores (que não são jornalistas)”.

“Apesar dos media convencionais não estarem necessariamente a ser a origem da desinformação, a porosidade de fronteiras entre estes e as redes sociais coloca a questão de a desinformação estar a influenciar a agenda noticiosa“, observa-se ainda no relatório.

De acordo com o estudo, o problema da desinformação surge em paralelo com a perda da confiança nos meios de informação, sendo que neste campo a situação de Portugal figura-se mais risonha do que em Espanha, uma vez que, segundo o Eurobarómetro Media Trust, a confiança nos média está nos 13% entre os espanhóis, enquanto em Portugal pontua 40% (ECO digital, texto do jornalista Rafael Ascensão)

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