sábado, janeiro 08, 2022

Nota: acabem com esse discurso hipócrita e manipulador sobre o trabalho



Criou-se, sobretudo nestes tempos de pandemia - que está para durar... - a ideia peregrina de que na Madeira e no País em geral, os desempregados são uma espécie de "chulos" dos apoios sociais e que querem meter na pança os limitados euros recebidos apo abrigo dos apoios recebidos em vez de aproveitarem as oportunidades de trabalho que alegadamente começaram a surgir à medida que a economia recupera da porrada levada em 2020 e já menos em 2021, primeiros dois anos da pandemia.

Esta conversa da treta conseguiu até mobilizar em prol da "causa" meios de comunicação calados, histéricos comentadores mais liberais e outros direitistas mais radicais, que acham que isto é tudo uma consequência das patifarias legislativas aprovadas pela esquerdalhada no poder. Imaginem que até se ouviu falar, repetidamente, que alguns sectores de actividades mais sensíveis teriam de ir contratar no estrangeiro para colmatarem a falta de mão-de-obra existente, ou seja, trazer escravos ainda mais baratos e submissos do que a escravidão nacional que desejam contratar internamente, sem sucesso pelos vistos.

Portanto, temos jovens licenciados e outros trabalhadores não forçosamente detentores de formação académica superior - mas especializados e com formação adicional nas suas áreas de actividade - que alguns empresários querem contratar pagando pela tabela, ou seja, salários indignos e baratinhos, mas ao mesmo tempo impondo horários altamente inflexíveis e proibições - e eu sei do que falo.... - até em matéria de  ligações a sindicatos (!). Se isto é a tal "economia a funcionar" no seu esplendor, então vou ali e já venho... E a dignidade das pessoas, dos jovens que querem e precisam de trabalhar, e a lógica dos salários dignos que atraiam pessoas para trabalhos dignos? Agora, ainda por cima com os sindicatos neutralizados e quase reduzidos a cacos, de nada servindo em termos de inversão desta realidade, passou a valer tudo, os desempregados são apenas olhados como "carne para canhão, tipo escravos ao serviço do capitalismo mais selvagem, guloso e corrupto? Mas ninguém é capaz de estabelecer as diferenças - e eu não digo que nesta onda alguns não se aproveitem e optem pelos apoios sociais enquanto durarem independentemente dos salários melhores que lhes pudessem pagar - entre o respeito, o direito à dignidade e ao rendimento compatível com todas as formas, mais ou menos encapotadas de aproveitamento de mão-de-obra que alguns acham deve ser baratinha, não refilona e sem direitos, uma espécie de escravatura dentro do nosso próprio pais ou região? Não, eu não generalizado, porque sei, no caso da Madeira, que temos alguns empresários que são exemplo, que empregam centenas de pessoas, que garantem o rendimento adequado aos seus trabalhadores, que procuram ter actividade que impeça despedimentos e outras decisões mais complexas. Mas recuso aceitar que os empresários sejam todos santos de altar e que os diabos sejam os desempregados à procura ou à espera de empregos dignos e de rendimentos compatíveis com as suas expectativas de vida e o trabalho. Existem tantas linhas vermelhas nas nossas vidas, todos os dias ouvimos falar de linhas  vermelhas que não podem ser pisadas ou ultrapassadas. E a dignidade de quem trabalha, sobretudo dos jovens que apenas querem uma oportunidade e que sejam respeitados, não é uma linha vermelha nesta sociedade cada vez mais a caminho da institucionalização do primado do lucro fácil e do capitalismo selvagem em detrimento da lógica humanista e da justiça social?


Espero, isso sim, que as autoridades proíbam essas palhaçadas e as pressões de pretensa importação de "escravos" do estrangeiro e que reforcem antes a fiscalização, porque essa nem as pandemias podem travar . E que os empresários que realizam esforços para manterem os seus quadros intocáveis, que sejam apoiados sempre e quando tiverem que ser tomadas medidas restritivas que influenciam a actividade e a recuperação normal das actividades económicas (LFM)

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