Dos mais de 49 mil estudantes colocados na universidade na primeira fase de acesso ao ensino superior deste ano, mais de 22 mil entraram em Lisboa e no Porto. Estas cidades têm mais estudantes, mas serão mais acessíveis quando toca a pagar as contas? Lisboa é, de longe, a mais cara. Já o Porto batalha no segundo lugar com Faro. Por outro lado, a famosa ‘cidade dos estudantes’, Coimbra, é das mais baratas para se viver, de acordo com a análise feita pelo Expresso. Mas é na Covilhã que se verificam os custos mais baixos. Há nove cidades portuguesas que têm universidades públicas (excetuando o ensino politécnico): Faro, Évora, Lisboa, Coimbra, Aveiro, Covilhã, Porto, Braga e Vila Real. O Expresso analisou, em cada uma delas, diversas variáveis que compõem o custo de vida de um estudante, desde as propinas ao quarto, passando pelo passe nos transportes públicos e pelas refeições na cantina. Coimbra, conhecida por ser a ‘cidade dos estudantes’, com a sua universidade quase milenar, é uma das mais acessíveis à carteira de um estudante — ou dos seus pais.
DAS PROPINAS AOS TRANSPORTES, A FATURA AUMENTA
Nas propinas não há que enganar, pois o valor fixado pelo Governo é igual para todas as universidades públicas: €697 ao ano, o que dá €69,7 por mês (tendo em conta os 10 meses que compõem o ano letivo), caso seja esse o método de pagamento do aluno.
É quando se passa a olhar para as restantes despesas que a fatura começa a crescer. Por exemplo, se em Lisboa e Porto um estudante do ensino superior consegue comprar o passe por €22,5, na Covilhã ele ultrapassa €25, enquanto em Braga é pouco mais que €7.
Já a alimentação é mais difícil de quantificar, mas, de qualquer forma, os preços em supermercados não variam muito entre cada cidade. Contudo, o preço da refeição nas cantinas escolares já tem algumas diferenças. Calculando o valor que um estudante pagaria em 10 refeições por mês na cantina com o valor da refeição social — o menu mais barato das faculdades, que geralmente inclui a refeição completa —, é em Faro que se encontra o valor mais caro (€29). Por outro lado, Covilhã e Braga têm o preço mais barato (€25).
ALOJAMENTO REPRESENTA ATÉ 63% DAS DESPESAS
É na parte do alojamento que as contas se começam a complicar e as faturas a engordar. Apesar de vários estudantes terem as despesas da casa incluídas no preço dos quartos — ainda que depois isso possa encarecer o valor final do mesmo —, o Expresso simulou faturas simples nos simuladores da Autoridade Nacional de Comunicações (Anacom), Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE) e Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos (ERSAR).
Segundo as contas da ERSE para duas pessoas, o valor do gás e da luz não difere muito entre as diversas cidades portuguesas, sendo que arredondado dá mais ou menos €20 por pessoa.
Já na água as diferenças chegam aos 50%. Os dados da ERSAR referentes a 2019, e tendo em conta o consumo mensal de 10 metros cúbicos por mês, reportam o encargo mensal por município com a prestação dos serviços de abastecimento de água, saneamento de águas residuais e gestão de resíduos urbanos. Posto isto, se em Évora nem chega a €16, em Aveiro e na Covilhã ultrapassa €32.
Quanto à internet — serviço essencial para qualquer estudante, com ou sem o modelo de aulas à distância que ganhou relevância durante a pandemia de covid-19 —, o simulador varia consoante os dados indicados. Tendo em conta a utilização típica de um estudante, o pacote mais barato de internet e televisão (o mais comum) varia entre €21 e €31 por mês, aproximadamente.
De ressalvar que estes valores podem não ser os mais corretos, pois tudo irá depender do contrato feito com o senhorio — com ou sem despesas incluídas — e do número de pessoas com quem o aluno possa dividir a casa.
Por fim, o que mais encarece a fatura no final do mês é o quarto. É essencialmente este fator que coloca Lisboa no primeiro lugar da lista de cidades mais caras para os estudantes viverem em Portugal. Na capital, cada quarto estava a ser arrendado em setembro, em média, por €326 por mês, segundo o Observatório do Alojamento Estudantil, que tem estes dados disponíveis na plataforma online “Alfredo Student”.
Seguem-se Porto e Faro, ambas com uma média €250 por mês por um quarto. Évora, Braga e Aveiro ocupam os lugares do meio, com valores de €200, €202 e €223 por mês, respetivamente. Por fim, as três cidades com quartos mais baratos são Coimbra (€180), Vila Real (€157) e Covilhã (€150).
Contas feitas — e sem surpresa —, Lisboa é a cidade mais cara para os estudantes viverem (aproximadamente €518 por mês), logo seguida de Faro (€442), mas com uma diferença muito curta para o Porto (€432). Aliás, se se retirar da equação as despesas da casa, a “Invicta” acaba mesmo por ultrapassar a capital algarvia.
A ‘meio da tabela’ encontram-se, novamente, Braga (cerca de €367), Évora (€377) e Aveiro (€408).
No top das cidades mais baratas estão aquelas que têm o preço do quarto mais acessível: Covilhã (quase €341), Vila Real (€348) e Coimbra (€354).
Ao analisar cada categoria das despesas de um estudante, o quarto chega a representar mais de 60% do valor total. Em Lisboa, 63% das despesas vão para o quarto. Já na Covilhã, o alojamento representa ‘apenas’ 43% do valor total das despesas. Na maioria das cidades, o quarto equivale a mais de 50% do total.
É certo que os estudantes têm mais gastos do que aqueles que foram tidos em conta, como compras em supermercados, despesas com livros e material de estudo ou até na sua vida social. Porém, independentemente de qual seja a percentagem final, o dinheiro gasto mensalmente com o quarto acabará quase sempre acima dos cerca de 35% da taxa de esforço — indicador tido em conta no pedido de crédito à habitação, entre outros — recomendada pelo Banco de Portugal, o que mostra bem o peso que tem no final do mês e o peso que representa ao ter de se ir estudar para fora da cidade de origem.
NÚMEROS
22
mil estudantes ficaram colocados, na primeira fase de acesso à universidade, em Lisboa e no Porto
180
euros era o preço médio de aluguer de um quarto em Coimbra em setembro, segundo o Observatório do Alojamento Estudantil
63%
é quanto representa, aproximadamente, o valor de um quarto em Lisboa nas despesas totais de um aluno (Expresso texto da jornalista RITA ROBALO ROSA)
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