sábado, novembro 20, 2021

Polémica com Sousa Real divide fundadores

Os fundadores do PAN António Santos e Pedro Taborda mostram-se divididos quanto à polémica sobre as empresas agrícolas em que a líder detém participações. Se António Santos, militante número um, invoca uma “tática de difamação” do partido, Pedro Taborda, militante número dois, não está satisfeito com as explicações da porta-voz e quer uma reunião para obter mais esclarecimentos de Inês de Sousa Real. A confirmarem-se algumas suspeitas sobre as duas empresas de produção e comercialização de frutos vermelhos, a situação é “injustificável”, diz Pedro Taborda. Aliás, antes do extenso comunicado explicativo divulgado pela direção na quinta-feira, admitia até que só havia uma saída: a sua “demissão”. Agora dá um tempo: diz que é essencial ouvir “pessoalmente” os argumentos de Sousa Real e esclarecer algumas questões.

DÚVIDAS SOBRE “TÚNEIS”

Segundo o fundador — que inicialmente hesitou em apoiar a candidatura de Sousa Real ao cargo de porta-voz do partido por temer uma “linha de continuidade” e “proximidade ao Governo” —, há várias questões que estão ainda por clarificar, nomeadamente se as duas empresas usam estufas e porque é que continuam a utilizar embalagens de plástico. “Túneis? Pelas imagens parecem estufas. Já agora venham especialistas a explicar a diferença”, atira Pedro Taborda. Apesar de reconhecer que o partido vai contra várias posições assumidas pela Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), Taborda admite também que, a confirmarem-se as suspeitas que recaem sobre as duas empresas agrícolas em que a líder do PAN é coproprietária, essas práticas põem em causa a “sua própria legitimidade” enquanto líder e a ideologia do partido. Mais: se a reunião com Sousa Real não corresponder às expectativas, admite desvincular-se do PAN. “Sem mais explicações, num caso-limite, saio do partido”, diz, perentório.

Sousa Real desconfia do timing das denúncias, perto das eleições, e fala em “oportunismo político”

António Santos lamenta, por sua vez, a nova polémica em que o partido está envolvido. Num comunicado enviado ao Expresso, o militante número um considera que estão em causa tentativas de “difamação” que visam “denegrir a honra da porta-voz do PAN, colocar em causa a sua reconhecida idoneidade e integridade” e, assim, prejudicar o partido próximo das eleições. “Estas tentativas de assassinato de carácter significam que alguém, entidade particular ou organização, reconhece o PAN como uma séria ameaça às suas ambições e planos políticos, e na falta de argumentos válidos opta por estas estratégias sujas e pouco dignificantes”, acusa António Santos.

Ao Expresso, Inês de Sousa Real rejeita as acusações e afirma que o PAN está a ser alvo de uma ação concertada da CAP, que tem dado voz aos “interesses instalados” no sector. Aponta o timing da denúncia, a pouco mais de dois meses das eleições legislativas antecipadas, por revelar “oportunismo político”. “Penso que já dei todas as explicações, agi sempre com transparência — as participações nessas empresas constam do registo de interesses do site do Parlamento”, diz a porta-voz, sublinhando não haver qualquer incompatibilidade enquanto deputada.

PLÁSTICO? SÓ EM FRAMBOESAS

Sousa Real nega ainda a prática de agricultura intensiva, explicando que os terrenos das duas empresas — Berry Dream e Red Fields — são de pequena dimensão, com 3,7 e 4 hectares, respetivamente, têm certificação biológica e recorrem apenas a túneis abertos. Garante, assim, as melhores práticas agrícolas e sociais. O único ‘pecado’ ambiental que admite é o uso de embalagens de plástico nas framboesas, por ser uma “exigência do comprador”, e adianta que os mirtilos já são entregues em caixas de cartão. Se no caso da empresa Berry Dream, o marido — com quem é casada em regime de comunhão de adquiridos — detém ainda uma participação, quanto à Red Fields, Sousa Real está num processo de cessão de quotas em “fase de finalização”. A porta-voz do PAN confirmou, ainda em comunicado, que entre 2013 e 2015 a Berry Dream recebeu 171 mil euros em fundos comunitários. Apesar da polémica, Sousa Real diz ter recebido manifestações de “imensa solidariedade” e “empatia” e acredita que o partido não será penalizado nas eleições de janeiro. “Penso que o eleitorado continuará a dar-nos o voto de confiança, que nos permite crescer e conseguir avançar as nossas causas de forma mais decisiva”, conclui.

CESSÃO DE QUOTAS NA FAMÍLIA

Depois de vários desmentidos nas redes sociais e declarações aos jornalistas, o PAN divulgou na quinta-feira um longo comunicado onde rebatia quase todas as dúvidas levantadas pela imprensa e a CAP. O objetivo era encerrar o caso, mas há questões que ficam ainda por esclarecer. Uma delas é o processo de transmissão da quota de Inês Sousa Real na Berry Dream, em janeiro de 2019, para a sogra, que pouco depois a passou para o seu marido. “Esta transmissão foi feita de boa-fé, sem qualquer simulação, de forma completamente voluntária, não existindo exigência legal para que as quotas tivessem de ser cedidas”, alega o partido, não apresentando razões para o processo realizado pela família da líder.  (Expresso, texto da jornalista LILIANA COELHO) 

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