terça-feira, novembro 16, 2021

"Cura esterilizadora". Cientistas descobrem mulher cujo corpo terá eliminado naturalmente o VIH

Neste momento, são cerca de 38 milhões as pessoas que vivem com VIH em todo o mundo. Uma equipa internacional de investigadores diz ter descoberto uma paciente cujo corpo conseguiu eliminar, autonomamente, o vírus da imunodeficiência humana (VIH), que causa a SIDA. A confirmar-se, este será o segundo caso em todo o mundo e traz renovadas esperanças de que seja possível, um dia, encontrar a cura para o vírus. A paciente em questão tem 30 anos e nasceu na cidade de Esperanza, na Argentina. Em amostras observadas em laboratório, pôde verificar-se que a mulher não possuía o vírus intacto em grande parte das suas células. Segundo o grupo de cientistas, que divulgou segunda-feira o caso na revista Annals of Internal Medicine, esses resultados sugerem que a paciente pode ter eliminado naturalmente o vírus, alcançando a chamada “cura esterilizadora” da infeção por HIV.

Esta cura terá acontecido sem que a mulher recebesse qualquer tratamento regular para a sua infeção, diagnosticada há oito anos. Esta é apenas a segunda vez que tal acontecimento é reportado em todo o mundo. Ao que tudo indica, a paciente passa, assim, a ser uma das raras pessoas que conseguiu “controlar” a VIH, deixando de revelar sinais de infeção ativa.

A primeira paciente que alcançou tal feito, sem a ajuda de transplante celular ou de qualquer outro tratamento, é a norte-americana Loreen Willenberg, que tinha então 65 anos. Esse caso deu-se em 2019.

“No passado já tinha sido observada uma cura esterilizadora para o VIH em dois pacientes que receberam um transplante de medula óssea altamente tóxico. O nosso estudo revela que esse tipo de cura também pode ser alcançado durante a infeção natural, na ausência de transplantes de medula ou de qualquer tipo de tratamento”, explicou à CNN Xu Yu, um dos autores do recente estudo. Segundo este investigador, “exemplos deste tipo de cura, que acontece naturalmente, sugerem que os atuais esforços para encontrar uma cura para o VIH não são em vão e que a perspetiva de alcançar uma futura geração livre do VIH pode ser bem-sucedida”.

Cientistas usaram amostras de sangue e de placenta

Foi em 2013 que a paciente envolvida no mais recente estudo foi diagnosticada com HIV. Nessa altura, iniciou um tratamento com antirretrovirais, que acabou por interromper em 2019, ano em que engravidou. No segundo e terceiro trimestres da gravidez, a mulher realizou um tratamento com os medicamentos tenofovir, emtricitabine, e raltegravir (também antirretrovirais). Depois de dar à luz um bebé sem VIH, a paciente abandonou a medicação. No recente estudo, a equipa de cientistas analisou amostras de sangue da paciente recolhidas entre 2017 e 2020, assim como tecido da placenta do momento em que teve o filho.

A análise a milhões de células presentes no sangue e nas amostras de tecido indicou que a mulher esteve infetada com o vírus que provoca a SIDA mas que, em determinado momento, deixou de possuir células intactas do VIH que fossem capazes de se replicar. Em vez disso, os cientistas encontraram sete tipos defeituosos de provírus (um genoma de vírus integrado no material genético de uma célula hospedeira, como parte do ciclo de replicação).

"Combinação de diferentes mecanismos imunitários" pode estar na origem

Ainda não é certo de que forma o corpo da paciente foi capaz de, aparentemente, impedir naturalmente que o VIH se replicasse. “Achamos que pode ter sido uma combinação de diferentes mecanismos imunitários”, afirmou Xu Yu. “Os linfócitos T citotóxidos estão provavelmente envolvidos, e um possível mecanismo imunitário inato também pode ter contribuído”.

“Aumentar o número de indivíduos que possam possuir esta cura esterilizadora facilitaria a nossa descoberta de fatores imunitários que originem essa cura numa população mais ampla de pessoas com VIH”, elucidou o especialista. Neste momento, são cerca de 38 milhões as pessoas que vivem com o vírus da imunodeficiência humana. Esta infeção, especialmente quando deixada sem tratamento, pode originar a SIDA, que só no ano passado contribuiu para a morte de 690 mil pessoas em todo o mundo (RTP, texto da jornalista Joana Raposo Santos)

Sem comentários: