quarta-feira, novembro 03, 2021

La Palma, a ilha negra



Sentado a poucos metros do miradouro onde os turistas se acotovelam para fotografar o “espetáculo", Matías Arroncha só vê destruição: “Odeio-os e odeio o vulcão. Dá-me raiva que ninguém possa fazer nada. Se fosse um incêndio, haveria água. Assim, só nos resta assistir", conta este homem que 'viu' a sua casa ser enterrada pela lava.  Debaixo de um chapéu de sol coberto de cinzas, Matías Arroncha passa dias e noites inteiras como se estivesse de vigia, imóvel, a olhar para o vulcão e a ver correr lentamente diante dos olhos o rio de lava que enterrou a sua casa, assim como a dos sogros, dos irmãos, dos cunhados, dos sobrinhos, dos primos e de centenas de outras famílias. Está sentado a poucos metros do miradouro onde os turistas se acotovelam para fotografar o “espetáculo”. Onde eles veem beleza, ele só vê destruição. “Odeio-os e odeio o vulcão. Dá-me raiva que ninguém possa fazer nada. Se fosse um incêndio, haveria água. Assim, só nos resta assistir.”

Nas ruas, pintadas de preto por uma miudinha chuva de cinzas que não pára de cair, há uma calma que desarma. Não se veem passar veículos de emergência a grande velocidade nem se escutam sirenes. Só se ouve o estrépito do vulcão, como se, em permanência, vários aviões a jato cruzassem os céus. Por segurança, sete mil pessoas — quase 10% da população — foram retiradas das suas casas. Cerca de mil habitações já desapareceram, as outras correm o risco de ficar soterradas nos próximos dias, semanas ou meses. Ninguém sabe. E mesmo as que escaparem poderão ficar inacessíveis durante anos, até que seja possível reabilitar as estradas. “Há fluxos de lava com mais de 2,5 quilómetros de largura e com 15 a 20 metros de altura. É muito difícil prever exatamente o percurso que vão seguir. Por isso, as populações foram retiradas. E não é possível fazer mais nada”, confirma Pedro Hernández, do Instituto Vulcanológico das Canárias. Esta é a reportagem dos enviados do Expresso a La Palma

Sem comentários: