terça-feira, maio 04, 2021

Madeira quer ter este verão mais turistas nacionais que no periodo pré-covid. TAP pretende ajudar operação com reforço de voos


 

Operadores turísticos equacionavam fretar 'charters' para a Madeira às suas custas para criar pacotes de férias económicos aos portugueses de julho a setembro, alegando a recusa da TAP em colaborar com os seus voos regulares. Mas a companhia garantiu ao Expresso querer "corrigir erros anteriores", e vai reunir-se esta semana com os agentes de viagens, anunciando a partir de junho sete voos diários para a Madeira, de Lisboa e do Porto

A polémica instalou-se na Madeira, em relação aos pacotes de férias para os turistas nacionais no próximo verão. A Associação Portuguesa das Agências de Viagens e de Turismo (APAVT) avançou a intenção dos operadores turísticos portugueses fretarem 'charters' às suas custas em julho, agosto e setembro, face à "falta de diálogo" da TAP em contribuir aqui com os seus voos regulares, numa conferência de imprensa que decorreu esta sexta-feira no Funchal.

O secretário regional de Turismo, Eduardo Jesus, manifestou "pena por a companhia de bandeira não estar associada ao enorme trabalho feito no destino pelos operadores turísticos, que têm estado de braço dado", destacou que a região "tem sofrido perda de competitividade pelas tarifas praticadas pela TAP", e que "não é aceitável haver preços mais baratos para ir a Cancun do que para ir à Madeira".

Mas segundo adiantou ao Expresso Bernardo Trindade, vogal do conselho de administração da TAP, a transportadora vai reunir esta semana com os operadores turísticos com vista a "fazer um trabalho de reaproximação, corrigir o que até aqui correu menos bem" e estudar soluções partilhadas para se conseguirem pacotes de férias na Madeira no próximo verão.


Bernardo Trindade avançou ainda que a TAP está a fazer "uma aposta muito clara na Madeira", e que a partir de junho esta rota será reforçada, passando a totalizar cinco voos diários de Lisboa para o Funchal, além de dois voos diários do Porto. "A TAP nunca faltou à Madeira neste tempo de pandemia", sublinhou. "Estamos disponíveis para trabalhar com a TAP, nunca iríamos rejeitar uma aliança que é para nós natural, e com toda a capacidade que a TAP tem", salientou Pedro Costa Ferreira, presidente da APAVT, referindo que "há 30 anos que os operadores não faziam um charter para a Madeira, seria triste termos de recuar a uma situação de há 30 anos para fabricar uma resposta e contrariar um vazio de oferta num destino que para nós é tão importante".

Condição essencial para a criação de pacotes de férias para a Madeira acessíveis aos turistas nacionais é "haver tarifas mais baixas do que as que estão a ser atualmente praticadas pela TAP", advertiu Costa Ferreira. Sobre o facto de haver voos mais baratos de Lisboa a Cancun do que para o Funchal, Bernardo Trindade alegou ser a lei do mercado a funcionar, tendo em conta que existe uma maior procura para a Madeira. A operação prevista este verão para a Madeira pelos oito principais operadores turísticos nacionais (Abreu, Solférias, Soltrópico, Nortravel, Sonhando, Exótico, Clube Viajar e Lusanova) envolve dois voos por semana, com 160 a 180 lugares em cada avião.

ALÉM DO RECORDE DE PORTUGUESES, A MADEIRA ESPERA FICAR NA 'LISTA VERDE' DO REINO UNIDO

A Madeira mantém a perspetiva de "ter este ano um bom verão com o mercado nacional", e até atingir recordes relativamente aos resultados obtidos antes da pandemia, segundo indicou o secretário regional de Turismo - lembrando que o volume de turistas do continente português em agosto do ano passado já foi superior ao que se verificou no mês homólogo de 2019, valor que se pretende este ano ultrapassar.

O peso de turistas nacionais na Madeira subiu de 21% em 2019 para 36% em 2020. No ano passado, a região teve 202.306 hóspedes portugueses nos hotéis, que no mês de agosto totalizaram 37.540, mais do que em igual mês no ano anterior, ainda sem a pandemia, segundo dados da Associação de Promoção da Madeira (APM).


As expectativas favoráveis estendem-se ao mercado do Reino Unido. O Governo britânico anunciou a intenção de abrir as viagens aos seus cidadãos a 17 de maio, resta é saber quais os destinos em que terá 'corredores' e em que as pessoas não fiquem sujeitas a quarentenas ao regressar. Esta decisão deverá ser tomada a 10 de maio, esperando a Madeira ficar na 'lista verde' dos britânicos, tendo em conta os números baixos de covid no arquipélago, e também o facto de os corredores terem passado a seguir um critério regional, e já não nacional como era no início (o que significa que a Madeira deixa de estar dependente dos resultados da situação pandémica em Portugal como um todo para efeitos de corredor aéreo com o Reino Unido).

"Aguardamos a posição do Reino Unido em levantar as restrições que ainda existem", referiu Eduardo Jesus, adiantando que outros grandes mercados de aposta na região são os países da Europa de leste.

Um sinal promissor do regresso dos britânicos à região está no facto "do maior operador inglês, a Jet2, ter anunciado para a Madeira mais uma nova operação, a partir de nove bases diferentes do Reino Unido, e fez este anúncio num período em que ainda havia fortes restrições", realçou o secretário regional de Turismo.

MADEIRA VAI VACINAR OS SEUS 25 MIL TRABALHADORES DE TURISMO ATÉ AO FINAL DE MAIO

Construir um "destino seguro" nos tempos que se vivem de covid-19 tem sido a tónica na Madeira, segundo Eduardo Jesus. "Vamos vacinar todo o sector do turismo, iniciamos o processo esta semana, e ficará concluído no final de maio", anunciou.


Os 25 mil trabalhadores do sector na região passam a ser considerados prioritários nas campanhas de vacinação, tendo em conta que lidam com muita gente e com o objetivo de transmitir segurança acrescida aos turistas. "Encontrámos na pandemia uma oportunidade, temos estado na dianteira e implementámos uma série de medidas que vão ficar no território", salientou o responsável, lembrando que a Madeira foi dos primeiros destinos mundiais a criar regras próprias para acolher turistas logo na fase inicial do surto, exigindo um teste PCR à entrada, que é pago pela região.

O sistema na Madeira tem vindo a evoluir, aproximando-se de momento com o que a Comissão Europeia prepara para o 'passe europeu de viagens': as chegadas efetuam-se mediante comprovativo das pessoas estarem vacinadas, testadas ou recuperadas de covid, estando os aeroportos do Funchal e do Porto Santo equipados com corredores verdes e azuis e tendo pessoal de acolhimento para este efeito.

Quem chegar à região sem ter feito teste PCR 72 horas antes de embarcar, poderá fazê-lo gratuitamente no aeroporto, sendo encaminhado para o hotel ou outro domicílio, e ficando em isolamento até saber o resultado. "Decidimos continuar a oferecer na Madeira um teste PCR gratuito a todos os visitantes", afirmou Eduardo Jesus.

A Madeira é em 2021 o destino preferido da APAVT, tal como já o foi em 2020. "Implica uma intensa agenda de marketing, a dizer aos turistas como a Madeira está preparada para os receber, e também um intenso trabalho dos operadores turísticos", explicitou o presidente da associação das agências de viagens. "Entre as restantes regiões turísticas, o exemplo é a Madeira, que tem feito um trabalho notável na gestão da pandemia e a criar regras que trazem segurança."

"Olhamos a operação turística do próximo verão com a enorme ambição de ter um novo recorde de turistas nacionais na Madeira", garantiu Pedro Costa Ferreira.

TAP FICOU FORA DA OPERAÇÃO TURÍSTICA PARA O PORTO SANTO, CUJOS VOOS SÃO FEITOS PELA IBERIA E A SATA

Antes da Madeira, os operadores turísticos começaram, já desde finais do ano passado, a organizar pacotes turísticos para o Porto Santo (destino popular dos portugueses no segmento de férias económicas envolvendo avião), ressentindo-se do "virar de costas" por parte da TAP, que na altura recusou entrar nesta operação.

Os pacotes do próximo verão para o Porto Santo vão ser assegurados com voos 'charter' da espanhola Iberia e da Sata, cujos custos são partilhados entre os oito principais operadores turísticos nacionais.

"Faz confusão ao público esta operação ser assegurada por uma companhia estrangeira", notou o secretário regional de Turismo da Madeira na conferência de imprensa que decorreu no Funchal.


O presidente da APAVT adiantou que os seis voos 'charter' semanais que os operadores turísticos fretaram à Iberia e à Sata no verão "praticamente lotam a capacidade hoteleira" do Porto Santo, e lembrou que a TAP também anunciou para o destino uma operação com seis voos regulares por semana. Contas feitas, a oferta hoteleira do Porto Santo não é suficiente para todos estes voos. "Não sei se a TAP vai promover 'raves' na praia incluindo dormidas, ou se vai ter de cancelar voos", ironizou Pedro Costa Ferreira.

"As equipas comerciais da TAP que dialogavam com o 'trade' foram destruídas, há um vazio de interlocutores, e é um erro crasso da política da TAP em afastar-se do diálogo com os agentes de viagens, que permitiram à companhia ter quase 1000 milhões de bilhetes vendidos em 2019", apontou o responsável da APAVT.

Face ao exemplo do Porto Santo que caiu mal no mercado, Bernardo Trindade adianta ter sido "mandatado pela administração da TAP para intermediar a relação com os operadores turísticos ao mais alto nível, e fazer uma aproximação aos parceiros e às regiões para acertar a melhor forma de funcionamento".

"Inicialmente pode ter havido uma falha na comunicação, mas em função desse mau início queremos muito continuar a trabalhar com a operação turística, e corrigir o que numa determinada fase do processo possa ter acontecido", salientou.

Bernardo Trindade chama a atenção para o facto de "não estarmos a viver um período normal" e a companhia estar a enfrentar "um profundo processo de reestruturação para ser viável". E frisa que já esta semana "a TAP está disponível para sentar-se à mesa com a APAVT e encontrar pontos de diálogo". Em relação à próxima operação de verão para a Madeira, "vamos ver o que podemos fazer", salientou.

Relativamente à falta de interlocutores de que se queixam os operadores turísticos, Bernardo Trindade frisou que "as equipas que ficaram estão a fazer o melhor acompanhamento possível", e que apesar da ex-diretora comercial, Paula Canadas, se preparar para sair da TAP, continua de momento a "fazer um intenso trabalho" na companhia.

"Temos estado a trabalhar com outros pequenos operadores em 'allotments' para destinos marroquinos, Tunísia, Cancun, e também para o Porto Santo", refere Bernardo Trindade. "Vamos continuar a participar nas campanhas da Madeira, vamos restaurar tudo isto. E sem esquecer que a TAP é a única companhia que nunca falhou à Madeira" (Expresso, texto da jornalista Conceição Antunes)

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