Os socialistas querem pressionar os bancos a
cumprirem com os apoios e ameaçam com comissão de inquérito. Mas os partidos
não querem falar disso para já e, no CDS, fala-se mesmo em tentativa de
encontrar “bodes expiatórios” para esconder falhas do Governo. Oaviso do PS de
que pode avançar com uma comissão parlamentar de inquérito se os bancos
continuarem - segundo o deputado João Paulo Correia - a falhar no apoio às
famílias e empresas durante a crise não deixou os restantes partidos
particularmente entusiasmados. PSD e PCP preferiram não falar sobre o tema, o
Bloco de Esquerda chutou para canto, o CDS fala em manobra de diversão e apenas
o PAN se disse a favor da iniciativa - mas sugerindo que o PS estava apenas a
“correr atrás do prejuízo”. A ideia do PS é pressionar os bancos e deixar um
recado político anotado. Ao Expresso, o deputado socialista João Paulo Correia explica
o que esteve na base da ameaça feita durante as audições parlamentares aos
banqueiros. “Não se pode excluir a hipótese de um dia haver um inquérito a
estas entidades. Não sabemos como vamos sair desta crise”. E as desconfianças
parecem mais que muitas: “Fazendo fé nas respostas dadas, todos os casos de
queixas sobre dificuldades de acesso às linhas de crédito foram negadas pelos
bancos”... mas o PS não acredita que queixas que chegam “de todos os setores”
se resumam a “uma conspiração” contra a banca.
Perante as denúncias, que apontam que os
bancos estarão a colocar condições não previstas na lei para o acesso às linhas
de crédito, o tom é ríspido: o Estado está a dar garantias muito altas (a
partir de 80%) sobre estes empréstimos e os bancos têm de ser “rigorosos” e
“transparentes” na informação que dão ao Parlamento, até porque nos últimos
anos receberam “ajudas dos contribuintes”, lembra o deputado, em tom de aviso.
O resultado mais importante das audições a administradores do BCP (a quem tece
críticas mais duras, apontando uma posição “mercantilista”), Santander, BPI, CGD
e Novo Banco, destaca, foi a “confrontação” feita pelos partidos, que
“mostraram que existe um acompanhamento muito próximo”. O aviso está feito:
“Será muito difícil aos bancos continuarem a relacionar-se com as empresas como
no princípio”, até porque o Parlamento vai continuar atento a novas queixas. E,
se essa conduta não for alterada e os bancos não passarem a ser “fiéis
transmissores” do que o Estado decidiu atribuir em apoios às empresas, então
“não é de excluir” o novo inquérito parlamentar.
BE LEMBRA OUTRAS PRIORIDADES. CDS APONTA O
DEDO AO GOVERNO
Fonte oficial do Bloco de Esquerda admite
avaliar a hipótese de uma comissão de inquérito no futuro, mas recorda ao PS a
ordem de prioridades. “Este é o momento de garantir que a banca cumpre o seu
papel de financiar a economia, sem abusar da fragilidade em que se encontram
famílias e empresas”, nota a mesma fonte. Em declarações ao Expresso, Cecília
Meireles, do CDS, diz, com ironia, que “o PS está a propor uma comissão
parlamentar de inquérito ao próprio Governo”, uma vez que é o modelo definido
pelo Governo e a máquina do Estado”, não a banca, que “estão a falhar”. A
deputada democrata-cristã recorda, a propósito, o papel desempenhado pelas
Sociedades de Garantia Mútua (SGM) que prestam garantias em favor das pequenas
e médias empresas ou entidades representativas destas, cuja actuação tem sido
"totalmente inflexível", como criticou a bastonária da Ordem dos
Contabilistas Certificados, Paula Franco. Ora, estas SGM têm acionistas
públicos, como o IAPMEI, e é aqui que o Governo deve intervir, argumenta a
deputada. Cecília Meireles garante, mesmo assim, que não será pelo CDS que se
deixará de fazer uma comissão de inquérito, mas avisa: “Não contem connosco
para encontrar bodes expiatórios”. Já o PAN entende que o Governo deve negociar
com a banca uma solução de compromisso que não coloque em causa o esforço das
famílias e empresas durante a crise. Apesar de não deixar de considerar
"positiva" a possibilidade de se criar uma comissão de inquérito para
avaliar o atuação do sector, tal como sugeriu o PS na terça-feira, a líder parlamentar
do PAN entende que com essa solução estaríamos a "correr atrás do
prejuízo". Para o PAN, é preciso garantir que a banca não impõe uma dupla
penalização a reboque da moratória e limita a cobrança de juros e comissões no
âmbito das linhas de crédito às empresas. "Uma questão muito relevante e
que não podemos deixar de referir a este propósito, prende-se com o custo a que
a banca se vai financiar para a atribuição destes empréstimos. Segundo sabemos,
será a taxas de juro negativas, entre 0,75% e 0,5%. A ser verdade, pelas nossas
contas, estas operações financeiras poderão representar para a banca, no seu
conjunto, lucros superiores a 600 milhões de euros", diz Inês de Sousa
Real. O futuro dirá se a ameaça do PS se concretizará. Para já, são quase tudo
incertezas (Expresso)
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