sábado, abril 25, 2020

PS ameaça banca se não apoiar famílias e empresas (mas ainda não tem apoios para comissão de inquérito)


Os socialistas querem pressionar os bancos a cumprirem com os apoios e ameaçam com comissão de inquérito. Mas os partidos não querem falar disso para já e, no CDS, fala-se mesmo em tentativa de encontrar “bodes expiatórios” para esconder falhas do Governo. Oaviso do PS de que pode avançar com uma comissão parlamentar de inquérito se os bancos continuarem - segundo o deputado João Paulo Correia - a falhar no apoio às famílias e empresas durante a crise não deixou os restantes partidos particularmente entusiasmados. PSD e PCP preferiram não falar sobre o tema, o Bloco de Esquerda chutou para canto, o CDS fala em manobra de diversão e apenas o PAN se disse a favor da iniciativa - mas sugerindo que o PS estava apenas a “correr atrás do prejuízo”. A ideia do PS é pressionar os bancos e deixar um recado político anotado. Ao Expresso, o deputado socialista João Paulo Correia explica o que esteve na base da ameaça feita durante as audições parlamentares aos banqueiros. “Não se pode excluir a hipótese de um dia haver um inquérito a estas entidades. Não sabemos como vamos sair desta crise”. E as desconfianças parecem mais que muitas: “Fazendo fé nas respostas dadas, todos os casos de queixas sobre dificuldades de acesso às linhas de crédito foram negadas pelos bancos”... mas o PS não acredita que queixas que chegam “de todos os setores” se resumam a “uma conspiração” contra a banca.

Perante as denúncias, que apontam que os bancos estarão a colocar condições não previstas na lei para o acesso às linhas de crédito, o tom é ríspido: o Estado está a dar garantias muito altas (a partir de 80%) sobre estes empréstimos e os bancos têm de ser “rigorosos” e “transparentes” na informação que dão ao Parlamento, até porque nos últimos anos receberam “ajudas dos contribuintes”, lembra o deputado, em tom de aviso. O resultado mais importante das audições a administradores do BCP (a quem tece críticas mais duras, apontando uma posição “mercantilista”), Santander, BPI, CGD e Novo Banco, destaca, foi a “confrontação” feita pelos partidos, que “mostraram que existe um acompanhamento muito próximo”. O aviso está feito: “Será muito difícil aos bancos continuarem a relacionar-se com as empresas como no princípio”, até porque o Parlamento vai continuar atento a novas queixas. E, se essa conduta não for alterada e os bancos não passarem a ser “fiéis transmissores” do que o Estado decidiu atribuir em apoios às empresas, então “não é de excluir” o novo inquérito parlamentar.
BE LEMBRA OUTRAS PRIORIDADES. CDS APONTA O DEDO AO GOVERNO
Fonte oficial do Bloco de Esquerda admite avaliar a hipótese de uma comissão de inquérito no futuro, mas recorda ao PS a ordem de prioridades. “Este é o momento de garantir que a banca cumpre o seu papel de financiar a economia, sem abusar da fragilidade em que se encontram famílias e empresas”, nota a mesma fonte. Em declarações ao Expresso, Cecília Meireles, do CDS, diz, com ironia, que “o PS está a propor uma comissão parlamentar de inquérito ao próprio Governo”, uma vez que é o modelo definido pelo Governo e a máquina do Estado”, não a banca, que “estão a falhar”. A deputada democrata-cristã recorda, a propósito, o papel desempenhado pelas Sociedades de Garantia Mútua (SGM) que prestam garantias em favor das pequenas e médias empresas ou entidades representativas destas, cuja actuação tem sido "totalmente inflexível", como criticou a bastonária da Ordem dos Contabilistas Certificados, Paula Franco. Ora, estas SGM têm acionistas públicos, como o IAPMEI, e é aqui que o Governo deve intervir, argumenta a deputada. Cecília Meireles garante, mesmo assim, que não será pelo CDS que se deixará de fazer uma comissão de inquérito, mas avisa: “Não contem connosco para encontrar bodes expiatórios”. Já o PAN entende que o Governo deve negociar com a banca uma solução de compromisso que não coloque em causa o esforço das famílias e empresas durante a crise. Apesar de não deixar de considerar "positiva" a possibilidade de se criar uma comissão de inquérito para avaliar o atuação do sector, tal como sugeriu o PS na terça-feira, a líder parlamentar do PAN entende que com essa solução estaríamos a "correr atrás do prejuízo". Para o PAN, é preciso garantir que a banca não impõe uma dupla penalização a reboque da moratória e limita a cobrança de juros e comissões no âmbito das linhas de crédito às empresas. "Uma questão muito relevante e que não podemos deixar de referir a este propósito, prende-se com o custo a que a banca se vai financiar para a atribuição destes empréstimos. Segundo sabemos, será a taxas de juro negativas, entre 0,75% e 0,5%. A ser verdade, pelas nossas contas, estas operações financeiras poderão representar para a banca, no seu conjunto, lucros superiores a 600 milhões de euros", diz Inês de Sousa Real. O futuro dirá se a ameaça do PS se concretizará. Para já, são quase tudo incertezas (Expresso)

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