sexta-feira, abril 24, 2020

Nota: MRS e a comunicação social que dispensa esmolas governamentais

Marcelo Rebelo de Sousa está a receber hoje representantes da comunicação social para se identificar com a realidade financeira e económica de um sector que ele conhece bem, porque esteve activamente ligado a ele durante décadas. Acho que fez bem em chamar todos os envolvidos para saber a opinião de quem sabe e dispensa esmolas envergonhadas do governo de Costa, venham elas travestidas do que for.
Estes encontros em Belém surgem numa altura em que a comunicação social de uma maneira geral está agonizante - e a crise não poupa ninguém - o que não deixa de constituir um perigo, pois em períodos destes, de pandemia instalada nas nossas vidas, e com ela a ansiedade, a incerteza, a dúvida e o medo, o pior que nos poderia acontecer era termos meios de comunicação social a fechar uns a seguir aos outros e outros a assumirem a impossibilidade de noticiarem a verdade com verdade e de manterem as pessoas informadas com rigor nestes tempos de confinamento. E não entregues à bandalheira desregulada das redes sociais e do anonimato porco de quem não dá a cara nem assumir o que pensa, diz ou escreve. É um mundo nojento onde vale tudo.
A compra anunciada recentemente de 15 milhões de euros em publicidade antecipada, revela um desconhecimento deliberado daquelas que são as dificuldades concretas e mais específicas dos meios de comunicação socia, realidade que começou muito antes da pandemia se instalar na nossa sociedade.
Comprar antecipadamente publicidade é o mesmo que querer comparar uma formiga e um elefante, mesmo sabendo que há uma tremenda diferença entre ambos. Ou pensar que engana os outros quando procura demonstrar que tal como 2+2 não é igual a 4 um pedaço de barro vale o mesmo que ouro.
Ou seja, o governo não ajudou porra nenhuma. Comprou antecipadamente espaço como se de um adepto de camarote de um qualquer clube se tratasse. O que os meios de comunicação social precisam não é de esmolas para "amansar" o sector, mas antes de são medidas fiscais e de apoio financeiro que estabilizem as empresas e garantam a independência do sector num tempo perigoso em que os apetites de controlo e de manipulação ou condicionamento  da informação aumentam todos os dias, agravados ainda por gente esfomeada, escroques sem escrúpulos, que acha que é nestas alturas de ansiedade social, de dúvida, de medo, incerteza e de persistente incógnita quanto ao futuro que se podem comprar meios de comunicação social em saldo. Por isso os 15 milhões de euros de publicidade, num processo burocrático que será liderado pela ERC, apenas antecipam gastos que o Estado ia ter, obrigatoriamente, para poder comunicar institucionalmente com os cidadãos depois da pandemia ser neutralizada ou permitir pelo menos um regresso cauteloso da nossa economia.
Nada disso foi feito e os apoios são claramente deslocados da realidade, insuficientes, quiçá impróprios face ao momento do sector, pelo que é bom que MRS tenha tido esta iniciativa. Resta esperar pelos resultados desejados por todos para que a estabilidade regresse e os jornalistas possam com tranquilidade exercer a sua actividade sem qualquer constrangimento, dúvida ou sombras de instabilidade (LFM)

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