terça-feira, janeiro 19, 2016

Opinião: o patético das redes sociais e os jornalistas que têm sempre culpa de tudo...

Irrita-me esta tendência das redes sociais pendurarem uma pessoa apenas por causa da sua opinião.
Pior ainda quando indivíduos que falam de determinados assuntos para os quais não estão minimamente habilitados - limitando a ir a reboque do blá-blá das redes sociais ou das mesas dos cafés ou as uns "bitaites" que soam sempre bem à assistência... -  falam do alto do seu pedestal como se fossem sumidades na matéria.
O caso do ferry na linha Madeira-Continente, que muitos defendem, tem sido um campo imenso e fértil para a asneirada e para o ataque pessoal, sobretudo por parte dos defensores da introdução do barco custe o que custar, a soco e pontapé. Tão organizados e mobilizados que estão que até atacam jornalistas, sentem-se realizados enxovalhando jornalistas em público, responsabilizando-os pelo fracasso de determinados processos, quando na realidade estamos a falar apenas e só do respeito por opiniões diferentes. Ninguém se esquece que estamos a falar de uma linha que em situações normais, caso se mantenha o ano todo em funcionamento - algo que não acredito aconteça - implicará um prejuízo da ordem dos 5 a 6 milhões de euros anuais. Nenhuma empresa privada quer ser uma instituição de caridade para acumular tais perdas:
  • Onde estão os estudos de rentabilidade desta linha em concreto?
  • Quais os estudos de viabilidade da linha? Mostrem-nos publicamente, divulguem-nos. Quantos passageiros precisa um ferry de transportar ao longo do ano para ser rentável na linha da Madeira?
  • Qual o volume de carga a transportar ao longo do ano para que a aposta empresarial em causa se justifique?
  • Quais são os custos associados a esta operação - taxas, combustíveis, operações portuárias, etc - que a empresa eventualmente interessada não pretende pagar, e quem será a entidade a ter que assumir esses encargos eventualmente não imputáveis à referida empresa?
  • Quais os estudos comparativos existentes em matéria de transportes de passageiros e carga para situações semelhantes e para distâncias iguais?

Tratando-se de uma iniciativa privada ei-los que acham que os interessados devem ser obrigados a vir instalar-se na linha e que a RAM deve ser obrigada a fazer os fretes todos, possíveis e imaginários para que isso aconteça.  Até se inventa, até por via de políticos ditos com responsabilidades e tudo, situações ocorridas com o anterior armador espanhol, que não correspondem minimamente à verdade. Comparam-se alhos com bugalhos, tudo porque esses iluminados de pacotilha acham que o barquito dá votos. Não dá, nunca deu nem alguma vez dará.
Por mim se quiserem meter o barco que o façam. Se quiserem uma canoa, nada a opor. Se fosse empresário do sector nem uma bote de borracha colocava na linha não só porque a sua rentabilidade é nula, mas porque ninguém decide nada sem saber quais as cartas que estão em cima da mesa e se estamos ou não a jogar com um baralho falsificado. Salvo dois ou três meses de verão e de bom tempo no mar, tudo o resto é convera para idiotas engolirem.
Com o subsídio de mobilidade nas ligações aéreas, que nos colocam em Lisboa ou no Porto - não em Portimão, Setúbal, Sines ou Matosinhos - em 90 ou 115 minutos, pagando os madeirenses apenas 89 euros pela viagem e caso tenha sucesso - não sei como porque bem vistas as coisas o processo do avião cargueiro é uma espécie de "ferry dos céus"  já que tudo depende da rentabilidade de uma aposta que terá que ser apenas e só empresarial privada - a questão do avião cargueiro ligando a Madeira ao Continente, nos dois sentidos, transportando mercadoria, digam-me muito sinceramente que perspectivas de sucesso, considerando uma operação anual terá um ferry como o reclamado, sem que haja uma intervenção pública, leia-se um subsídio ou ajudas compensatórias?
À medida que um político ou um jornalista suscitam estes assuntos, de uma forma simples mas que convida as pessoas a meditarem sobre os mesmos, o bom senso dá lugar ao insulto e ao ataque pessoal. Aliás vivemos numa terra em que um cidadão qualquer passa de machão a panasca no intervalo entre uma bica e um copo de água ou é catalogado de corrupto e gatuno entre o ir mijar e o regressar à mesa da fofoca onde a maior surpresa é perceber que alguém diz bem de alguém. Que raio de novidade! Sempre foi assim, sempre funcionou assim.
Recentemente só porque num debate entre deputados-políticos e num programa de jornalistas o assunto foi abordado, e porque apareceram opiniões que não estavam em linha com as propostas dos apologistas do ferry, eis que os ataques aparecem céleres, injustos, precipitados, absolutamente intoleráveis nalguns casos, ataques que são, uns assumidos pelos seus autores, outros escondidos sob o anonimato de uns FDP que não têm a coragem nem a dignidade de darem o nome e de entrarem num debate com rosto e com a lisura que se exige. Vi jornalistas serem atacados, responsabilizados pelo pretenso fracasso de ideias, até com insinuações de estarem "feitos" com este com aquele, vi as respectivas famílias desses jornalistas e/ou políticos serem metidas ao barulho, em vez de respeitadas e mantidas à margem das divergências de opinião, vi jornalistas tratados como se fossem uns vendidos. Faz-me lembrar o futebol em que uma equipa que não ganha - ou porque tem um mau treinador ou porque os jogadores não marcam golos - isso é sempre por culpa dos sacanas dos jornalistas ou dos analistas e comentadores.
É nesta trampa, neste mundo de estrume que alguns cabrões se sentem bem e que as redes sociais, numa libertinagem crescente, se realizam.

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