quarta-feira, janeiro 27, 2016

Opinião: Edgar Silva culpado de coisa nenhuma

Acreditem ou não, fiquei extremamente triste na noite eleitoral de 24 de Janeiro. Enquanto que a vitória de Marcelo, talvez porque era mais do que esperada, não me surpreendeu, e por isso pouco ou nada me disse, o que se passou com Edgar  Silva entristeceu-me. Provavelmente porque concluo que foi injustiçado e os eleitores do PCP não foram solidários com ele como deviam.
Edgar Silva foi o menos culpado de tudo o que se passou. Aceitou a candidatura - provavelmente em situações normais teria recusado - como uma opção, um desafio, um serviço em prol de uma causa ideológica e partidária que sabe que pode contar com ele onde e quando for preciso - e não me venham com essa palhaçada dos candidatos presidenciais que, de repente, viram "independentes" da treta por simples toque de magia. Edgar é isso mesmo, um político de causas, persistente, teimoso, mas digno, coerente, respeitador e eficaz.
Não sou, todos o sabem, nem do PCP nem ideologicamente alguma vez andei próximo do PCP. Mas tenho respeito e consideração por Edgar Silva. Provavelmente pela sua coerência e por perceber, sempre percebi, que por ter sido um homem de causas e por ter estado sempre disponível para ocupar a primeira linha na reivindicação de situações justas para as pessoas, foi injustiçado. Não na Madeira que sabe ser justa para com os seus. E foi. Mas injustiçado pelo eleitorado do PCP a nível nacional, injustiçado por um partido que ele abraçou e que representa com a dignidade que se exige na política.
Edgar Silva, ao contrário do que possam alguns dizer, não saiu chamuscado em nada. Continua a ser uma mais-valia para o PCP, continua a ter possibilidades, caso queira, de uma carreira política nacional (que não acredito alguma vez tenha sido uma ambição pessoal), caso o partido dele precise e o chame. Mas, nesse caso, não pode limitar-se à ilha, à nossa ilha. Fora dela há quem não goste dos que que aqui nasceram e daqui são originários. Não vale a pena negar ou desvalorizar o que é uma evidência inquestionável.
Entre todas as razões apontadas por Jerónimo Sousa para explicar o desaire eleitoral nacional do PCP - e admito que a vitória quase dada como certa de Marcelo, o apelo ao voto útil sistematicamente feito por Nóvoa ao eleitorado comunista na lógica de uma longínqua 2ª volta e um desconhecimento da figura de Edgar Silva terão contribuído para o desfecho eleitoral - acrescento uma que o líder comunista obviamente não referiu, nem o poderia ter feito, mas que é factual: Edgar era da Madeira e esse era um "pecado" que ajudou a desvalorizar a sua candidatura.
Edgar Silva realizou uma campanha eleitoral assente na sua pessoa, cumprimentando, abraçando, sorrindo para todos e por tudo, afirmando-se como uma pessoa simples. Pelo menos foi esse o balanço que retive. Revelou-se um homem de causas, porventura com a necessidade de algumas adaptações a uma "arena" diferente e mais exigente, a começar pelo tipo de discurso, que bem poderia ter sido menos colado ao do PCP que não seria por isso que a candidatura se prejudicaria, e pela forma de comunicar.
Na Madeira sem grande campanha, sem grande esforço, ele teve o melhor resultado que o PCP alguma vez obteve. Julgo que ninguém acreditou que isso pudesse alguma vez acontecer - mais de 20 mil votos! - e de pouco ou nada servem as tentativas de comparação com a candidatura de José Manuel Coelho, em 2011, formalizada num outro contexto, numa outra conjuntura política e com factores políticos que não podem ser ignorados. A começar pelo facto de se ter tratado da recandidatura de Cavaco Silva e do facto das pessoas estarem fartas dele já no final do primeiro mandato.
Edgar Silva foi o 2º mais votado na Madeira com 22,414 votos que se "transferíveis para o parlamento regional dariam ao PCP uma dimensão parlamentar inimaginável. Um score eleitoral que convida o PCP na Madeira a discutir internamente muito e bem este tema, do espaço político, do espaço social e do espaço eleitoral nem sempre coincidentes. Os seus quase 20% são a provada de que os madeirenses, pondo de lado opções partidárias que não estiveram em cima das mesa, sabem apoiar os seus. Sei que há muita gente - e não digo isto como um chavão para entreter mais desatentos - que votou Edgar e nunca foi nem julgo que alguma vez venham a ser eleitores do PCP. Fizeram-no por isso mesmo, porque era preciso apoiar quem na Madeira aceitou participar numa campanha desgastante e injusta porque o confronto com alguns pesos pesados do mediatismo político nacional, era desigual e susceptível de gerar o que veio a acontecer em termos de resultados eleitorais. Também sei que há eleitores do PCP que na Madeira está frustrados e irritados com o comportamento dos seus correlegionários nacionais, já que Edgar Silva apenas venceu no concelho de Avis.
Edgar Silva não tem que se arrepender de nada, pode continuar de cabeça erguida, pode continuar a olhar de frente para tudo e para todos da mesma forma que o fazia antes, vai continuar a ser apoiado pelos seus, vai continuar a ser respeitado na política regional, vai certamente reocupar o seu espaço e o seu lugar no parlamento regional onde faz falta. Até pela forma como intervém, muito "sui generis", briguenta, irritadiça, mas que não é nem uma coisa nem outra, antes resulta de um método de intervenção muito próprio que não expressa irritação, apenas a convicção da defesa das suas causas (LFM)

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