terça-feira, maio 13, 2014

Futerbol: Kerlon e o “drible da foquinha”



“Era impossível tirar-lhe a bola sem fazer falta. O inventor do “drible da foquinha” ficou mundialmente conhecido não por driblar com os pés, mas sim com a cabeça.
Assim como o Clark Kent e o Super-Homem, poucas pessoas conhecem Kerlon Moura Souza, mas quase todos os brasileiros sabem quem é o “Foquinha”. A promessa do futebol, que surgiu nos escalões de formação do Cruzeiro, distinguiu-se por passar pelos adversários usando, literalmente, a cabeça. No campo, Kerlon era um jogador habilidoso, mas não era o seu talento com os pés que o tornava especial. A sua singularidade estava no “drible da foquinha”, o que na teoria não é nada inovador, já que se resume a fazer “toques” com a cabeça. Na prática, por outro lado, é um enorme desafio. Equilibrar a bola e passar entre os adversários em simultâneo requer muita habilidade. Mas, uma vez dominada a técnica, Kerlon descobriu que poderia driblar quem quisesse, pelo menos até sofrer uma falta. Nasceram, assim, duas identidades: Kerlon, o jogador, e “Foquinha”, o showman.
Quer na selecção brasileira (sub-17 e sub-20), quer no Cruzeiro, o artifício com a cabeça foi exaustivamente utilizado. O que era, no início, um show-off bonito de se ver, passou a ser um sinal de provocação aos olhos dos adversários. Deste modo, ao invés de simples faltas, o “Foquinha” começou a ser atacado em campo. Para os cruzeirenses, o brasileiro continuava a ser o herói dentro das quatro linhas, mas para os outros, era visto como o vilão do fair-play. O culminar da polémica deu-se no dia 16 de Setembro de 2007, durante um jogo na casa do Atlético Mineiro, a equipa rival do Cruzeiro. Ora, num derby onde os anfitriões estão a perder por 4-3, os ânimos já estão exaltados, e o drible do jogador (79 minutos) pareceu, aos atleticanos, uma atitude ofensiva. Por conseguinte, o agredido passou a ser agressor, gerando uma confusão generalizada no estádio, com direito à expulsão de um jogador do Atlético Mineiro. Desde então, o “Foquinha” desapareceu.
Algum tempo se passou, até Kerlon ser contratado pelo Chievo, em 2008 (onde participou em quatro jogos) e pelo Inter de Milão, no ano seguinte (não jogou nenhum jogo). As lesões e o aumento do peso fizeram com que o brasileiro decaísse gradualmente de rendimento. Entretanto, a reputação de promessa descia a pique e a sua outra identidade, bastante polémica, continuava desaparecida do mapa. Quatro longos anos se passaram até o “Foquinha” de outrora reaparecer, mas não da forma que os adeptos do Cruzeiro imaginavam. Foi na garrafa de um refrigerante japonês, criada em homenagem ao jogador quando este foi para o Japão, que a antiga estrela ressurgiu. Kerlon, por outro lado, ainda tentou repetir a sua famosa artimanha pelo Fujieda MYFC (terceira divisão nipónica), mas não conseguiu.
Hoje, a antiga promessa brasileira tem 26 anos e encontra-se nos Weymouth Wales, uma equipa de Barbados. O jogador é considerado, pelos brasileiros, um dos maiores flops do futebol actual, enquanto o “Foquinha” só vive nos registos  históricos” (texto do jornalista do Público Alexandre Richa, com a devida vénia) 
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