sexta-feira, julho 19, 2013

Crise política arrasa imobiliário


Segundo o Sol, instalou-se uma crise política nos últimos dias que faz pesar sobre o imobiliário uma ‘nuvem negra’. A tentativa de ganhar a confiança dos investidores e das empresas é destruída de um dia para o outro e o recuo no investimento é uma das consequências. Reis Campos, presidente da Confederação Portuguesa da Construção e Imobiliário - CPCI, revela que neste momento, podem estar em causa todos os esforços feitos para atrair investimento. «Medidas do Governo no sentido de criar incentivos fiscais, iniciativas diplomáticas para captar projectos de investimento, ou os sucessivos apelos aos empresários e investidores para assumirem riscos e apostarem no crescimento das suas empresas ou na reabilitação urbana e no mercado do arrendamento, são naturalmente prejudicadas pelo impasse a que o país foi sujeito», admite. Luís Lima, presidente da APEMIP - Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal, adianta também que esta crise destrói a confiança dos investidores, internos e externos. «O mais grave de qualquer crise política, como a que estamos a viver é, para os mercados, imobiliário incluído, a falta de confiança gerada, uma desconfiança que alastra até ao descrédito nas instituições. É mau para o ambiente que os mercados saudáveis exigem», alerta. Também Paulo Silva, director geral da Aguirre Newman e presidente da Associação de Empresas de Consultoria e Avaliação Imobiliária (ACAI) está preocupado com as consequências desta crise política. «A estabilidade política é importante para a criação de um ambiente de confiança ao desenvolvimento. Na actual conjuntura, em que o trabalho visa a redução do défice do Estado e alcançar um equilíbrio orçamental, a existência de um Governo dividido, não-alinhado em relação à estratégia, fragiliza-o e ao país. Não sendo bom para Portugal, não é bom para o imobiliário», resume.
Transacções vão cair de novo
O presidente da APEMIP revela que a principal consequência desta situação é a retracção dos investidores e até de simples interessados em adquirir imóveis. «Com o dramatismo mediático destas crises, as pessoas tendem a esperar para ver, assustadas quanto ao futuro. Há sectores, como o imobiliário, que entram em verdadeira estagnação. Contrariar isto é muito difícil, mas é indispensável, para a própria economia do país», salienta Luís Lima.
Reis Campos lembra ainda que a responsabilidade dos políticos é evitar a paralisação económica. «É inadmissível que actividades reconhecidas como imprescindíveis ao crescimento e ao emprego, como a construção e o imobiliário, tenham sido forçadas a um ajustamento violento, que levou à destruição, só no ano passado, de 394 mil postos de trabalho e ao encerramento de 13 mil empresas. Para, de um momento para outro, tudo voltar a ser posto em causa e podermos assistir a um derradeiro colapso», alerta.
Também Paulo Silva admite que a principal consequência da crise é a redução do registo de transacções, decorrente da falta de confiança dos agentes económicos, internos ou externos. «As consequências serão mais nefastas se tardar o restabelecimento de um quadro credível de estabilidade governamental e política, sendo certo que os investidores estrangeiros poderão ser mais exigentes quanto aos retornos requeridos para o investimento imobiliário em Portugal», adianta.
Decisões tomadas podem voltar à estaca zero
Luís Lima entende que a queda de um Governo tem sempre a desvantagem de fazer recuar assuntos que estão por concluir, e faz que decisões, mesmo consensuais entre governos e oposições, regressem à estaca zero. «Aconteceu isso quando caiu o Governo anterior, relativamente ao Arrendamento Urbano e à Reabilitação Urbana, situação que pode ocorrer de novo», refere o presidente da APEMIP. Paulo Silva entende que os acontecimentos recentes, que sublinham a impreparação política, «fazem-nos perder uma confiança conquistada com muito sacrifício. Não voltámos ao ponto de partida, mas seguramente andámos para trás alguns meses e esperamos que prevaleça o bom senso».
Para Reis Campos a questão não é a queda do Governo, é a credibilidade do país e a capacidade de honrar os compromissos que mais preocupa o sector. Alerta que a CPCI assinou com o Governo um ‘Compromisso para a Competitividade Sustentável’, com o objectivo de dinamizar o sector. «É essencial o acesso ao financiamento e o regular funcionamento da economia, que passa pela concretização de uma estratégia de crescimento, com um forte contributo do sector. Se isso não for garantido, o que acaba é o futuro imediato de Portugal», conclui Reis Campos.