quarta-feira, setembro 21, 2011

Não vem? E depois?




Espanta-me a reacção de Passos Coelho. Não pela decisão em si mesma – que não me surpreende – mas pela forma pomposa como anuncia e pelo que pretende transmitir nas entrelinhas, claramente cedendo à pressão mediática e “pintando” um facto político, tentando-o manipular a seu favor, mas sem deixar a ideia de que está refém das pressões externas.
A Madeira, particularmente a governação regional, sabe o que se passou, tem a consciência do que se passou. Sabemos todos quem é o elo mais fraco, quem tem a “faca-e-o-queijo-na-mão”. Mas humilhação não, nunca. Uma coisa é o buraco de 1000 milhões – quantos buracos surgiram no mesmo dia? Estradas de Portugal falida em 2012, 11.000 milhões de euros pagos por conta do buraco das SCUTs, três empresas públicas a pagarem mais de 700 milhões de euros de juros, etc) que o Governo Regional reporta a obras realizadas (seria bom que identificasse o rol de todas essas obras e respectivos valores, opara além da inevitável componente de juros)
Há uma coisa que Passos Coelho pensa, tal como Sócrates pensava: que se disser mal da Madeira se se mostrar duro com Jardim, ganha votos. Uma sondagem publicada pelo DN de Lisboa hoje deve ter animado Passos Coelho com os seus 43%, Cuidado com as ilusões e a vaidade autoconvencida. Mas deslumbrou-se provavelmente demasiado, porque coloca essa mesma sondagem coloca o CDS com 6% à porta do “desnecessário” e em vias de ser dispensado, porque Passos roça a maioria absoluta. Quem sabe se o CDS/PPO de Portas não estará a pagar pelo jogo duplo que protagoniza no que à Madeira diz respeito, quem sabe?
Eu compreendo que como primeiro-ministro Passos não se queira expor-se demasiado, vulnerabilizar-se ante a pressão da comunicação social ou a insistência de “opinion makers” que constituem um coro devidamente sintonizado e cuidadosamente composto. Admito que exista um cenário complicado, nesta altura, para Passos Coelho. Mas Passos é líder do PSD, um partido nacional com estruturas regionais próprias. Em última instância Passos acaba por ser também o líder nacional para o PSD da Madeira que, bem ou mal (goste ele ou não) governa a Madeira. Desconheço se Passos quer Tenho As minhas desconfianças. Talvez porque sei como funciona e é a política porca. É provável que ambicione essa derrota, não o assumindo publicamente, quiçá como ajuste de contas por coisas do passado, algumas delas pouco conhecidas. Espero é que dentro de curto prazo não venha a precisar da ajuda e da solidariedade política do PSD da Madeira, mas isso é coisa reservado destino. O que me intriga é este empolamento, esta especulação, quando Passos foi sondado, não por via do partido, mas pelas tais “pontes” que às vezes complicam e prejudicam mais do que devem. Nada mais do que isso. Há um Passos Coelho que é primeiro-ministro porque antes disso houve um Passos Coelho que foi líder do PSD, que presumo continue a ser líder do PSD, que prometeu muita coisa ao povo, mas que na realidade está a agravar a vida dos cidadãos, que persegue as pessoas, que dificulta as empresas, que aumentam impostos desalmadamente, corta salários, aumenta o custo de vida, etc. Se Passos Coelho se sente satisfeito com isso, tudo bem, problema dele. O que não quero que aconteça, embora nesta fase já nada me espante, é que Passos Coelho venha à Madeira a convite do seu parceiro de coligação Paulo Portas (por sinal muito elogiado na tal, entrevista)I para estar presente num comício de enceramento da campanha do CDS/PP. E finalmente um desabafo: espero sinceramente que, ante a situação existente, o governo da República não venha a usar as necessidades da Madeira e o programa de normalização financeira que será necessário, como formas de enxovalhar e humilhar os madeirenses. Já lhes basta o facto de estarem a pagar todos pela falência da anterior governação. Uma bota final: Passos Coelho irrita-se tanto com o que se passou na Madeira. Não vamos discutir isso. E o que se passou com as 675 facturas do Instituto do Desporto não é o mesmo, j que estamos a falar não de défice mas de procedimentos? Que resposta deu Passos a Seguro e às idiotices do novo líder do PS que se comporta em função das eleições regionais de 9 de Outubro? Que fez Passos Coelho quando governos do PSD – na altura em que ele andava na privada a tratar dos negócios – acabaram por ajudar a conduzir Portugal para a falência que obviamente não é culpa exclusiva de Sócrates, nem de Guterres, mas de todos os governos que passaram pelo poder em Portugal depois do 25 de Abril? Não me lembro de nenhuma crítica ao modelo de gestão orçamental e financeira seguido, para além das “histórias da carochinha” e de alguns arrufos, nos tempos a JSD, com Cavaco? Repito: acha Passos Coelho, quando o quadro está definido, quando a Madeira sabe o que terá que fazer, quando, repito, todos sabemos o estado em que se encontra o país, e, insisto, todos sabemos quem é o eixo mais fraco, fazer deste tema um caso político à escala em que ele está ou parece caminhar? (Luis Filipe Malheiro com ilustrações do inigualável Henrique Monteiro)

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