Ainda segundo a RTP, "com o anúncio no passado sábado de eleições legislativas e presidenciais no próximo mês de setembro, era esperada a demissão do governo de Salam Fayad. No horizonte perfila-se nova crise nos territórios palestinianos já que o Hamas anunciou não se sujeitar ao escrutínio nem respeitar o seu resultado. Fayad, entretanto reconduzido, foi encarregado de conseguir da formação de um novo governo.O vendaval político que teve o seu início na Tunísia, alastrou ao Egito, onde ao fim de 14 dias de manifestações populares nem sempre pacíficas, Hosni Mubarak se viu obrigado a demitir-se, passando o poder para as Forças Armadas. Estas anunciaram uma nova constituição e um novo regime para breve. Entretanto, o mesmo vendaval teve importantes ecos no Iémen e na Argélia, e não deixou de tocar a Autoridade Palestiniana e alertá-la para a necessidade de estabilizar o seu poder. No passado sábado, a direção da Fatah, partido do presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmud Abbas. anunciou eleições legislativas e presidenciais para o próximo mês de setembro. A Autoridade Palestiniana governa os territórios palestinianos à exceção da Faixa de Gaza – onde perdeu o controlo para os islamitas do Hamas, em 2007 após uma feroz guerra civil – numa clara e assumida tentativa de renovar a legitimidade enquanto os regimes egípcio e tunisino, a quem a Palestina estava muito ligada, entraram em colapso. Esta segunda-feira, o governo do primeiro-ministro Salam Fayad apresentou a sua demissão ao presidente da Autoridade Palestiniana Mahmud Abbas, que a aceitou, voltando a encarregar Salam Fayad de negociar com as várias fações palestinianas com vista à formação de um executivo que garanta a administração pública nos territórios palestinianos até às eleições anunciadas. O novo governo, de acordo com Mahmud Abbas, deverá ter como prioridade “a mobilização de todas as energias com vista ao estabelecimento de um Estado independente da Palestina no próximo mês de setembro”. “Estamos preparados para eleições legislativas e presidenciais logo que possível a partir de setembro e o próximo conselho legislativo e presidente decidirão o que querem, mas nós queremos eleições”, afirmou Mahmud Abbas. O presidente da Autoridade Palestiniana apelou aos islamitas radicais do Hamas “para se submeterem à vontade do povo”. O apelo já foi entretanto rejeitado liminarmente pela força política que controla a Faixa de Gaza e que rejeita qualquer mudança. “Qualquer que seja a mudança de pele do governo, ele permanecerá desprovido de legalidade jurídica, porque não é a escolha do povo e não obteve a confiança do conselho legislativo”, sublinha em comunicado o Hamas pela assinatura de Sami Abou Zouhri, porta-voz do movimento islâmico na Faixa de Gaza. Esta posição faz antever para o mês de setembro nova crise nos territórios palestinianos com as várias fações a não conseguirem um diálogo que permita acalentar o sonho de unidade num futuro Estado palestiniano. Se é verdade que a Fatah, partido do presidente da Autoridade Palestiniana e membro da Organização de Libertação da Palestina (OLP), recusa qualquer ligação das decisões agora anunciadas com o terramoto político no Egito e na Tunísia, lembrando que o presidente da Autoridade Palestiniana há meses que vinha já a anunciar a mudança no governo visando melhorar a sua ação política, o facto é que ele não terá sido completamente alheio se não à decisão pelo menos ao timing. Decisão a que também não terão sido alheias a demissão de Saeb Erekat o negociador-chefe da Organização de Libertação da Palestina (OLP) motivada pelas revelações pela Al Jazeera de documentos que mostram quais seriam as cedências a admitir pelos negociadores palestinianos e que contradiziam o discurso público e oficial. Enfim, efeitos internos e externos seriam a causa mais recente da demissão de um governo que já há algum tempo vinha sendo alvo de contestação política e popular e sujeito a acusações de disfuncionalidade".
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