terça-feira, fevereiro 08, 2011

Açores: ex-Secretária Regional da Educação explica porque que se demitiu

Li no Correio dos Açores, num texto do jornalista João Paz, que "para a ex-secretária da Educação e Formação, Lina Mendes, foi claro “antes quebrar que torcer”. Ela própria assume, em carta enviada aos conselhos executivos, que saiu “com coragem” do governo de Carlos César, obviamente para não ela aceder aos sindicatos no caso dos concursos de professores. A directora regional da Educação, Fabíola Cardoso, seguiu-lhe os passos e, apesar de convidada, não aceitou continuar por considerar que o seu projecto era o de Lina Mendes. A anterior secretária regional da Educação, Maria Lina Mendes, demitiu-se do governo de Carlos César por não concordar com a inflexão feita na cedência da realização dos concursos interno e externo de professores, numa clara atitude de “antes quebrar que torcer”. A ex-governante – por quem larga faixa da população açoriana nutria simpatia - afirmara, por várias vezes, que não faria o concurso de professores no respeito pelas regras estabelecidas pelo Orçamento e não esteve disposta a contrariar o que tinha dito. O facto é que, após a tomada de posse da nova secretária, Cláudia Cardoso, o governo anunciou a realização do concurso de professores numa clara cedência aos sindicatos. A carta de ‘cumprimentos de despedida’ que Lina Mendes envia aos conselhos executivos das escolas, que considera de “alta” importância e datada do dia 27 de Janeiro, é sintomática da personalidade forte da ex-secretária regional da Educação. Nesta missiva, Lina Mendes começa por informar as escolas: “Apresentei a minha demissão do cargo de secretária regional da Educação…”. Agradece a colaboração e manifesta apreço pelo trabalho que os órgãos de gestão das escolas “desenvolvem com responsabilidade e dedicação, procurando assegurar a contínua melhoria da qualidade do sistema educativo regional”. E, sobre a sua demissão, não fica qualquer dúvida, da firmeza com que decidiu deixar o governo: “Na vida há momentos para tudo. Tive coragem para assumir este cargo e tive igualmente coragem para sair. Saio porque entendo que este é o momento certo”. Explica que a sua forma de estar na política “foi sempre no sentido de servir os açorianos, trabalhando com responsabilidade, com consciência e determinação”.“Estive como independente e descomprometida de quaisquer outros interesses que não fossem contribuir para a educação e formação dos açorianos”, completa. Referiu-se, depois, à reunião do Conselho Coordenador do Sistema Educativo, programada para o próximo dia 14 de Fevereiro, para, “em conjunto com a Sr.ª Directora Regional da Educação, vos apresentar, tal como tinha sido nosso compromisso, o referencial do Curriculum Regional, as propostas de alteração; do Estatuto do Aluno, do Regulamento de Gestão e Administração Pedagógica dos Alunos, da Avaliação no Ensino Básico e ainda o Decreto Legislativo Regional da Saúde Escolar”. Lima Mendes informou, nesta carta, os conselhos executivos, que pretendia submeter as propostas à apreciação, para posterior debate nos órgãos de cada escola. Como exemplos de “medidas de desburocratização, com fortes implicações no funcionamento das escolas”, a ex-secretária regional da Educação apresentou “a eliminação dos relatórios de retenção individual dos alunos e de turma, enviados à IRE; dos planos para os alunos com excesso de faltas injustificadas, das declarações anuais de conhecimento e concordância do estatuto do aluno e regulamento interno, entre outras, bem como propor um código de conduta para os alunos matriculados nas nossas escolas e um prémio regional de mérito académico e cívico para os alunos”. “Na política, independentemente dos protagonistas, o que mais valorizo são os projectos que ficam”, completou, depois de manifestar satisfação pelo trabalho que desenvolveu.
“É preciso assumir com mais firmeza a autoridade nas escolas”
A antiga directora regional da Educação, Fabíola Cardoso, adoptou, um dia depois, o mesmo estilo, enviando uma carta aos conselhos executivos das escolas, sem se referir à demissão. Contudo, o ‘Correio dos Açores’ sabe que não aceitou continuar no cargo por considerar que o seu projecto era o de Lina Mendes. Nesta carta, Fabíola Cardoso diz saber “como é exigente” o cargo que os responsáveis pelos conselhos executivos ocupam e manifestou-se certa de que “continuarão a trabalhar com a seriedade e o empenho que os caracteriza”. “Não esquecerei o trabalho fantástico que muitas escolas e docentes realizam, marcando, verdadeiramente a diferença no percurso de vida dos alunos. Peço-vos que transmitem o meu reconhecimento pelo seu empenho e dedicação”, escreveu. Relembrou o desafio que diz ter lançado muitas vezes: “É preciso assumir, nas nossas escolas, de forma mais firme e determinada, a autoridade e a melhoria de resultados. Se cada agente educativo se sentir responsável por ambas, a começar pelos conselhos executivos, as nossas escolas poderão ser muito melhores e os nossos alunos muito mais competentes”. Diz ter visto, na mesma escola, meninos do pré-escolar a saírem da sua sala em fila e em silêncio, enquanto ao lado, outros do 1º ciclo, saíam desordeiramente. “É impossível resolver? Não. Dará trabalho e algum atrito, mas é absolutamente possível e necessário porque a autoridade não se decreta, conquista-se nos pequenos gestos diários”. Refere ter ouvido professores e membros de órgão de gestão das escolas básicas integradas a queixarem-se do comportamento dos alunos e da falta de competências básicas ao nível da leitura e da escrita. “Quando os alunos não têm NEE e não à escola, como se justifica que isso aconteça? É difícil, temos de agitar águas, mas é possível e necessário para o nosso sistema educativo”. “…Até ao momento da despedida, vos lanço estes desafios. Não tenho emenda, não é?”, questiona, por fim”.

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