sexta-feira, janeiro 14, 2011

A melhor profissão de Portugal? Ex-ministro

"Com o currículo que têm, chamar-lhes 'boys' seria ofensivo, mas uma coisa é certa: são vários os ministros que, após abandonarem os cargos, arranjam empregos em pouco tempo. Alguns até em áreas que tutelaram durante o período de governação."Quando saí do Governo tive vários convites para ir trabalhar." A frase é do ex-ministro de Cavaco Silva, Manuel Dias Loureiro, que admitiu em 2008 que os contactos que fez no mundo da política o "ajudaram" na vida empresarial que se seguiu. E de facto são vários os ex-governantes que ocuparam ou ocupam altos cargos de empresas, tanto no sector público como no privado. Os currículos de ministros e secretários de Estado mostram que o Governo é, por vezes, um trampolim para uma carreira de sucesso no sector empresarial. E não só. Uma prática corrente em todo o mundo, que cada vez ganha mais expressão no nosso país: as empresas querem rostos que se destacam e aproveitam os conhecimentos técnicos e os contactos ganhos.Seguindo os passos dos ministros que saíram dos últimos dezassete governos constitucionais, constata-se que 38 (uma média de dois por cada executivo) foram nomeados para cargos de destaque em pouco mais de um ano (ver infografia nas páginas seguintes). No Verão de 2009, ainda estava Manuel Pinho a recuperar da sua demissão - na sequência do gesto taurino que fez na Assembleia da República - quando a sua mulher recebeu uma chamada do empresário Joe Berardo. O ex-ministro estava ocupado, mas o empresário deu logo a notícia à cônjuge: se Pinho quisesse teria emprego na Fundação. Em Junho de 2010, Pinho viria a assumir a presidência de uma fundação, mas não a Berardo: a Arpad Szènes-Vieira da Silva. Não ficou muito tempo desempregado.
Pinho, que chegou a ser apelidado de "ministro das Renováveis", começou em 2010 a dar aulas na School of International and Public Affairs (SIPA) da Universidade Columbia, uma instituição que recebeu da EDP (empresa aliada do Governo na defesa das energias renováveis) cerca de 3 milhões de euros. Quem também encontrou emprego numa fundação, foi Maria de Lurdes Rodrigues - ex-ministra da Educação - que é desde 1 de Maio presidente da FLAD.
Do último governo também houve saídas para o sector público. O ex-ministro das Obras Públicas, Mário Lino, tornou-se presidente do Conselho Fiscal das companhias de seguros do grupo Caixa Geral de Depósitos. O valor do seu vencimento não foi divulgado, mas o seu antecessor ganhava 26 861 euros/ano. Lino é engenheiro civil, não tendo currículo na banca.
Mas não foi só no último executivo que os ministros conseguiram empregos de sucesso num ano. Na história da democracia portuguesa é, aliás, habitual (ver infografia). No último Governo PSD-CDS, o ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, António Mexia, terminou o mandato em 2005 e, no ano seguinte, foi escolhido para presidir a EDP, empresa na qual o Estado continua a ser um dos maiores accionistas. Antes de passar pelo governo, Mexia já contava com um vasto currículo na área da gestão de empresas, tendo ocupado cargos como CEO da Galp (durante quatro anos). Um ano foi também o tempo que o ministro da Economia do executivo de Durão Barroso, Carlos Tavares, demorou a voltar a um cargo público: em 2005 tornou-se presidente da CMVM (Comissão de Mercado de Valores Imobiliários). Carlos Tavares - que estudou na mesma faculdade que o ministro Fernando Teixeira dos Santos e com quem manterá boas relações - foi nomeado já durante o Executivo de José Sócrates. E se no caso de Tavares não há uma relação directa entre a pasta que tutelava e a empresa que acabou por presidir, são vários os casos de ministros que acabam por continuar ligados ao sector. Da pasta das Finanças para cargos na banca são vários os exemplos: Luís Campos e Cunha, para o Banif em 2006, Guilherme d'Oliveira Martins, para o BPN Efisa em 2003 (ambos de Governos PS), Miguel Cadilhe, para o BPA em 1990, e Miguel Beleza, para o Banco de Portugal em 1991, (ambos via governo PSD). Porém, muitas vezes, não são as transições mais repentinas que mais polémica provocam. Ferreira do Amaral, Pina Moura e Jorge Coelho são exemplo disso. O social-democrata Ferreira do Amaral porque negociou, enquanto ministro das Obras Públicas, a concessão da Ponte Vasco da Gama com a Lusoponte e, dez anos após sair do cargo (2005), tornou-se presidente da empresa. Já Joaquim Pina Moura - cinco anos após tutelar a pasta da Economia - foi nomeado para presidir a empresa espanhola da área da energia, Iberdrola. O caso gerou tantas críticas na opinião pública como a entrada de Jorge Coelho na Mota-Engil como CEO, sete após ter sido ministro do Equipamento Social do governo PS
" (pelos jornalistas do DN de Lisboa, Rui Pedro Antunes e Sónia Simões, com a devida vénia)

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