sábado, julho 24, 2010

Opinião: "Desemprego de jovens e investimentos absurdos" (Açores)

"É confrangedor assistir ao desespero dos jovens à procura de emprego, numa Região que começa a ser madrasta à semelhança do que aconteceu a duas ou três gerações antes de açorianos que tiveram de emigrar para o continente Americano. Um em cada 5 desempregados nos Açores é jovem com idade inferior a 25 anos. A situação agrava-se se pensarmos nos milhares de jovens que estão a concluir os seus cursos superiores quer na Universidade dos Açores quer em universidades nacionais. São centenas e centenas que nunca ficarão nos Açores e fazer carreira profissional na sua terra por não terem emprego. É uma verdadeira perda de talentos que tanta falta vai fazer no futuro desta Região. Os poucos empregos criados para jovens são de baixa qualificação e desajustados à formação especialmente destes jovens. A Região não criou riqueza suficiente para atingir outro patamar de desenvolvimento económico e criar emprego qualificado, apesar dos milhões e milhões investidos em grande parte em projectos não reprodutivos, para não dizer desastrosos e absurdos. Eis alguns exemplos.
As Termas da Ferraria foram requalificadas recentemente num investimento de 4,6 milhões. O governo adjudicou a uma empresa privada a sua exploração por 3.000 euros (sim três mil euros!) por ano, o que significa um período de retorno deste investimento de 1.433 anos. Um autêntico desperdício de fundos. A construção das Portas do Mar, que tinha um custo inicial estimado em 44,5 milhões de euros, acabou por ficar em 57 milhões. Uma derrapagem financeira que fica a dever-se ao seu mau projecto que provocou diversas alterações e trabalhos a mais. Mas a soma final poderá revelar ainda um maior buraco, já que o empreiteiro reclama mais 10 milhões. A acrescer ainda as obras para o abastecimento de combustíveis e a rampa, atinge assim este empreendimento a um valor superior a 70 milhões. Todos nós já percebemos que o período de retorno deste investimento é para aí de meio século. O projecto de construção de vias rápidas em S. Miguel, em regime de SCUT, vai implicar um custo de investimento superior a 400 milhões, a ser pago em prestações anuais de mais de 20 milhões, nos próximos 30 anos. Uma obra grandiosa e desajustada que até poderia ser um importante balão de oxigénio para a economia micaelense nesta conjuntura tão adversa, foi entregue a uma empresa espanhola que tudo leva de cá em termos de valor acrescentando, deixando muito pouco. O seu efeito reprodutivo durante os 4 anos da obra é diminuto. Outro absurdo! O governo decidiu construir rampas ro-ro em 6 portos (P. Delgada, V. Porto, Lajes Flores, Horta, Velas e S. Roque) num investimento de 10 milhões. Dá-se alvíssaras a quem alguma vez vir um barco de transporte de passageiros encostar de ré nestas rampas. Estão a servir de solário neste momento. Outro inqualificável desperdício de recursos. A autarquia da Praia da Vitória vai construir em 4 anos 11 pavilhões polidesportivos: 7 já estão concluídos, 2 em curso e ainda mais 2 arrancarão em breve. O objectivo é que cada freguesia tenha um pavilhão. Um luxo asiático! Se for a 300.000 cada pavilhão temos um investimento global de 3,5 milhões. Absurdo e com retorno económico quase nulo! Não havia outras prioridades? Isto para não falar dos célebres investimentos megalómanos das piscina olímpicas da Povoação e do complexo desportivo das Furnas, e da Açor Arena em Vila Franca do Campo, de retorno económico negativo, autênticos sorvedouros de dinheiros públicos agora até na sua manutenção, sem receitas e só custos. Com estes exemplos percebe-se perfeitamente que, dos milhões e milhões investidos, grande parte desapareceu sem criar valor acrescendo, sem criar riqueza, sem criar emprego. Foram importantes e avultados recursos financeiros desperdiçados por governantes e autarcas. O seu custo de oportunidade revela-se hoje elevadíssimo
" (por Luís Anselmo, no Correio dos Açores)

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