sábado, julho 24, 2010

Mulheres revoltadas com novas proibições do Hamas em Gaza

Segundo a SIC, "em Gaza, o governo islamista do Hamas decidiu proibir as mulheres de fumarem cachimbos de água em público. Segundo os radicais, é um comportamento imoral. As mulheres também estão proibidas de andar de mota, andar sozinhas na praia ou cortar o cabelo perto de homens e devem estar cobertas com o véu. Estas medidas aprovadas recentemente estão a provocar a revolta de muitas mulheres. Os agentes da polícia do Hamas em Gaza arrancam das bocas das mulheres os típicos cachimbos de água. Dizem que estes têm conotações sexuais. Tradicionalmente, as mulheres do Médio Oriente fumam as chamadas narguilas, tão livremente como os homens. No entanto, nos últimos dias os donos dos restaurantes e cafés da faixa palestiniana explicam às mulheres que se o permitirem serão levados à esquadra, multados e o Hamas encerrará os seus estabelecimentos.
Asmaa el Ghoul, jornalista palestiniana e activista pelos direitos das mulheres diz que "esta decisão penaliza as mulheres por fumarem com os cachimbos de água". Quanto aos homens "não lhes acontece nada", lamenta. "Isto é uma clara discriminação contra as mulheres. Esta directiva surge com outras leis que privam as mulheres de outras liberdades legítimas e que acentuam a desigualdade dos direitos entre homens e mulheres", disse em entrevista à SIC. O grupo islâmico Hamas fez um golpe de estado em Junho de 2007 e expulsou os nacionalistas laicos da al-fatah que dirigiam a autoridade palestiniana. Desde esse momento, mas especialmente nas últimas semanas, o governo do Hamas está a aprovar dezenas de medidas para "islamizar" a Faixa de Gaza.
Estão a distribuir gratuitamente vestidos e hijabs, os véus tradicionais, a milhares de mulheres e de jovens em todas as mesquitas de Gaza. Aya Rashi, uma crianca palestiniana diz querer "receber um veu tal como todas as outras raparigas e "vestir um hijab em conjunto". Todas as mulheres que trabalham nas escolas, nas universidades e nas instituições públicas têm de fazê-lo cobertas com o véu. 200 advogadas de Gaza tais como Zeinab el Ghunaimi são obrigadas a comparecer totalmente cobertas nos tribunais contrariamente ao que faziam no passado. Muitas delas estão descontentes e afirmam que para serem livres como mulheres não basta poderem votar.
"A situação actual das mulheres em Gaza é severa. Mesmo em termos de legislação não há dúvida que a mulher palestiniana ainda vive em injustica. O sistema legal não está totalmente desenvolvido para dar as mulheres os seus direitos", afirma Zeinab. As praias de Gaza são paradisíacas e quase totalmente virgens. Antigamente, nos anos 90, ainda se podiam ver mulheres em fato de banho nas suas águas, uma imagem que desapareceu com a chegada do Hamas ao poder. Agora qualquer mulher que caminhe sozinha na praia é imediatamente detida. Mas há mais medidas à parte das narguilas, nas lojas, os manequins nús foram retirados das montras, as mulheres não podem cortar o cabelo em barbearias junto a homens, nem andar de mota com eles. Qualquer casal que não seja marido e mulher é interrogado e obrigado a separar-se no caso de serem encontrados juntos na rua. A polícia persegue agora também os homossexuais e os casais suspeitos de manterem relações extra-conjugais. Na outra cara da Palestina, na Cisjordânia, o governo da autoridade nacional tem mulheres modernas que se vestem com calças de ganga e fumam narguila abertamente. É o caso da ministra do turismo e da antiguidade, Hulud Daibess, que não esconde a sua preocupação:
"O que se passa em Gaza afecta os aspectos básicos da vida quotidiana e impõe muitas restrições, especialmente às mulheres. É um retrocesso como palestinianos e como mulheres. Não o aceitamos. Eu acredito que se irão formar movimentos para combater estas novas restrições que o Hamas esta a impôr ao nosso povo em Gaza", revelou a ministra. Nas últimas semanas, grupos ainda mais radicais, relacionados com a Al-qaeda, lançaram uma bomba contra o edifício da Young Men Christian Association, incendiaram dois acampamentos da ONU, para crianças palestinias, aparentemente porque rapazes e raparigas brincavam juntos.
Gaza está a transformar-se num dos lugares mais integristas do planeta
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