Há momentos em que é mais fácil ter a coragem de reconhecer que alguma coisa não correu como se esperava do que insistir em pensar que tudo continua na mesma. Não continua. Para mim a porta fechou-se. A via continua "normalmente", a campanha eleitoral começou em força, as sondagens começam a proliferar, enfim, a realidade é esta, custe o que custar, doa a quem doer. Serei sempre um dos primeiros a lamentar, talvez por ter acreditado, proventura por acreditar demasiado, por não valorizar factos e pessoas, comportamentos e hábitos que acreditava facilmente neutralizáveis. O meu realismo, se quiserem o meu pragmatismo, fazem com que acredite que a porta se fechou. Lembro-me então de Francis Bacon ("Ensaios - Da Vingança"): "A vingança é uma espécie de justiça bárbara, de tal maneira que quanto mais a natureza humana se inclinar para ela, tanto mais a deve a lei exterminá-la. Porque a primeira injúria não faz mais que ofender a lei, ao passo que a vingança da injúria põe a lei fora do seu ofício. De certo, ao exercer a vingança, o homem iguala-se ao inimigo; mas, passando sobre ela, é-lhe superior; porque é próprio do príncipe perdoar. E tenho a certeza que Salomão disse: «É glorioso para um homem desdenhar uma ofensa». O que passou, passou, e é irrevogável; os homens prudentes já têm bastante que fazer com as coisas presentes e vindouras; não devem, portanto, preocupar-se com bagatelas como o trabalhar em coisas pretéritas. Não há homem que faça o mal pelo mal, mas apenas na perseguição do lucro, do prazer ou da honra, etc. Porque hei-de ficar ressentido com alguém, apenas pela razão de que ele mais ama a si próprio do que a mim? E se alguém me fez mal, apenas por pura maldade, então, esse é unicamente como a roseira e o cardo que picam e arranham apenas porque não podem de outra forma proceder. A espécie mais tolerável de vingança ainda é aquela que vai contra ofensas que na lei não encontram remédio; mas, por isso, acautelai-vos, investigando se realmente não haverá para cada ofensa uma punição legal; caso contrário, o vosso inimigo ganhará vantagem, porque aliado à lei, terá dois votos contra vós. Alguns, quando exercem vingança, desejam que a pessoa saiba donde partiu o golpe. Isso é mais generoso, porque o prazer parece estar não tanto em arremessar o golpe como em obrigar o inimigo a arrepender-se, mas os covardes, baixos e vis, são como a seta que voa na escuridão".
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