terça-feira, fevereiro 06, 2024

Esquerda dividida na Madeira: “Isto não é a excursão do Monte” com Cafôfo à frente

Paulo Cafôfo quer reeditar a estratégia que, em 2013, o levou a ganhar a Câmara do Funchal à frente de uma coligação alargada de partidos da oposição. Os socialistas estão a preparar-se para um cenário de eleições antecipadas na Madeira, mas os antigos aliados não esquecem a forma como terminou a “Mudança”, com o afastamento de Gil Canha, um dos denunciantes que levou o Ministério Público a investigar a corrupção na Madeira. Os socialistas clamam por eleições antecipadas na Madeira há vários dias e Paulo Cafôfo, o líder do PS-Madeira, não perde uma oportunidade para trazer o assunto ao debate. Fê-lo em conferências de imprensa na sede do partido – algumas com cartazes de “Eleições Já” - e no fim da audiência com o representante da República. E foi no Palácio de São Lourenço que admitiu que está a dialogar com outros partidos da oposição uma frente alargada para ir a votos nas regionais. Um cenário em cima da mesa desde que a investigação de corrupção levou à demissão do presidente do governo regional Miguel Albuquerque

O cabeça de lista dessa frente de partidos de oposição seria o próprio Paulo Cafôfo, mas, pelo menos por enquanto, a proposta não cativou. “Isto não é a excursão do Monte [passeio típico na Madeira], em que vamos todos contentes num passeio” - Edgar Silva, o líder dos comunistas madeirenses, não assina cheques em branco, seja antes ou depois das eleições. E quem quiser negociar terá de apresentar propostas concretas que resultem em benefício da população, mas primeiro o povo terá de votar e fazer escolhas.

Roberto Almada é o deputado único do Bloco de Esquerda no parlamento regional e esteve numa reunião rápida com o líder dos socialistas onde se discutiu a posição em relação à moção de censura ao governo, que continua marcada para 7 de Fevereiro. “Foi apenas disso que tratamos, dissemos que iríamos votar a favor. Somos a favor de devolver a palavra ao povo e de eleições antecipadas. Integrar uma coligação pré-eleitoral é diferente. A minha opinião é que cada um deve ir a eleições sozinho", diz ao Expresso.

Nem o PCP, nem o BE estão disponíveis para integrar essa frente. Também do lado do Juntos Pelo Povo o interesse é pouco, nem sequer para acertar posição em relação à moção de censura houve disponibilidade para dialogar com o PS. Élvio Sousa, o secretário-geral do partido que tem cinco deputados na Assembleia Legislativa Regional, deixou claro que não gostava da agitação dos socialistas, da imagem que estavam a passar de “ir com muita sede ao pote”.

Apesar da falta de entusiasmo, Paulo Cafôfo não desiste e até já tentou uma aproximação ao PAN, o partido com o qual o PSD tem um acordo de incidência parlamentar e que, até ver, continua de pé. A questão é que o actual líder do PS-Madeira acha possível reeditar a estratégia que o levou a ser presidente da Câmara do Funchal, mas passaram 10 anos e os outros partidos da oposição não esquecem a forma como essa frente terminou, sobretudo como aconteceu a rutura com os vereadores eleitos na sua lista.

Paulo Cafôfo fez história em 2013 ao ser eleito presidente da Câmara do Funchal como cabeça de lista de uma coligação que incluía Gil Canha, um dos denunciantes que levou o Ministério Público à investigação da corrupção na Madeira. Era, nessa altura, uma das vozes mais críticas do regime de Alberto João Jardim e o estratega da campanha de Cafôfo, mas durou menos de seis meses como vereador. O pretexto para o afastar foi uma manifestação dos trabalhadores da Quinta do Lorde, um hotel sob qual pendiam suspeitas de irregularidades na construção, denunciadas pelo próprio Gil Canha.

O então presidente da Câmara do Funchal terá chamado o vereador e dito que a autarquia não podia ser envolvida nessas polémicas e, por isso, a saída era demitir-se. Gil Canha demitiu-se de facto e, com ele, saíram mais vereadores. Hoje, Gil Canha, que denunciou o negócio de venda da Quinta do Arco de Miguel Albuquerque a um fundo que depois o arrendou ao Grupo Pestana, é um dos mais críticos do líder dos socialistas madeirenses, que diz não ser diferente do PSD (Expresso texto da jornalista Marta Caires)

Sem comentários: