quinta-feira, fevereiro 03, 2022

Nota: deambulações pós-eleitorais


Eu não sei qual será o futuro do CDS, se este partido está ou não moribundo ou se já morreu devido a uma alegada submissão eleitoral face ao PSD que não ocorreu no País e que nunca poderia ter acontecido nos moldes em que ocorreu nas Regiões Autónomas, numa foi copiosamente derrotada (Açores) e noutra (Madeira) ficou tudo na mesma e ainda perdeu votos.

O CDS nacional chegou depois de 30 de Janeiro a um ponto perigoso de degradação política, quando ficou fora do parlamento permitindo que alguns, provavelmente com excesso, falem da desnecessidade absoluta de um partido histórico de direita, surgido em 1974, mas que é vítima da sua incompetência para resistir e responder à pressão de novos partidos que partilham a mesma área social e eleitoral de influência do CDS! Em certa medida passa-se o mesmo com o PSD que se revela incapaz de parar a fuga de quadros, a conquista de novos militantes, de travar a pressão política e eleitoral sobretudo da Iniciativa Liberal em claro crescimento feito à custa da perda de eleitores do PSD (admito que também o Chega beneficie disso).

A tudo isto, há que referi-lo, acresce o perfume do poder e a mais-valia, eleitoral e política que o poder propicia a partidos que lá estão, sobretudo quando a governação, apesar de não ser nada de especial, também não tem estado rodeada de polémicas. Acresce que a queda do anterior governo de Costa e do seu OE-22, acabou por gerar um sentimento de pena junto de sectores importantes do eleitorado que optaram por dar uma nova oportunidade a quem foi destronado do poder naquelas circunstâncias aventureiristas que PCP e Bloco agora, hipocritamente, tentam passar para terceiros.


Eu acho desonesto, politicamente falando, haver quem pretenda no actual quadro, e sem que os dois partidos possam debater o assunto e decidir sobre o mesmo, sobre se a Madeira terá pela primeira vez em regionais, uma coligação pré-eleitoral, se isso é a melhor solução, se uma coligação pós-eleitoral poderá ser a melhor, etc. A coligação no caso das legislativas foi derrotada e portanto perdeu os seus propósitos, pintem agora da cor que entenderem o desfecho eleitoral regional. Da coligação nada resultou de concreto.

Eu não tenho opinião neste momento sobre o tema. Nada disse contra a coligação nas autárquicas-21 no Funchal - achei que a coligação devia limitar-se ao Funchal e a mais nenhum outro concelho. Tive-a nas legislativas-22, fui contra, não me arrependo e não tiro uma vírgula ao que escrevi, achei uma tristeza que dois partidos de poder, só pelo medo de resultados menos positivos, acabassem por se refugiar numa coligação pré-eleitoral para legislativas nacionais, opção que se revelou um fracasso.


Como não acredito que nem Albuquerque nem Barreto queiram ficar para a história como os coveiros do PSD-M e do CDS-M, concorrendo na lista dos incompetentes derrotados com o impreparado e ridículo Chicão, esse sim, o coveiro do CDS parlamentar mas não do CDS propriamente dito.

Continuo a pensar que essa realidade não impede que uma nova liderança - seja ela qual for terá 4 anos para recuperar, um prazo demasiado dilatado que também não ajuda potenciais candidatos ao CDS ou a qualquer outro partido - possa recuperar pelo menos uma parte dos estragos causados pelo Chicão. Mas há que dizê-lo, a queda do CDS começou com Cristas e não com Chicão que apenas deu continuidade ao "desaparecimento" parlamentar do partido.

Mas também não sei o que vai acontecer ao PSD nacional. Hoje estou convencido que o PSD-M, mantendo uma certa pasmaceira, não ganha eleições sozinho, por que vive ainda algo parado na teoria de 2015 de que há os "bandidos" - os tais que bem ou mal, com erros e virtudes, deram  40 anos de vitórias eleitorais ao PSD-M, sem precisar de bengalas - e os "bonzinhos" que chegavam à politica caídos de para-quedas, trazendo com novas ideias, uma aragem diferente, etc, e que isso seria suficiente. Basta verem os resultados. Esqueceram-se de uma coisa: na política ou se ganham eleições e se conquista o apoio das pessoas, ou a porcaria será bem pior do que a que criticavam.


E os erros de 2015, muitos deles com repercussões graves na dinâmica e projecção do partido no terreno, junto das pessoas,  como constatamos facilmente, continuam bem presentes.

Afinal, o que fez o PSD-M pós-Jardim em termos eleitorais?

  • 2015 - regionais, vitória com 56.569 votos, 44,4% e 24 deputados
  • 2015 - legislativas, vitória com 47.228 votos, 37,8% e 3 mandatos (em seis, PS elegeu 2 e Bloco 1)
  • 2017 - autárquicas, PS vencedor a nivel nacional, PSD vencedor na Madeira com 33,6% e pouco mais de 46 mil votos (votação de 54,1%). O PSD-M apenas conquistou 3 das 11 câmaras municipais
  • 2019 - regionais, vitória com 56.448 votos, 39,4% e 21 deputados, perdendo pela primeira vez em regionais a maioria absoluta! A coligação com o CDS (8.246 votos, 5,8% e 3 deputados foi a garantia de preservação do poder).
  • 2019 - legislativas, vitória com 48.231 votos, 37,2% e 3 mandatos, os mesmos do PS que obteve 43.373 votos, 33,4%.
  • 2019 - europeias, vitória do PSD com  36.928 votos, 37,2%, elegendo uma deputada na lista nacional que caracteriza este modelo eleitoral a precisar de urgente renovação e descentralização
  • 2021 - autárquicas, PS vencedor nacional. PSD-M com 16.162 votos e 11,5% sozinho mais 31,46 % e 44.258 votos numa coligação com o CDS cujo impacto eleitoral na realidade, em termos de mais-valias para o PSD-M ninguém consegue garantir seja o que for. Muito menos depois das legislativas de 2022... O PSD-M conquistou apenas 4 Câmaras municipais mais uma em coligação com o CDS (Funchal)
  • 2022 - legislativas, vitória em coligação com o CDS com 50.634 votos, 39,8% e 3 deputados, os mesmos do PS que totalizou 40.004 votos, 31,5% (LFM)

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