Quem é contagioso, quem é imune, quem está em
risco? É preciso aceitar que ainda não se sabe tudo sobre a covid-19 e que isso
pode atrasar o alívio das medidas restritivas. Em Portugal como no resto do
mundo. E ao terceiro período de Estado de Emergência, eis que sobem de tom os
pedidos de regresso à vida, aos negócios, aos cafés, às ruas. E eis que sobre
eles continuam a pairar as dúvidas, algumas práticas, sobre a forma de conter a
propagação do SARS-CoV-2. Das dúvidas que a pandemia de covid-19 tem trazido,
já sabemos que o distanciamento social e as máscaras vieram para ficar e que, a
menos que a vacina apareça antes do previsto, o vírus nunca estará realmente
controlado. “Vai-se controlando”, explica a diretora-geral da Saúde, Graça
Freitas. Porém, mesmo para esse gerúndio, há três
dúvidas científicas que podem servir de bloqueio ao regresso a uma normalidade
possível. Estão as três relacionadas menos com as especificidades do vírus e mais
com a forma como as pessoas interagem com ele e entre si.
QUEM É CONTAGIOSO?
A pergunta parece de resposta simples: é contagioso
quem está doente. A dúvida, porém, é saber quem se inclui no grupo. “O
verdadeiro desconhecido nisto, para ser completamente transparente, é a
disseminação assintomática”, confirma Deborah Birx, coordenadora do grupo de
trabalho da Casa Branca para a covid-19, citada pela agência Associated Press
(AP). No mesmo sentido, Anthony Fauci, diretor do Instituto de Alergias e
Doenças Infectocontagiosas dos EUA, estima que entre 25% a metade dos norte-americanos
infetados não tenham qualquer sintoma. No caso português, os epidemiologistas
do britânico Imperial College estimam um valor acima, a rondar os 80%.
Covid-19. Máscaras: Soluções de pano vão
passar a ser o novo normal
As máscaras caseiras estão para ficar. Será
como usar o cinto de segurança, dizem os médicos. Mas qual é o melhor material
para fazer uma em casa?
A resposta a nível internacional tem sido a
dos testes. Testando é possível saber quem está infetado, mesmo sem sintomas.
Mas os testes não resolvem tudo, por dois motivos: o primeiro é que estar
negativo num dia não significa continuar negativo no dia seguinte, ou dois dias
depois, o que torna a questão logística do número de testes um problema menor,
perante a impossibilidade de eles darem respostas definitivas. O segundo motivo
é que não se sabe quanto tempo demora a que alguém infetado transmita a doença.
E esse é talvez um dos motivos mais fortes para que as máscaras se mantenham e
se juntem ao distanciamento social.
Por enquanto, acumulam-se evidências de que os
assintomáticos podem transmitir covid-19. Essa é uma das diferenças deste para
outros coronavírus conhecidos — na pneumonia atípica (síndrome respiratória
aguda grave, SARS na sigla inglesa) de 2003, também causada por um coronavírus,
os pacientes assintomáticos não transmitiam o agente infeccioso.
QUEM É IMUNE?
Imunidade é palavra relevante no léxico da
pandemia, mas também sobre ela pairam dúvidas científicas, que dificultam o
regresso à vida.
Apesar de alguns casos de reincidência, corpos
curados que depois voltaram a alojar o vírus, é assumido que o contacto com o
SARS-CoV-2 garante alguma imunidade. Mas quanta? E durante quanto tempo? E ela
é maior ou menor consoante a gravidade da infeção?
Esta palavra vai ser das mais importantes nos
próximos meses: imunidade. Falemos então sobre isso (e também sobre curvas)
Os gráficos sobre a covid-19 mostram que há
muitos países com uma curva de casos que começa a apresentar uma forma mais
reta (e isso é bom) mas “evitar novos focos” deve ser a principal preocupação
de todos. E há uma questão-chave para “a segurança da população”: a imunidade
É aqui que entram os testes serológicos,
iniciados esta terça-feira pelo Hospital de Santa Maria, em Lisboa. Portugal
tem nesta altura 30 tipos de testes serológicos em laboratórios públicos e
privados e os especialistas acreditam que a conciliação dos testes de rastreio
e dos de imunidade é a chave para ir aliviando as medidas restritivas. Os
primeiros confirmam quem está infetado, mas são os segundos que permitem
perceber quem tem anticorpos e qual o grau de exposição ao coronavírus.
Os investigadores do Instituto Ricardo Jorge
já alertaram que ter anticorpos não significa estar livre da doença, mas é a
repetição dos testes ao longo do tempo que ajudará a perceber o nível de
imunização ao fim de alguns meses. É, até à tão aguardada vacina, a grande
esperança para um dia-a-dia mais próximo da normalidade e do regresso dos
contactos sociais.
QUEM ESTÁ EM RISCO?
Referem-se quase sempre como grupos de risco
os idosos acima dos 70 anos e todas as pessoas com antecedentes de infeções
pulmonares ou outras doenças, como a diabetes. Mas não são já inéditas as
histórias de jovens e crianças infetadas, algumas das quais em situação
delicada e outras acabando mesmo por morrer. Em Portugal, há até esta
quarta-feira 1.008 casos confirmados da doença em crianças e jovens com menos
de 20 anos. Não há qualquer morte registada por covid-19 nessas idades.
O que não altera o problema, exposto por
Anthony Fauci também à AP. “Algumas pessoas saem-se extremamente bem e outras
caem completamente”, afirmou, acrescentando que a possibilidade de sofrer com a
doença está para lá “de apenas idade e condição subjacente”.
Como perceber então o que gera reações
agressivas em pessoas jovens e sem problemas de saúde? Não há resposta, por enquanto.
Tê-la permitirá que os médicos direcionem esforços, mas por agora as poucas
hipóteses avançadas não vão além disso mesmo: hipóteses. Uma delas é a de que a
genética tenha algum efeito na chamada “tempestade de citocinas”, isto é, na
resposta desregulada do sistema imunológico à infeção. Já há quem esteja a
tentar encontrar respostas, como este banco genético que está a ser usado por
15 mil cientistas (Expresso)
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