sábado, abril 25, 2020

Três dúvidas que vão dificultar o regresso à vida - quem é contagioso, imune ou está em risco


Quem é contagioso, quem é imune, quem está em risco? É preciso aceitar que ainda não se sabe tudo sobre a covid-19 e que isso pode atrasar o alívio das medidas restritivas. Em Portugal como no resto do mundo. E ao terceiro período de Estado de Emergência, eis que sobem de tom os pedidos de regresso à vida, aos negócios, aos cafés, às ruas. E eis que sobre eles continuam a pairar as dúvidas, algumas práticas, sobre a forma de conter a propagação do SARS-CoV-2. Das dúvidas que a pandemia de covid-19 tem trazido, já sabemos que o distanciamento social e as máscaras vieram para ficar e que, a menos que a vacina apareça antes do previsto, o vírus nunca estará realmente controlado. “Vai-se controlando”, explica a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas. Porém, mesmo para esse gerúndio, há três dúvidas científicas que podem servir de bloqueio ao regresso a uma normalidade possível. Estão as três relacionadas menos com as especificidades do vírus e mais com a forma como as pessoas interagem com ele e entre si.

QUEM É CONTAGIOSO?
A pergunta parece de resposta simples: é contagioso quem está doente. A dúvida, porém, é saber quem se inclui no grupo. “O verdadeiro desconhecido nisto, para ser completamente transparente, é a disseminação assintomática”, confirma Deborah Birx, coordenadora do grupo de trabalho da Casa Branca para a covid-19, citada pela agência Associated Press (AP). No mesmo sentido, Anthony Fauci, diretor do Instituto de Alergias e Doenças Infectocontagiosas dos EUA, estima que entre 25% a metade dos norte-americanos infetados não tenham qualquer sintoma. No caso português, os epidemiologistas do britânico Imperial College estimam um valor acima, a rondar os 80%.
Covid-19. Máscaras: Soluções de pano vão passar a ser o novo normal
As máscaras caseiras estão para ficar. Será como usar o cinto de segurança, dizem os médicos. Mas qual é o melhor material para fazer uma em casa?
A resposta a nível internacional tem sido a dos testes. Testando é possível saber quem está infetado, mesmo sem sintomas. Mas os testes não resolvem tudo, por dois motivos: o primeiro é que estar negativo num dia não significa continuar negativo no dia seguinte, ou dois dias depois, o que torna a questão logística do número de testes um problema menor, perante a impossibilidade de eles darem respostas definitivas. O segundo motivo é que não se sabe quanto tempo demora a que alguém infetado transmita a doença. E esse é talvez um dos motivos mais fortes para que as máscaras se mantenham e se juntem ao distanciamento social.
Por enquanto, acumulam-se evidências de que os assintomáticos podem transmitir covid-19. Essa é uma das diferenças deste para outros coronavírus conhecidos — na pneumonia atípica (síndrome respiratória aguda grave, SARS na sigla inglesa) de 2003, também causada por um coronavírus, os pacientes assintomáticos não transmitiam o agente infeccioso.
QUEM É IMUNE?
Imunidade é palavra relevante no léxico da pandemia, mas também sobre ela pairam dúvidas científicas, que dificultam o regresso à vida.
Apesar de alguns casos de reincidência, corpos curados que depois voltaram a alojar o vírus, é assumido que o contacto com o SARS-CoV-2 garante alguma imunidade. Mas quanta? E durante quanto tempo? E ela é maior ou menor consoante a gravidade da infeção?
Esta palavra vai ser das mais importantes nos próximos meses: imunidade. Falemos então sobre isso (e também sobre curvas)
Os gráficos sobre a covid-19 mostram que há muitos países com uma curva de casos que começa a apresentar uma forma mais reta (e isso é bom) mas “evitar novos focos” deve ser a principal preocupação de todos. E há uma questão-chave para “a segurança da população”: a imunidade
É aqui que entram os testes serológicos, iniciados esta terça-feira pelo Hospital de Santa Maria, em Lisboa. Portugal tem nesta altura 30 tipos de testes serológicos em laboratórios públicos e privados e os especialistas acreditam que a conciliação dos testes de rastreio e dos de imunidade é a chave para ir aliviando as medidas restritivas. Os primeiros confirmam quem está infetado, mas são os segundos que permitem perceber quem tem anticorpos e qual o grau de exposição ao coronavírus.
Os investigadores do Instituto Ricardo Jorge já alertaram que ter anticorpos não significa estar livre da doença, mas é a repetição dos testes ao longo do tempo que ajudará a perceber o nível de imunização ao fim de alguns meses. É, até à tão aguardada vacina, a grande esperança para um dia-a-dia mais próximo da normalidade e do regresso dos contactos sociais.
QUEM ESTÁ EM RISCO?
Referem-se quase sempre como grupos de risco os idosos acima dos 70 anos e todas as pessoas com antecedentes de infeções pulmonares ou outras doenças, como a diabetes. Mas não são já inéditas as histórias de jovens e crianças infetadas, algumas das quais em situação delicada e outras acabando mesmo por morrer. Em Portugal, há até esta quarta-feira 1.008 casos confirmados da doença em crianças e jovens com menos de 20 anos. Não há qualquer morte registada por covid-19 nessas idades.
O que não altera o problema, exposto por Anthony Fauci também à AP. “Algumas pessoas saem-se extremamente bem e outras caem completamente”, afirmou, acrescentando que a possibilidade de sofrer com a doença está para lá “de apenas idade e condição subjacente”.
Como perceber então o que gera reações agressivas em pessoas jovens e sem problemas de saúde? Não há resposta, por enquanto. Tê-la permitirá que os médicos direcionem esforços, mas por agora as poucas hipóteses avançadas não vão além disso mesmo: hipóteses. Uma delas é a de que a genética tenha algum efeito na chamada “tempestade de citocinas”, isto é, na resposta desregulada do sistema imunológico à infeção. Já há quem esteja a tentar encontrar respostas, como este banco genético que está a ser usado por 15 mil cientistas (Expresso)

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