domingo, março 10, 2019

Nota: mais vale não ter ídolos mas perceber que não deve nada a ninguém


Não é nada pessoal, pelo contrário. Mas confesso que apanhei um "susto" - mas ao mesmo tempo fiquei estupefacto - ao ler o título da entrevista que a jovem médica socialista concedeu hoje ao DN local. A candidata do PS-M às europeias - indicada depois de um estranho processo de escolha que, espero eu, um dia possamos ficar a conhecer devidamente, depois de desvendado em todos os seus contornos (repito, não pela pessoa em si, que nem conheço nem nunca ouvira falar na política regional, mas porque parece que não foi nem a primeira, nem a segunda, nem mesmo a terceira escolha, a que se junta o facto de uma nula actividade política no PS-M e um também nulo envolvimento partidário no PS, algo que me foi confirmado por fonte socialista regional que inclusivamente suscitou dúvidas sobre se alguma vez foi militante socialista) - deve ter percebido que a política exige alguma cautela e sobretudo exige que as pessoas sejam pragmáticas mas não sabujas.

Esta jovem médica candidata socialista não tem que agradecer nada a ninguém. Foi escolhida, ponto! É jovem e politicamente inexperiente, mas isso não invalidou que alguém tenha precisado dela nem que seja para pintar o quadro com outras cores, alguém que precisava de afastar outro alguém da lista europeia por razões políticas internas. Obviamente que sabemos que o PS-M foi obrigado a indicar uma mulher para ter esperanças de um lugar elegível, tudo por causa dos bastidores desse estranho jogo da paridade (aliás um absurdo que não é exclusivo do PS...), que a política precisa de renovar-se progressivamente, sem opções abruptas, que a política precisa de jovens quadros com ideias, com valor, mas a política, gostem ou não de ouvir, exige também protagonistas que percebam alguma coisa do que é a política, particularmente da natureza do chamado discurso político e da lógica do pensamento político.
Tal como no futebol ninguém coloca na primeira equipa um jogador só porque é jovem e revela ter dotes para a bola, na política as coisas funcionam da mesma maneira. Nem sempre aqui, porque na política há o para-quedismo, uma realidade mais ou menos institucionalizada graças a jogos de luta pelo poder entre grupos que se digladiam no interior dos partidos. Já o jogador de futebol tem que seguir um percurso institucionalizado, desde os escalões mais jovens, onde mostra o que vale e se vai formando na “arte”, passando depois o escalão da formação onde lhe aperfeiçoam esses dotes, depois a segunda equipa onde adquire a tarimba necessária para voos mais altos, ou seja, antes de ascender à equipa principal.
A candidata europeia do PS-M ao ser indicada como candidata ao Parlamento Europeu passou de uma espécie de contratação vinda de fora - que ninguém conhecia no seu clube - para ser logo atirada às feras na equipa principal, caindo de para-quedas. Não é novidade, não será caso raro, nem será caso único. Se isso por um lado, indicia renovação - que é sempre bom no futebol e na política – por outro, é um facto que na política todas as declarações políticas precisam ser cuidadas (mas para isso julgo que a LPM já deve ter percebido do que falamos...) e, mais do que isso, precisam de ser realistas e ter alguma lógica aos olhos das pessoas.
Quando esta candidata socialista diz que Paulo Cafofo é o seu "ídolo político" - título de hoje no DN-M que para além de fazer com que não leia, porque o título indicia alguém que não percebe que em política há a dignidade pessoal e que ninguém tem que se arrastar, qual "carpete vermelha", só porque foi escolhida, mesmo tendo sido a terceira ou quarta escolha - percebi que há de facto muito caminho a percorrer caso queira fazer carreira política. O que recomendo, como conselho pessoal, à candidata do PS-M é que não estranhe que comecem a aparecer os habituais "paizinhos" da sua candidatura, quase donos da sua vontade política, os fretes que vai ter que fazer, os sapos ou elefantes que vai ter que engolir, as pessoas que lhe serão impostas para ter que trabalhar, os oportunistas que vão reclamar que a jovem está ao serviço de determinadas fações nessa briga que no interior do PS-M começa a ser mais do que evidente. E que vai acentuar-se, porque há pessoas que foram mal tratadas e não estão dispostas a render-se sem mais nada. Salvo se esta candidatura e os 5 anos nas "Europas" sejam um mero acidente de percurso, tudo indica que sim, e que depois outros protagonistas surgirão.
O que eu queria enfatizar neste texto é essencialmente uma dúvida, uma estranha dúvida que não esperava de quem roça os 30 anos e que tem uma vida profissional construída, independentemente de não ter, e não tem mesmo, qualquer experiência política: como é possível que uma jovem médica, que reside há uns anos fora da Madeira, sem actividade partidária no PS-M ou em qualquer estrutura socialista continental, aponte Paulo Cafofo como seu "ídolo político"? Este antigo professor, que surgiu na política apenas em Setembro de 2013 - há pouco mais de 5 anos! - virou de repente "ídolo" da jovem num partido onde era suposto que fosse Mário Soares a grande referência a par de outros vultos do socialismo democrático? Mandaram-lhe dizer isso? O “ídolo” vendeu-lhe a ideia de quer foi ele o padrinho da candidatura? Esqueceu-se que foi escolhida apenas porque o PS-M tinha que indicar uma mulher e antes de si houve 3 ou 4 tentativas, recusadas ou falhadas? Esqueceu-se que Liliana Rodrigues, professora universitária na Madeira, e agora saneada da lista porque razões político-partidárias, também foi uma surpresa em 2014, pelos mesmos motivos que eu aponto a Cedras? Ou seja, aos 24 ou 25 anos - porque Cafofo tem menos de 6 anos de vida política activa - a candidata europeia do PS-M não tinha pelos vistos qualquer ídolo político na área socialista? Ou quem sabe se lhe mandaram dizer o que disse apenas porque o PS-M vive obcecado pela venda da imagem de Cafofo, a reboque de estratégias de comunicação que pelos vistos têm muitos telhados de vidro e muita idiotice à mistura? Pense nisso Sara Cerdas. E não se esqueça: você não deve nada a ninguém. Se a foram buscar, se a escolheram é porque precisavam de si. Candidatas para o seu lugar, ainda mais num cenário eleitoral que parece favorecer o PS nacional, nestas europeias (que são sempre as eleições que menos interessam às pessoas, por isso nada de deslumbramentos), existiriam aos magotes, resmas delas como diria Herman José. Aproveite o lugar, desenvolva a sua actividade, adquira experiência e tarimba política e faça uma opção: ou usa esta candidatura para uma carreira política futura, ou o mandato europeu de 5 anos não passará de um episódio com todos os benefícios que sabemos (sabia que o PS-M já teve um médico no PE, o dr. Quinídio Correia, que nunca optou por uma carreira política?). Pense nisto tudo que lhe disse, com amizade e não veja nisto um ataque pessoal como porventura lhe vão tentar vender. Apenas um desabafo algo estupefacto. (LFM)

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