quarta-feira, março 20, 2019

Nota: ai Moçambique....


Há uns anos estive em  Moçambique, por motivos profissionais, enquanto jornalista, é o país e aquele povo ficaram-se na memória até hoje. Foi um pais, pobre, alegadamente com riquezas por explorar, mas de uma maneira geral pobre, que durante anos foi explorado pelos novos colonizadores dos estados mais vulneráveis e economicamente mais debilitados. Tive uma experiência amarga nessa minha primeira passagem por Moçambique, com outros companheiros - alguns deles ainda em actividade, outros já idos para a longa viagem - porque vimos morrer um companheiro nosso devido a um patético acidente de carro - em plena Avenida Julius Niereri, quase frente ao Palácio  presidencial e a pouca distância do Hotel Polana - no qual ficou encarcerado. Lembro-me que os "salvadores" chegados ao local quase que estiveram meia hora a ver por onde começavam as operações de socorro e de desencarceramento da pessoa. Este episódio levou-me a uma cidade de Maputo mergulhada na noite, pouco iluminada, triste, ameaçadora - hoje a realidade é diferente - e sobretudo ao Hospital que me meteu um medo de morte logo que ali entrei, mas que funcionava bem e com pessoas atenciosas. Nunca mais me esqueço disso. Garanto-vos!

Foi com tristeza que reagi quando soube que Moçambique tinha aderido à Commonwealth com a qual nunca tinha tido relações culturais ou históricas (o mesmo da totalitária Guiné-Conacri em relação à CPLP), acabando Maputo por ceder a pressões políticas e económicas de uma comunidade liderada por Londres mas toda ela colocada ao seu serviço,algo que voltará a acontecer -podem estar certos disso - a propósito do Brexit. A Commonwealth será um instrumento de pressão, de lobbing e de persuasão junto da União Europeia e haverá países da UE que terão receio de deixarem de ter negócios com essa comunidade imensa e importante.
Para os mais desatentos direi que a Commonwealth é uma associação voluntária de 53 estados soberanos, a maioria são ex-colónias britânicas, excepto Moçambique (antiga colónia portuguesa) e Ruanda, que aderiu em 2009.
Actualmente, os estados-membros são 3 na Europa, 13 na América, 18 na África, 8 na Ásia e 11 na Oceania, o que combina uma população de 2,1 mil milhões de pessoas, quase um terço da população mundial, dos quais 1,17 mil milhões vivem na Índia e 94% vivem na Ásia e na África juntas.
16 dos Estados-Membros são reinos da Commonwealth que têm o monarca do Reino Unido também como chefe de Estado, mas há 5 monarquias independentes, com seus próprios monarcas (Brunei, Lesoto, Malásia, Suazilândia e Tonga). Os restantes são repúblicas.
O que se passou neste país com o ciclone Idai foi dramático, provavelmente será mais dramático do que imaginamos, pelo seu poder de destruição devastadora junto de uma comunidade pobre que praticamente ficou privada dos seus bens, prolongando o sofrimento e a agonia de um povo que precisa do nosso apoio e que precisa que respondamos em seu auxílio independentemente dos julgamentos que possamos fazer sobre opções políticas que valem o que valem e que são sempre reversíveis. Uma coisa é o que os políticos decidem outra coisa é o sentimento do povo, o que o povo sente, os laços que ele alimenta.
E quanto a isso não tenho dúvida que a terra de Eusébio, Hilário e outros desportistas de classe mundial, no hóquei-em-patins, no basquetebol, será sempre uma terra irmã dos portugueses. Confesso-vos que me dá uma agonia ver este país, a braços com instabilidade social interna com actos terroristas no norte do pais e que viu a ajuda financeira internacional dificultada, ter que enfrentar no meio da sua pobreza os efeitos do ciclone Idaí. É por estas e por outras - e eu sei que muita gente discordará de mim mas é isso que eu penso, mesmo - que eu acho tantas vezes que Deus não existe e que essa coisa, pomposamente chamada de "justiça divina" é uma farsa ou roça isso. Porque se Deus existisse certamente que ele não castigaria os que já sofrem tanto e que passam por maiores privações, incluindo idosos e crianças (LFM)

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