A
vitória do candidato republicano sucedeu contra todas as previsões. Enfim,
quase todas. Ao longo dos últimos dois meses de campanha, nove sondagens Los
Angeles Times/USC deram, de forma consistente, a vitória a Donald Trump. E na
reta final da campanha, uma outra, da Fox News entregava também a Casa Branca
ao milionário. Isto num total de 93 sondagens recenseadas entre 8 de setembro e
7 de novembro pelo site Real Clear Politics.
Mas
a regra era o contrário, a poucos dias da votação, o site americano
FiveThirtyEight dava 33% de hipóteses para a vitória de Donald Trump, "o
que era muito mais generoso do que muitas outras previsões", recordava
hoje de manhã o The Daily Telegraph. Muitas outras projeções não lhe atribuíam
mais de 15% de possibilidades de vitórias, ou seja uma em cinco.
O
facto é que os Estados Unidos são uma sociedade extremamente diversificada,
dividida, complexa nos planos social, cultural, étnico e religioso. Por isso,
as sondagens realizadas num certo momento não poderiam refletir mais do que
esse momento, aliás como os inquéritos de opinião realizados na última semana
de campanha o demonstraram ao evidenciarem uma clara redução do intervalo entre
as intenções de voto nos dois candidatos.
No
entanto, foram tratadas como previsão antecipada de um resultado que parecia
inevitável pela própria atmosfera mediática globalmente alinhada com Hillary
Clinton e pelo clima de conflito evidente entre uma parte de nomes relevantes
no campo republicano e o candidato.
Mas
o erro central nas sondagens é o de terem sido tomadas como a antecipação do
comportamento dos eleitores que, como se viu, foi distinto das previsões, sendo
que estas, na maioria dos casos, assentavam em pressupostos políticos. E mesmo
nos últimos dias, com a redução da margem de intervalo entre os dois
candidatos, continuou-se sempre a dar como adquirido que Hillary Clinton
prevaleceria sobre Trump. Após a contagem de votos, as sondagens e seus
pressupostos acabaram no ridículo.
Veja-se
o voto feminino. Aqui, Hillary alcançou uma vantagem de dois pontos
percentuais, com 49%, sobre Trump, que teve 47%. Uma margem demasiado pequena
tendo em consideração que se estava perante a primeira mulher candidata por um
grande partido à Casa Branca. A Reuters compara o resultado de Hillary face ao
resultado de 2012 de Barack Obama no mesmo universo eleitoral, e nota que o
presidente cessante conseguiu então uma vantagem de sete pontos percentuais.
Ainda
no universo feminino, mas no âmbito de eleitoras com idades entre os 18 e os 34
anos, se a vantagem da candidata democrata é aqui maior perante Trump, com 55%
dos votos contra 38% para o republicano, mais uma vez os resultados de Obama
são superiores: 62% em 2012. As sondagens davam como adquirido que Hillary
teria consigo a maioria do voto feminino; no final, após quatro décadas de vida
pública, mostrou-se uma figura controversa, distante, incapaz de empatia no
grau suficiente para chegar à vitória.
Como
Trump destacou no discurso de vitória, a sua campanha foi mais do que uma
campanha, foi um "movimento" e um movimento que, apesar de todos os
pequenos e grandes escândalos que o envolviam, nunca chegou a perder dinâmica.
A sua diretora de campanha, Kellyanne Conway, podia dizer nos últimos dias que
"estamos a ampliar o nosso mapa [de estados onde Trump podia ganhar] e
estamos agora a competir em estados onde há meses as pessoas diziam que não
tínhamos qualquer hipótese". E mesmo em segmentos eleitorais onde a
democrata detinha uma confortável margem - caso dos eleitorados hispânico
(66%), afro-americano (89%) e asiático (65%) - as percentagens de Obama em 2012
foram superiores: 96% entre os afro-americanos, 70% entre os hispânicos e 67%
entre os eleitores asiáticos.
Trump
insistia, por outro lado, que as sondagens eram elaboradas, de forma
deliberada, para revelarem menos apoio popular do que realmente existia em
torno da candidatura e a minarem o estado de espírito dos seus apoiantes. E,
pelo menos em parte, o republicano tinha razão como se verifica na
contabilidade do voto dos eleitores sem educação superior. Aqui, a vantagem de
Trump é clara, quer entre os homens quer entre as mulheres: 31 pontos
percentuais de vantagem sobre Hillary no eleitorado masculino e 27 pontos
percentuais no eleitorado feminino.
Outro
revés para Hillary: a sua vantagem eleitoral é mínima nas áreas urbanas, com
seis pontos percentuais à frente de Trump que, por sua vez, obtém larga
vantagem no eleitorado rural - 27 pontos percentuais sobre a candidata
democrata.
Houve,
no entanto, um ponto em que as sondagens - ainda que não todas - acertaram: o
do voto do eleitorado evangelista branco, esmagadoramente concentrado em Trump,
que obteve aqui 76% de votos, praticamente o mesmo resultado do candidato
republicano, Mitt Romney, em 2012. Hillary teve aqui 20% de votos (texto de Abel Coelho de Morais, DN-Lisboa com a devida venia)
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