A crise na CMF termina amanhã? Li na comunicação social que sim. Mas eticamente a crise é bem mais grave, pode ser mais grave, do que parece. Sobretudo no plano da ética "versus" política.
Desde logo a questão de fundo é esta: os dois partidos, PND e PTP que tinham vereadores no executivo camarário, para o qual tinham sido eleitos legitimamente, a partir do momento em que renunciam devido a divergências pessoais e políticas - porque é disso que se trata - perdem todas a autoridade moral para criticarem tudo o que for deliberado a partir de agora pela CMF. Quem abandona o barco nestas condições perde toda a autoridade e postura ética para depois criticar.
Inicialmente pensei que a renúncia ao mandato poderia ser a solução para resolver o problema. Hoje tenho dúvidas, quer sobre a real causa de uma crise que foi política, algo (pouco) institucional e muito pessoal, quer sobre as intenções que a ela estiveram subjacentes, quer ainda sobre os reais contornos do aproveitamento feito da crise na CMF. Interrogo-me mesmo se o que se passou não foi apenas uma mera "operação de limpeza" política, com origem no próprio PS, cujos contornos se um dia fossem revelados na sua extensão e verdade, porventura escandalizariam a opinião pública e particularmente os eleitores da coligação.
Mas fica-me uma dúvida, alicerçada na evolução nos últimos dias e nos cenários que se traçam para "resolver" esta crise provocada pelo PS na Câmara do Funchal: de facto - e ressalvando que o PSD não se deve envolver em qualquer episódio político destinado a provocar a queda de qualquer executivo camarário legitimamente eleito pelos cidadãos, posição que felizmente foi reafirmada esta semana - uma coisa é a opção pela renúncia ao mandato, frustrando - para não usar adjetivação bem mais contundente e ofensiva... - os eleitores que votaram na coligação alegadamente por quererem uma mudança política e no modelo de gestão da cidade, outra coisa são as divergências sempre normais numa coligação política alargada a vários partidos, que não podem contudo ser hiper-inflacionadas por causa de divergências pessoais nunca devidamente esclarecidas a par de amuos pessoais, porque aos olhos das pessoas é apenas disso que se trata.
~Penso que um cenário político de renúncia aos mandatos - em certa medida traindo os eleitores e questionando se candidaturas futuras deverão ser levadas a sério pelos mesmos eleitores que agora olham atónitos para o que se vai passando - tem que ser alargado à Assembleia Municipal.
Explico
Se os representantes do PND e do PTP na Câmara Municipal do Funchal renunciaram aos lugares por causa de situações estranhas ou dúbias não esclarecidas - não acredito nas "justificações" apresentadas até hoje - em rigor, e se há valores e moral na política, como é que PTP e PND acham que os seus eleitos têm condições para serem alargadas à Assembleia Municipal? Mais do que esta contradição de decisões diferentes para uma realidade política e institucional única, mais do que o paradoxo subjacente a tudo isto, a pergunta impõe-se: em vez da renúncia ao mandato não deviam os três vereadores reconsiderarem a sua decisão, e optarem pela continuidade em lugares para os quais foram eleitos democraticamente, mesmo que não tenham pelouros à sua responsabilidade? Os eleitos do PND e do PTP deixam de ter condições para continuarem no executivo da CMF mas já acham que têm condições para continuarem na Assembleia Municipal quiçá votando a favor de uma Câmara Municipal à qual viraram costas? Que coisa estranhíssima. Afinal os eleitores votaram numa coligação sabendo quais os pelouros que seriam distribuídos e a quem?
Pessoalmente estou convencido que a própria coligação nunca sonhou - por muito que diga o contrário - que iam ganhar as eleições no Funchal.
Será que PND e PTP não serão confrontados com uma realidade política lamentável e pouco abonatória para todos os protagonistas deste estranho caso na CMF, face à sua evolução, e com a ideia de que "o crime compensa", que a intriga palaciana dá resultado e que uma coligação vale o que vale enquanto e quando o maior partido (neste caso o PS) quiser e precisar?
Por muito estranho que pareça, até parece que o José Manuel Coelho, líder do PTP acaba por ter razão, quando comentando de forma contundente uma estranha realidade à vista de todos, admitiu ter sido "perdida uma batalha na CMF contra os grandes interesses económicos" ao mesmo tempo que criticava os três vereadores que anunciaram a renúncia ao mandato: “Não estavam à altura. São soldados fracos. Desanimaram ao primeiro embate. A política não é para amadores, para pessoas com pouca experiência. Abandonar o posto de combate, é uma fraqueza” (fotos do DN-Madeira, com a devida vénia)
Desde logo a questão de fundo é esta: os dois partidos, PND e PTP que tinham vereadores no executivo camarário, para o qual tinham sido eleitos legitimamente, a partir do momento em que renunciam devido a divergências pessoais e políticas - porque é disso que se trata - perdem todas a autoridade moral para criticarem tudo o que for deliberado a partir de agora pela CMF. Quem abandona o barco nestas condições perde toda a autoridade e postura ética para depois criticar.
Inicialmente pensei que a renúncia ao mandato poderia ser a solução para resolver o problema. Hoje tenho dúvidas, quer sobre a real causa de uma crise que foi política, algo (pouco) institucional e muito pessoal, quer sobre as intenções que a ela estiveram subjacentes, quer ainda sobre os reais contornos do aproveitamento feito da crise na CMF. Interrogo-me mesmo se o que se passou não foi apenas uma mera "operação de limpeza" política, com origem no próprio PS, cujos contornos se um dia fossem revelados na sua extensão e verdade, porventura escandalizariam a opinião pública e particularmente os eleitores da coligação.
Mas fica-me uma dúvida, alicerçada na evolução nos últimos dias e nos cenários que se traçam para "resolver" esta crise provocada pelo PS na Câmara do Funchal: de facto - e ressalvando que o PSD não se deve envolver em qualquer episódio político destinado a provocar a queda de qualquer executivo camarário legitimamente eleito pelos cidadãos, posição que felizmente foi reafirmada esta semana - uma coisa é a opção pela renúncia ao mandato, frustrando - para não usar adjetivação bem mais contundente e ofensiva... - os eleitores que votaram na coligação alegadamente por quererem uma mudança política e no modelo de gestão da cidade, outra coisa são as divergências sempre normais numa coligação política alargada a vários partidos, que não podem contudo ser hiper-inflacionadas por causa de divergências pessoais nunca devidamente esclarecidas a par de amuos pessoais, porque aos olhos das pessoas é apenas disso que se trata.
~Penso que um cenário político de renúncia aos mandatos - em certa medida traindo os eleitores e questionando se candidaturas futuras deverão ser levadas a sério pelos mesmos eleitores que agora olham atónitos para o que se vai passando - tem que ser alargado à Assembleia Municipal.
Explico
Se os representantes do PND e do PTP na Câmara Municipal do Funchal renunciaram aos lugares por causa de situações estranhas ou dúbias não esclarecidas - não acredito nas "justificações" apresentadas até hoje - em rigor, e se há valores e moral na política, como é que PTP e PND acham que os seus eleitos têm condições para serem alargadas à Assembleia Municipal? Mais do que esta contradição de decisões diferentes para uma realidade política e institucional única, mais do que o paradoxo subjacente a tudo isto, a pergunta impõe-se: em vez da renúncia ao mandato não deviam os três vereadores reconsiderarem a sua decisão, e optarem pela continuidade em lugares para os quais foram eleitos democraticamente, mesmo que não tenham pelouros à sua responsabilidade? Os eleitos do PND e do PTP deixam de ter condições para continuarem no executivo da CMF mas já acham que têm condições para continuarem na Assembleia Municipal quiçá votando a favor de uma Câmara Municipal à qual viraram costas? Que coisa estranhíssima. Afinal os eleitores votaram numa coligação sabendo quais os pelouros que seriam distribuídos e a quem?
Pessoalmente estou convencido que a própria coligação nunca sonhou - por muito que diga o contrário - que iam ganhar as eleições no Funchal.
Será que PND e PTP não serão confrontados com uma realidade política lamentável e pouco abonatória para todos os protagonistas deste estranho caso na CMF, face à sua evolução, e com a ideia de que "o crime compensa", que a intriga palaciana dá resultado e que uma coligação vale o que vale enquanto e quando o maior partido (neste caso o PS) quiser e precisar?
Por muito estranho que pareça, até parece que o José Manuel Coelho, líder do PTP acaba por ter razão, quando comentando de forma contundente uma estranha realidade à vista de todos, admitiu ter sido "perdida uma batalha na CMF contra os grandes interesses económicos" ao mesmo tempo que criticava os três vereadores que anunciaram a renúncia ao mandato: “Não estavam à altura. São soldados fracos. Desanimaram ao primeiro embate. A política não é para amadores, para pessoas com pouca experiência. Abandonar o posto de combate, é uma fraqueza” (fotos do DN-Madeira, com a devida vénia)