Li no Económico um trexto do jornalista ALBERTO
TEIXEIRA segundo o qual um “artigo publicado no último Boletim Mensal do BCE
oferece a perspectiva do banco central sobre as origens da crise que obrigou a
Grécia, a Irlanda e Portugal a pedir ajuda externa. Ninguém se atreve a
decretar o fim da crise mas parece cada vez mais consensual que o pior já terá
passado, uma posição reforçada pelo crescimento do PIB comunitário nos últimos
quatro trimestres. Esse consenso continua contudo a não existir em relação às
causas das fricções que quase custaram a moeda única. Economistas, académicos e
responsáveis políticos divergem na sua análise. Há quem releve os
desequilíbrios nacionais. Há quem aponte o dedo à zona monetária imperfeita que
é o euro. As agências de ‘rating' e a ‘culpa' da finança americana são também
frequentemente citados. O Banco Central Europeu (BCE) ofereceu a sua
perspectiva sobre o que aconteceu à zona euro nos últimos anos num artigo
publicado no Boletim Mensal de Maio, onde libertado. Numa análise mais focada
nas dinâmicas do mercado do que nos problemas orçamentais específicos de cada
país, o excesso de confiança do mercado e a liquidez dos bancos até 2007, a
falência do Lehman Brothers em 2008 e o caos orçamental na Grécia em 2009 foram
as principais causas identificadas. Tudo interligado.
Risco soberano subvalorizado
A criação do euro no final do milénio passado
veio homogeneizar as taxas de juro dos diferentes países da região,
independentemente das suas posições orçamentais, até 2007, altura em que
surgiram as primeiras fricções nos mercados financeiros. Segundo o BCE, esta
tendência foi acentuada por duas razões: primeiro porque, eliminado o risco da
taxa de câmbio com a moeda única, os investidores procuraram rendibilidades
noutros países da região, diversificando as carteiras dentro do euro; depois
porque os bancos, por não terem de assegurar capital para cobrir a sua
exposição às obrigações do euro, também contribuíram para a subvalorização do
risco do mercado de dívida soberana. Assim, ao primeiro choque com a crise do
‘subprime' em 2007, resultando em tensões no mercado monetário, surgiram os
primeiros sinais desse excesso de confiança. Que a falência do Lehman Brothers
veio evidenciar um ano depois: as yields das obrigações dos países da zona euro
subiram significativamente face às bunds.
A tragédia grega
A melhoria temporária na primeira metade de
2009, com diminuição da incerteza global, foi abruptamente sacudida quando a 16
de Outubro desse ano o primeiro-ministro grego da altura, George Papandreou,
admitiu os problemas orçamentais do país. Acabava de revelar que o défice
ficaria nos 12,7% do PIB, o dobro das estimativas anteriores. "Marcou o início
da crise da dívida do euro", identifica o BCE. Depressa a crise
ultrapassou fronteiras. "Entre Setembro de 2008 e Maio de 2011, a aversão
ao risco dos investidores, as percepções dos mercados relativamente aos riscos
de crédito específicos de cada país, os riscos de liquidez e os efeitos
contágio tiveram um papel chave na subida dos spreads da Grécia, Irlanda,
Portugal, Itália e Espanha", lembra a autoridade monetária. E nem os
países com sólidos fundamentais orçamentais, como a Áustria, a Finlândia ou a
Holanda, escaparam a esta fuga para a qualidade e liquidez.
Irlanda e Portugal arrastados
Numa segunda fase da crise soberana, o
contágio financeiro contribuiu ainda mais para distanciar os spreads dos países
com fraco registo orçamental, caso da Irlanda e Portugal, países que viriam a
solicitar ajuda financeira em 2010 e 2011 respectivamente. Outra fonte do
"risco de contágio" foi o envolvimento do sector privado na
reestruturação da dívida grega, uma decisão tomada quando se preparava um
‘backstop' para os estados solventes, alega o BCE”.