"O segundo regresso com estrondo de José Sócrates depois das eleições de 2011, com a entrevista, em texto corrido, de Clara Ferreira Alves - o primeiro foi a entrevista à RTP - é uma antologia da natureza humana e, particularmente, da natureza do ex-primeiro-ministro. Mais de dois anos depois de ser corrido de São Bento, para usar o estilo de linguagem do próprio, Sócrates ajusta contas, não perdoa, ofende, ignora, critica com a condescendência de quem continua a ser superior, injustiçado. Apesar de tudo, serve este (re)regresso para nos recordarmos do que não deve ser feito, agora que se discute o fim do programa da ‘troika'. O ex-primeiro-ministro parou no tempo, ainda não saiu de Maio de 2011, terá até as suas razões, acreditará, genuinamente, que teria sido possível garantir o apoio da Alemanha a um PEC IV que sucedeu a outros três programas que falharam na sua execução. Mas exigia-se que fosse capaz, agora, de aprender com os erros e pôr a sua experiência ao serviço do País. Não quis, não foi capaz de fazê-lo. O País conspirou, diz Sócrates, sem perceber que isso pouco importa aos portugueses que já encerraram esse capítulo, com os votos nas eleições de 2011, os mesmos que José Sócrates considera ‘um favor popular' ao qual não voltará a submeter-se. Veremos. A incompetência deste Governo, a incapacidade política de Pedro Passos Coelho e de Paulo Portas não fazem de José Sócrates um mártir, ou um bom primeiro-ministro. Outras coisas farão, não estas. Começou bem, acabou mal. O próprio regressa agora, para capitalizar esse descontentamento, os erros de governação, porque, como diz o povo, ‘atrás de mim virá quem bom de mim fará'. Com muita propriedade, diz-se o líder que a Direita gostava de ter. E com a razão, que revela a Direita, mas também o próprio. A Direita é dada a líderes messiânicos, determinados, autoritários, que nunca erram e raramente têm dúvidas. ‘Isto' é o José Sócrates que se leu nesta entrevista.
O que sobra, afinal? Em primeiro lugar, como diz Vítor Bento na entrevista que publicamos na edição de hoje, o sistema político, ou seja, eleitos e eleitores, órgãos legislativo, executivo e judicial, têm de ter em conta o que está em jogo. E está muito, por isso é preciso fazer escolhas. Todas são possíveis, mas é necessário saber as consequências. Queremos continuar no euro, queremos sair? A resposta dir-nos-á se aceitámos, colectivamente, um Estado com contas equilibradas a bem ou a mal, com mais ou menos custos sociais e políticos. Sócrates conta, e reconta, a sua versão da história, o Plano, com a primeira letra a caixa alta. Uma coisa é certa, as mesmas receitas políticas tendem a dar os mesmos resultados. O Orçamento do Estado de 2014 não é um fim, é um princípio de uma nova vida, por mais duro que seja, por isso, ao contrário do que sucedeu em 2011, quando os líderes partidários e o Presidente da República não encontraram uma base mínima de entendimento, em 2014 esse caminho é tão urgente como inevitável. Com eleições ou sem elas, porque a restrição financeira não acaba no próximo ano, a monitorização das contas públicas nacionais não vai desaparecer mesmo que a ‘troika' dê o seu trabalho por concluído em Junho de 2014. Portugal vai ter de continuar a ajustar a sua despesa à receita e terá de apresentar saldos primários, sem juros, positivos de forma estrutural. Como se depreende do facto de ainda não termos chegado lá, mas, mesmo assim, estarmos próximos da ruptura política e social" (texto de António Costa, Económico, com a devida vénia)
O que sobra, afinal? Em primeiro lugar, como diz Vítor Bento na entrevista que publicamos na edição de hoje, o sistema político, ou seja, eleitos e eleitores, órgãos legislativo, executivo e judicial, têm de ter em conta o que está em jogo. E está muito, por isso é preciso fazer escolhas. Todas são possíveis, mas é necessário saber as consequências. Queremos continuar no euro, queremos sair? A resposta dir-nos-á se aceitámos, colectivamente, um Estado com contas equilibradas a bem ou a mal, com mais ou menos custos sociais e políticos. Sócrates conta, e reconta, a sua versão da história, o Plano, com a primeira letra a caixa alta. Uma coisa é certa, as mesmas receitas políticas tendem a dar os mesmos resultados. O Orçamento do Estado de 2014 não é um fim, é um princípio de uma nova vida, por mais duro que seja, por isso, ao contrário do que sucedeu em 2011, quando os líderes partidários e o Presidente da República não encontraram uma base mínima de entendimento, em 2014 esse caminho é tão urgente como inevitável. Com eleições ou sem elas, porque a restrição financeira não acaba no próximo ano, a monitorização das contas públicas nacionais não vai desaparecer mesmo que a ‘troika' dê o seu trabalho por concluído em Junho de 2014. Portugal vai ter de continuar a ajustar a sua despesa à receita e terá de apresentar saldos primários, sem juros, positivos de forma estrutural. Como se depreende do facto de ainda não termos chegado lá, mas, mesmo assim, estarmos próximos da ruptura política e social" (texto de António Costa, Económico, com a devida vénia)