Li no Dinheiro Vivo que “o Barclays, um dos bancos
globais que está a ajudar diretamente Portugal no regresso aos mercados, faz um
diagnóstico arrasador da capacidade de o país regressar aos mercados em 2014 e
em aderir a um programa cautelar, como o Governo diz ainda ser possível. Pelo
contrário, o gigante financeiro diz que o défice deste ano deve ficar em 5,8%
(a meta da troika é 5,5%) e que o do próximo ano pode chegar a 5,3%, bem acima
dos 4% que estão no memorando e no Orçamento do Estado para 2014, a apresentar
na próxima semana. O Governo entretanto já anunciou novas medidas
"adicionais" para tapar o deslize deste ano e sinalizou que está a
preparar mais um mega pacote de austeridade para 2014 que vai bastante além do
que foi anunciado em maio pelo primeiro-ministro na carta à troika. Moral da
história: o cenário mais provável, defende o Barclays, é que os credores
oficiais tenham de facilitar mais o pagamento do empréstimo dos 78 mil milhões
de euros, aliviando quer o capital em dívida, quer as taxas de juro cobradas. É
a via mais óbvia para que o país seja sustentável, referem os economistas da
casa. No boletim trimestral sobre as economias europeias, o Barclays, um dos
quatro bancos que estiveram diretamente envolvidos da emissão de dívida
sindicada de janeiro, mostra que ficou bastante desconfiado relativamente à
estabilidade política em Portugal espoletada pela saída "irrevogável"
de Paulo Portas do Governo e a demissão de Vítor Gaspar. "Portugal
tornou-se no caso mais complexo de programa desde a crise política de final de
junho". "Acreditamos que vão ser necessários mais empréstimos e um
alívio de dívida. Pelas nossas estimativas, a dinâmica da dívida pública de
Portugal não é consistente com a solvência soberana". Para o Barclays, a
solução deverá passar mais por um envolvimento do sector oficial (OSI, os
credores UE e FMI) no alívio de dívida do que um envolvimento dos privados
(PSI). "Um envolvimento do sector oficial que estenda consideravelmente as
maturidades dos empréstimos do FEEF [fundo da zona euro] e que reduza as taxas
de juro poderá por a dívida pública num caminho sustentável", defende. Este
"envolvimento oficial" é, na prática, uma "reestruturação"
da dívida, em que os credores em causa (países do euro) assumem algumas perdas.
O Barclays aconselha a não fazer o mesmo com os privados por causa dos efeitos
destruidores na confiança dos mercados. O envolvimento do FMI não é referido.
Esta instituição só costuma perdoar dívida a países do terceiro mundo. O
Barclays avisa ainda que "estas discussões serão complexas e podem ficar
apenas acordadas no próximo ano", isto quando o país atualmente só
"está financiado até ao final do primeiro trimestre de 2014". "O
mais provável é que Portugal tenha de requerer outro programa e um novo alívio
para a dívida para repor a sua solvência." "Vemos uma baixa
probabilidade de Portugal conseguir recuperar o acesso completo aos mercados no
próximo ano por causa das dinâmicas adversas da dívida e do
financiamento". Razões: "vai continuar a ter défices até ao final de
2015", "as necessidades de financiamento são 21 mil milhões de euros
por ano no período 2015-17" e "os níveis elevados de dívida pública
aumentam mais depressa do que o PIB, pelo menos até 2016, e não baixam daí para
a frente"