quarta-feira, outubro 16, 2013

Barclays: Portugal viola défice em 2013 e 2014 e falha mercados



Li no Dinheiro Vivo que “o Barclays, um dos bancos globais que está a ajudar diretamente Portugal no regresso aos mercados, faz um diagnóstico arrasador da capacidade de o país regressar aos mercados em 2014 e em aderir a um programa cautelar, como o Governo diz ainda ser possível. Pelo contrário, o gigante financeiro diz que o défice deste ano deve ficar em 5,8% (a meta da troika é 5,5%) e que o do próximo ano pode chegar a 5,3%, bem acima dos 4% que estão no memorando e no Orçamento do Estado para 2014, a apresentar na próxima semana. O Governo entretanto já anunciou novas medidas "adicionais" para tapar o deslize deste ano e sinalizou que está a preparar mais um mega pacote de austeridade para 2014 que vai bastante além do que foi anunciado em maio pelo primeiro-ministro na carta à troika. Moral da história: o cenário mais provável, defende o Barclays, é que os credores oficiais tenham de facilitar mais o pagamento do empréstimo dos 78 mil milhões de euros, aliviando quer o capital em dívida, quer as taxas de juro cobradas. É a via mais óbvia para que o país seja sustentável, referem os economistas da casa. No boletim trimestral sobre as economias europeias, o Barclays, um dos quatro bancos que estiveram diretamente envolvidos da emissão de dívida sindicada de janeiro, mostra que ficou bastante desconfiado relativamente à estabilidade política em Portugal espoletada pela saída "irrevogável" de Paulo Portas do Governo e a demissão de Vítor Gaspar. "Portugal tornou-se no caso mais complexo de programa desde a crise política de final de junho". "Acreditamos que vão ser necessários mais empréstimos e um alívio de dívida. Pelas nossas estimativas, a dinâmica da dívida pública de Portugal não é consistente com a solvência soberana". Para o Barclays, a solução deverá passar mais por um envolvimento do sector oficial (OSI, os credores UE e FMI) no alívio de dívida do que um envolvimento dos privados (PSI). "Um envolvimento do sector oficial que estenda consideravelmente as maturidades dos empréstimos do FEEF [fundo da zona euro] e que reduza as taxas de juro poderá por a dívida pública num caminho sustentável", defende. Este "envolvimento oficial" é, na prática, uma "reestruturação" da dívida, em que os credores em causa (países do euro) assumem algumas perdas. O Barclays aconselha a não fazer o mesmo com os privados por causa dos efeitos destruidores na confiança dos mercados. O envolvimento do FMI não é referido. Esta instituição só costuma perdoar dívida a países do terceiro mundo. O Barclays avisa ainda que "estas discussões serão complexas e podem ficar apenas acordadas no próximo ano", isto quando o país atualmente só "está financiado até ao final do primeiro trimestre de 2014". "O mais provável é que Portugal tenha de requerer outro programa e um novo alívio para a dívida para repor a sua solvência." "Vemos uma baixa probabilidade de Portugal conseguir recuperar o acesso completo aos mercados no próximo ano por causa das dinâmicas adversas da dívida e do financiamento". Razões: "vai continuar a ter défices até ao final de 2015", "as necessidades de financiamento são 21 mil milhões de euros por ano no período 2015-17" e "os níveis elevados de dívida pública aumentam mais depressa do que o PIB, pelo menos até 2016, e não baixam daí para a frente"