sexta-feira, outubro 25, 2013

80% dos correios da Europa estão nas mãos do Estado

Garante a jornalista do Público, Raquel Almeida Correia, que "apenas cinco países da Europa a 28 privatizaram os serviços postais e quase todos apostaram na dispersão em bolsa, como acontecerá em Portugal com os CTT. Promessas tem havido muitas, mas as privatizações de empresas públicas de correios contam-se pelos dedos de uma mão. Até agora, apenas cinco países europeus avançaram com a venda dos serviços postais, quase todos através da dispersão em bolsa. No entanto, três deles mantiveram uma participação maioritária do Estado. A concretizar-se a alienação nos moldes aprovados pelo Governo, os CTT vão passar a ser a empresa com mais capital nas mãos de privados. Uma análise elaborada pelo PÚBLICO mostra que, na Europa a 28, a grande maioria dos correios mantém na esfera do Estado, apesar de diferentes países terem já anunciado a intenção de privatizar o sector. De um total de 25 empresas, já que não foi possível aceder a informação sobre a Holanda e a Croácia, apenas cinco abriram a porta ao capital privado. Os casos mais recentes são os da belga Bpost e da britânica Royal Mail. A decisão do Governo, aprovada em Conselho de Ministros a 10 de Outubro, foi recebida com surpresa, até porque havia já um rol de interessados na venda directa dos CTT e este tipo de modelo tinha sido seguido pelo Governo em todas as anteriores privatizações. O panorama europeu foi um dos argumentos usados pelos bancos que assessoraram a venda dos correios, o CaixaBI e o JP Morgan, para convencer o executivo. Analisando a Europa a 28, conclui-se que praticamente todos os países que privatizaram os correios recorreram a ofertas públicas iniciais (OPI) de venda em bolsa. Dos cinco Estados-membros que reduziram a participação pública no sector, quatro seguiram esta via: Alemanha, Áustria e, mais recentemente, Bélgica e Reino Unido. Há ainda outro caso, o da Roménia, em que a venda de 25% do capital foi directa, sendo hoje detida por um fundo de investimento. O fenómeno das OPI começou no final de 2000, com a alemã Deutsche Post, naquela que foi a maior operação do género nesse ano no país e a terceira a nível mundial. Inicialmente, foi alienada uma participação de 29%, mas a fasquia foi crescendo e chega agora aos 79%. O restante capital é detido pelo banco estatal Kfc. Só há outro caso em que o Estado se ficou por uma participação minoritária no sector postal. Trata-se da britânica Royal Mail, que viu 52,2% do capital ser disperso em bolsa em meados de Outubro. A operação foi considerada um êxito, com a procura a superar sete vezes a oferta no retalho, mas o Governo foi acusado de ter vendido barato a empresa.
Promessas adiadas
Foi, em particular, esta última operação que deu algum fôlego ao executivo português na defesa de uma OPI para os CTT. Afinal, o modelo foi oficialmente anunciado um dia antes da estreia em bolsa do Royal Mail, cujas acções chegaram a disparar quase 40%. Mas, em Portugal, a ideia é ir mais longe do que aconteceu até aqui nos quatro países europeus que privatizaram os correios no mercado de capitais. É que o projecto prevê, numa primeira fase, a venda de uma participação até 70%, mas a ideia é o Estado desfazer-se completamente da empresa no médio prazo. A concretizar-se este cenário, os CTT vão tornar-se no único grupo da Europa a 28 totalmente privado. Na Áustria e na Bélgica as OPI lançadas, respectivamente, em 2006 e 2013 não retiraram ao Estado o estatuto de accionista maioritário. A austríaca Österreichische Post é hoje detida em 49% por privados, estando o restante capital nas mãos de uma holding estatal. Já a belga Bpost dispersou cerca de 30% do capital. Retirando a participação de 20% detida por um consórcio privado, a empresa permaneceu na esfera do Estado (que ficou com uma posição de 50%, à qual acrescem 488 acções). Há ainda o caso atípico da Roménia, que em 2005 procedeu à venda directa de 25% dos correios nacionais a um fundo privado. O Governo pretende desfazer-se da posição estatal ainda este ano, embora não haja ainda detalhes sobre a operação. De intenções está, aliás, a Europa cheia. República Checa, Grécia, Polónia e Bulgária são apenas alguns dos países que têm mostrado vontade de privatizar o sector, mas não há sinais concretos de que avancem. No total, 80% dos Estados-membros mantêm os correios totalmente na esfera pública, embora se acredite que as recentes OPI e a futura dispersão em bolsa dos CTT possam servir de estímulo. Em Portugal, estão ainda por conhecer muitos pormenores: o preço que será fixado para cada acção e a repartição das tranches à venda para o retalho e para investidores institucionais, por exemplo. Sabe-se já que, a apoiar o Governo na colocação da oferta, vão estar quatro bancos (CaixaBI, JP Morgan, BESI e BBVA), mas haverá mais instituições financeiras envolvidas. A oposição e os trabalhadores têm contestado duramente a privatização dos CTT. Hoje vai realizar-se uma greve em protesto contra o negócio".