quarta-feira, fevereiro 06, 2013

Opinião: “O Governo agora vai ter de remodelar”

"Na semana passada o Governo fez uma mini remodelação. Agora tem toda a oposição a pedir que faça uma mini mini remodelação
Na semana passada o Governo fez uma mini remodelação. Agora tem toda a oposição a pedir que faça uma mini mini remodelação. A escolha de Franquelim Alves para secretário de Estado do Empreendedorismo, Competitividade e Inovação está a provocar a indignação de todos os partidos da oposição e engulhos no CDS, parceiro da coligação.
Passos Coelho, que ontem sentiu necessidade de sair em defesa de Franquelim Alves, insurgiu-se contra a ideia de que "qualquer pessoa que tenha passado algum dia no grupo BPN ou na SLN não pode fazer mais nada na vida e está diminuído civicamente de poder dar um contributo ao país". O primeiro-ministro tem razão. Ter tido alguma coisa a ver com o BPN não é propriamente algo que hoje em dia se diga com muito orgulho, mas não faz de ninguém um criminoso ou coisa parecida. Basta ver o caso de Cavaco Silva, que não é propriamente um guru dos mercados, e que em 2001 terá, alegadamente, comprado acções da SLN a 1 euro para depois vende-las à própria SLN, dois anos mais tarde, por 2,40 euros. Ter sido accionista do grupo de Oliveira Costa não o inibiu de ser eleito e reeleito como Presidente da República.
Mas a forma como reagiram Franquelim Alves e Álvaro Santos Pereira, e a própria necessidade de Passos Coelho ter de vir a público falar sobre o assunto, mostra que o Governo não ponderou bem as consequências que tal nomeação poderia provocar.
O primeiro erro, quase infantil, foi, num primeiro momento, ter omitido no currículo de Franquelim Alves a sua passagem pelo grupo SLN/BPN. Não só deveria ter escarrapachado no currículo o facto de ter sido administrador da SLN, como à primeira acusação/insinuação por parte dos partidos da oposição deveria ter-se colocado à disposição do Parlamento para esclarecer, em sede própria, alguma dúvida que apoquentasse os advogados. Agora o Bloco vai chamar Álvaro ao Parlamento, e como Álvaro não tem nada para dizer, os deputados vão com certeza a seguir chamar o próprio Franquelim Alves e vamos a assistir a uma espécie de reabertura da Comissão de Inquérito ao BPN.
O segundo erro do Governo é que pelos vistos não consultou o CDS antes de nomear Franquelim Alves. A frase do CDS a dizer que "não vai levantar uma questão que a justiça não levantou" é ao mesmo tempo inócua e assassina. Passos ainda não percebeu que é Paulo Portas o número dois do Governo. Se saltar fora, o Governo cai.
E foi o deputado do CDS, Nuno Melo, quem mais "apertou" com Franquelim Alves quando este foi à Comissão de Inquérito ao caso BPN, confrontando-o com o facto de ter tido, alegadamente, conhecimento de irregularidades no BPN e de não as ter comunicado ao Banco de Portugal.
O pior disto tudo é que Passos Coelho não vai conseguir agora recuar na nomeação de Franquelim Alves e a pasta da Economia, que já de si tem um ministro politicamente frágil, vai ficar com um secretário de Estado ainda mais fragilizado. O problema de Carlos Oliveira é que ninguém sabia quem era. E o problema de Franquelim Alves é que toda a gente sabe, ou acha que sabe, quem é. Infelizmente na política, e por mais injusto que isso possa parecer, não basta ser, é preciso parecer” (texto de Pedro Sousa Carvalho, no Económico, com a devida vénia)