quarta-feira, fevereiro 06, 2013

Opinião: AUTÁRQUICAS

"I. Garantiram-me que o PS que apostar numa coligação de cidadãos também em Câmara de Lobos e que pretende gerir à sua maneira a questão eleitoral em Santa Cruz, nomeadamente por via da exigência de inclusão de um seu militante numa posição de elegibilidade garantida na coligação eleitoral "Juntos pelo Povo" - 6.449 votos, 32% em 2009, 3 eleitos - que tem beneficiado do apoio eleitoral do CDS, PTP e Bloco de Esquerda.
No caso de Santa Cruz, os socialistas estarão dispostos a não concorrer com uma lista própria - como fizeram em 2009, 2.625 votos, 13%, 1 vereador eleito - caso a coligação independente "Juntos pelo Povo" flexibilize as suas regras de "contratação". Sucede que os principais responsáveis pela lista de cidadãos não estão dispostos a abrir a lista a personalidades com envolvimento partidário, apesar de se reclamar como sendo uma “coligação de esquerda” mas curiosamente apoiada pelo CDS. Embora nada esteja decidido, e desconhecendo-se o que fará o PCP - 1.014 votos, 5% - é um facto que as autárquicas em Santa Cruz estão a mexer muito, sobretudo ao nível de bastidores. O próprio MPT - 950 votos, 4,5% - com canais privilegiados de contacto aos líderes da "Juntos pelo Povo", cuja figura principal (Filipe Sousa) foi antigo dirigente e deputado do PS, ainda não decidiu o que vai fazer, sendo importante neste contexto a opinião do antigo deputado e actual dirigente do MPT, Jaime Silva.
II. O líder do PS, Vítor Freitas, está apostado em concretizar uma coligação em Câmara de Lobos, tendo ainda alguma esperança na possibilidade do CDS - 1.618 votos, 10% e um eleito em 2009 - poder eventualmente envolver-se nessa proposta. Caso contrário os socialistas querem sobretudo capitalizar a favor da coligação (caso se concretize) os votos de todos os partidos, incluindo os do MPT - 2.129 votos, 13%, um eleito - e não têm a certeza do que vai resolver o PCP - 850 votos, 5% - quanto a esta questão. O PS poderá promover por estes dias uma reunião alargada aos seus potenciais parceiros para que sejam tomadas decisões que se resumem ao Funchal e Câmara de Lobos, já que o processo de Santa Cruz deve ser autonomizado das demais negociações.
Em 2009 o PS obteve 2.249 votos, 14% e um eleito, mas sabe que a votação conseguida pelo MPT, devido em grande medida à campanha realizada por João Isidoro - que mantem hoje contactos mais facilitados com Vítor Freitas o que não acontecia com as anteriores direções socialistas - é determinante. O objectivo do PS é que o MPT aceite envolver-se nessa coligação em Câmara de Lobos, da qual farão parte o PND - 901 votos, 5,6% em 2009 - o Bloco de Esquerda - 471 votos, 2,9% - e o PTP - não concorreu às autárquicas mas somou 983 votos, 5,5% nas regionais de 2011, obviamente à custa do MPT (908 votos, 5,1%). Admite-se, ao que julgo saber, que uma decisão política sobre Câmara de Lobos e Funchal - Santa Cruz poderá tardar mais - seja tomada ao longo do mês de Fevereiro. Mas a concretização de uma coligação, com ou sem o CDS, parece estar já definitivamente aprovada para Câmara de Lobos.
III. O que se passa com as candidaturas patéticas de Filipe Meneses no Porto e de Fernando Seabra em Lisboa, e outros mais, é uma vergonha. Vergonha para a política, vergonha para os políticos fazedores de leis abjectas e mafiosas, vergonha para os partidos e os seus dirigentes, vergonha para a democracia portuguesa.
No quadro de uma falsa ideia de prestigiar a política e garantir a renovação de eleitos, foi aprovada legislação impondo um limite de mandatos aos autarcas, impedindo assim que se eternizassem no poder. Não vou discutir se em democracia, onde o que conta é o voto soberano e livre dos cidadãos, deve haver lugar (e cabimento) a essa limitação de mandatos, por imposição consubstanciada numa lei, cortando a possibilidade de uma pessoa livremente se candidatar. Não vou por aí. A lei está publicada e ponto final.
O que se questiona é este expediente triste e mafioso de um presidente de Câmara, impedido de se recandidatar no seu concelho, poder ser candidato noutros, ou mesmo num concelho vizinho. O PSD, que anda a espalhar por todos os cantos e esquinas, moralismo e rigor ético na política, é o espelho dessa aldrabice, dessa fabricação de leis em função de determinados interesses, da preservação de estranhas ligações. Até o autarca das Caldas da Rainha, useiro e vezeiro em inflamadas intervenções nos congressos do PSD, é outro "artista" no aproveitamento de uma omissão legislativa que em meu entender foi deliberada, por falta de seriedade dos seus autores. Vem das Caldas da Rainha e não satisfeito com não sei quantos anos de executivo autárquico naquela cidade, quer ser agora presidente da Câmara de Loures por onde é candidato.
Meneses - que até conseguiu "meter" o filho na "entourage" mais próxima de Passos e no respectivo grupo parlamentar... - passa a ponte e troca Gaia pelo Porto. Fernando Seabra, mais conhecido como comentador desportivo nas televisões do que como autarca, desce do alto de Sintra para ser candidato em Lisboa. Fora outros casos que por aí vão. Uma vergonha, intolerável nos tempos que correm onde mais do que nunca se precisa da credibilização da política. É é lamentável que os tribunais competentes e os órgãos de soberania democraticamente eleitos pelos cidadãos (caso da Assembleia da República) sejam cúmplices desta aldrabice e tolerem que aos olhos das pessoas, a política fique mais porca e desacreditada e que os partidos sejam olhados como meros bandos de mafiosos aldrabões sem qualquer direito a respeitabilidade.
Penso que foi contra este chico-espertismo que tem vindo a permitir a criação e manutenção temporal de determinadas "quintas" que a lei foi aprovada pela Assembleia da República. O problema é que alguns "capatazes" se mostraram mais espertalhões que os legisladores! Salvo se entre uns e outros, como desconfio que aconteceu, existiu cumplicidade, como diz o povo, estavam todos feitos para que todo este processo desembocasse nesta palhaçada" (JM)