sexta-feira, fevereiro 01, 2013

Opinião: "A MONTANHA A O RATINHO…"

"A montanha pariu um rato. António Costa andou a dizer pela (e na) comunicação social que era candidato às "diretas" do PS e que reclamaria a antecipação do Congresso do PS para uma pretensa clarificação da situação interna. Com os "socráticos" estrategicamente colocados sob a sua opa, ei-lo (Costa) a chegar à reunião da Comissão Política, esta semana realizada no Largo do Rato, qual bandarilheiro em busca da sua presa, no pressuposto que daria uma estocada, apenas uma, e o "touro" Seguro ficaria prostrado.
Foi o que se viu. Não só o touro não ajoujou como esperneou e reagiu às ameaças. Seguro, rezam as notícias com base em fontes que transformam as reuniões partidárias de hoje numa coscuvilhice pegada e numa bufaria quase em direto, terá sido violento, inesperadamente violento no discurso, e enfrentado de peito aberto as "balas", não se curvando nem ante um enigmático (afinal, o que é que quer?!) António Costa bem como Silva Pereira (a voz do dono de Sócrates). Seguro foi mais longe ao anunciar a candidatura como demonstrou - e tinha referido essa questão muito importante num texto anterior - ter o "controlo" das estruturas intermédia e de base do partido, o que imediatamente retirava espaço de manobra e capacidade de persuasão aos seus críticos.
Seguro fez um trabalho invisível de consolidação do seu poder interno, de afirmação da sua liderança, do seu calendário e das suas propostas e programa. António Costa jogou com o facto de liderar a maior Câmara do país (Lisboa) e de supostamente ter uma imagem eleitoral melhor que a de Seguro, apesar de ambas terem sido construídas na (e pela) comunicação social, com todos os riscos de vulgarização e efemeridade que decorrem dessa situação.
Cedo se percebeu que isso não chega e que provavelmente Costa se arriscaria a uma humilhante derrota interna, imposta pelas bases do PS que são quem elege os líderes, não os jornais e muito menos as televisões. Um cenário desses, potencialmente credível, questionaria e poderia mesmo inviabilizar a sua recandidatura a Lisboa.
É sabido que desde os tempos de Sócrates da derrota nas legislativas de Junho de 2011, o PS tem uma relação difícil com a comunicação social, pelo simples facto de que muitos sectores "da outra senhora" socialista, entretanto substituídos pela era-Seguro, responsabilizam-na (a comunicação social) pelo desaire eleitoral socialista e pela perseguição que segundo eles terá sido movida a Sócrates. Por isso, qualquer candidatura "fabricada" na (e pela) comunicação social é olhada com desconfiança. Costa assentava claramente nesse pressuposto além de que não se livrou da ideia de que queria muita coisa ao mesmo tempo e que tentou impor ao PS a agenda e o calendário que melhor lhe serviam.
Em resumo, António Costa entrou de "peito cheio" na reunião mas rapidamente recuou, não só abdicando de anunciar a candidatura à liderança do PS, como disponibilizando-se para ser candidato à Câmara de Lisboa, decisão que obviamente cabe ao PS e não a ele. Claro que Seguro sancionou de imediato tal pretensão de Costa que saiu desta reunião claramente fragilizado ou, melhor dizendo, posto no seu lugar.
É preciso ter presente que o PS aposta tudo numa crise política e social este ano, à medida que os portugueses sofrerem cada vez mais com a austeridade - o défice para 2013, a confirmação do défice de 2012 e as implicações do tal corte de 4 mil milhões nas despesas do Estado - e forem tendo a noção das roubalheira deste governo de coligação ladrão, fruto, entre outras coisas, de uma criminosa carga fiscal de que não há memória.
Este governo de coligação é um governo desacreditado, sem apoio popular, com medo das pessoas, cada vez mais olhado como estando ao serviço dos capitalistas europeus, que estão a destruir a Europa, dos mercados, da banca e da especulação, em vez de ter a coragem de se afirmar, vivendo apenas de fogachos que tenta transformar, por via da propaganda idiota que o acompanha, em acontecimentos à uma escala planetária, tudo em nome de uma tentativa de sobreviver a um ciclo de desgaste que poderá ser irreversível.
Tenho para mim que os próximos 2 a 3 meses serão decisivos. O PS está por isso à espera, qual lobo esfomeado às portas de um galinheiro, mas centrando as suas atenções, como lhe compete, nas autárquicas, nas quais uma derrota eleitoral em grande escala poderá colocar em causa a legitimidade do governo de coligação, naquele que será o primeiro embate eleitoral depois de Junho de 2011 e originar graves problemas internos nos dois partidos da atual maioria. Porque no ano seguinte (2014) seguem-se as europeias numa Europa claramente em mudança política e ideológica, fruto da crise social, económica e financeira que a está a destruir a União.
As bases do PS sabem outra coisa ainda: Seguro não concorreu até hoje a qualquer ato eleitoral, lidera todas as sondagens, com uma vantagem estabilizada sobre o PSD e de acordo ainda com uma outra sondagem mensal dedicada a esse tema, tem sido considerado repetidamente o melhor líder para o PS. Porventura sê-lo-á para o governo de coligação, devido à alegada fragilidade do líder socialista. Não quero contrariar esta ideia, nem subscrevê-la, pelo simples facto de me ser indiferente. Constato que o PS está amarrado ao memorando de entendimento que negociou e assinou, depois da falência do país que historicamente tem a sua chancela e a de Sócrates. Os portugueses sabem que estão hoje nesta situação por causa dessa irresponsabilidade criminosa dos socialistas.
Uma nota final sobre a forma desonesta e impressionante como este recuo (para alguns uma derrota) de Costa, foi analisado nalguma comunicação social e "justificado" por esta e por algumas das figuras socialistas que reclamam a queda de Seguro, como se se tratasse de um epílogo natural e normal, como se não tivesse havido precipitação e, porventura, demasiada ambição pessoal que em política por vezes se paga bem caro.
Aliás, estou cada vez mais convencido de que os portugueses não precisam fazer nenhum esforço para perceberem por que razão a maioria e o governo de coligação recusaram na Assembleia da República legislação destinada a dar mais transparência ao sector da comunicação social, e que pretendida divulgação da identificação dos titulares (donos) dos meios de comunicação social. E percebe-se porque a partir dessa divulgação seria possível elaborar uma rede tentacular de ligações e de interesses que poderiam justificar o que alguns pretendem esconder.
Quanto ao PS, estou convencido que teremos uma espécie de paz podre, pelo menos até as autárquicas ou, hipótese a considerar, se a evolução da situação social e política no país se degradar ainda mais" (JM)