domingo, dezembro 23, 2012

‘Troika’ recua e autoriza reforço de 432 milhões para pagar dívidas da Saúde...

Li no Económico num texto da jornalista Catarina Duarte que “o Ministério da Saúde vai afinal contar com um reforço de 432 milhões de euros para pagar dívidas dos hospitais aos fornecedores. O segundo Orçamento Rectificativo, ontem publicado em Diário da República, inclui esta verba, mas o dinheiro só pode ser usado em 2013, confirmou ao Diário Económico fonte do gabinete de Paulo Macedo. O reforço da dotação tinha sido inscrito no segundo Orçamento Rectificativo (OR) deste ano, entregue no Parlamento a 15 de Outubro, mas a ‘troika' chumbou a operação por considerar que houve acumulação de nova dívida ao longo de 2012. As entidades internacionais permitiam a utilização do dinheiro já este ano, mas a contrapartida seria reflectir no défice esta despesa. O ministro da Saúde não desistiu, contudo, de tentar encontrar uma solução para continuar com a estratégia de pagamento das dívidas vencidas. Questionado pelos jornalistas, à margem de uma conferência na semana passada, sobre o destino dos 432 milhões inicialmente inscritos no OR, Paulo Macedo admitiu que o assunto ainda estava a ser analisado com os credores internacionais. A autorização para utilizar o dinheiro chegou a Lisboa nos últimos dias, soube o Diário Económico. O argumento usado para convencer as autoridades internacionais passou pelo argumento do "bom aluno". Fonte oficial do Ministério da Saúde explicou que "a ‘troika' reconheceu que o SNS está a fazer um esforço muito grande para reduzir despesa e os desequilíbrios estruturais que persistem nalguma entidades", um processo que "demora algum tempo até se tornarem visíveis os resultados, mas espera-se que a situação melhore até ao final do mês de Dezembro". A mesma fonte acrescentou que "o desembolso do Orçamento do Estado tem lugar em 2012 e será transferido para o Ministério da Saúde", mas "transitará num saldo de gerência para o ano de 2013 devendo os pagamentos a fornecedores terem lugar a partir de Março". Esta não é a primeira vez que Paulo Macedo leva a melhor sobre a ‘troika'. O memorando de entendimento assinado em Maio de 2011 proibia a constituição de novas Parcerias Público-Privadas. Mas o ministro da Saúde não escondeu desde o primeiro momento o desejo de avançar com o novo Hospital de Todos-os-Santos e acabou por receber luz verde da ‘troika' para avançar com o projecto. Os 1.500 milhões de euros que a Saúde recebeu em Abril (no primeiro Rectificativo) para pagamento de dívidas a fornecedores também tiveram o aval da ‘troika', mediante a garantia de que não haveria nova acumulação de dívida no Serviço Nacional de Saúde. Uma condição que não terá sido cumprida - a dívida voltou a acumular-se em cerca de 230 milhões de euros ao longo deste ano. Terá sido este o motivo inicial para a ‘troika' chumbar o segundo reforço de 432 milhões.
O pagamento dos 1.500 milhões de euros de dívidas permitiu uma poupança de cerca de 60 milhões de euros em descontos e juros. O pagamento de mais 400 milhões poderá vir a multiplicar esta poupança. Este terá sido outro dos argumentos usados para convencer a ‘troika' a autorizar a operação em 2013. Indústria farmacêutica tem de devolver 56 milhões ao EstadoApifarma e Ministério da Saúde voltam à mesa das negociações. As empresas da indústria farmacêutica vão ter de devolver ao Ministério da Saúde 56 milhões de euros por terem falhado o acordo de redução da despesa com medicamentos. O protocolo assinado em Maio entre o Governo e a Apifarma (que representa a indústria) previa uma poupança de 300 milhões de euros com remédios, nas farmácias e nos hospitais. A redução da despesa no ambulatório cumpriu a meta estipulada, mas no meio hospitalar os últimos dados do Infarmed mostram que a queda da despesa não foi tão significativa como era de esperar. Daí que haja lugar a um ‘pay back' do lado da indústria farmacêutica na ordem dos 56 milhões de euros, apurou o Diário Económico. O Ministério da Saúde e a Apifarma voltaram nas últimas semanas à mesa das negociações para renovar o protocolo para 2013. Para cumprir a meta da ‘troika' - que impõe que a despesa pública com medicamentos não pode ultrapassar 1% do PIB no próximo ano - o Governo inscreveu no Orçamento do Estado um corte de 333 milhões de euros na despesa com medicamentos. Foi este o valor que o Governo levou para a mesa das negociações, mas que a Apifarma recusa totalmente sem, contudo, ter ainda apresentado nenhum valor para negociar. Um dos argumentos usados pela indústria farmacêutica junto do Executivo é que o corte previsto é incomportável e levará à fuga de multinacionais. Uma situação que levaria ao aumento das importações de medicamentos, agravando a balança de transacções correntes.
O Diário Económico sabe que as negociações estão extremadas e que a Apifarma aguarda que o Governo apresente medidas para cortar despesa que envolvam outros ‘stakeholders'. Tal como o Diário Económico avançou, um documento interno do Governo sobre a sexta avaliação da ‘troika' prevê já uma alteração aos países de referência, o que levará a um corte médio de 8% no preço dos medicamentos em 2013. A divulgação inédita de um documento deste tipo causou mau estar no Ministério da Saúde, já que veio pressionar as negociações com a Apifarma, sabe o Diário Económico”.