"Hoje é véspera de Natal, um Natal que será de dificuldade para muitos cidadãos, que não trará nada a milhares de crianças, um Natal onde milhares de pessoas voltam a não ter esperança, deixaram de sonhar, de ter objetivos de vida. Tudo porque estamos reféns de um poder bandalho que a pretexto da “salvação da pátria” destrói a sociedade, destrói as famílias, empobrece o povo, roubando nos salários, aumentando nos impostos, facilitando o desemprego, aprovando leis para que o despedimento seja aliciante, enfim, um poder bandalho e ilegítimo (não representa hoje mais de 13% dos portugueses), provocador e convencido, incompetente e corrupto que nem merece o Natal que atravessamos e que apesar de tudo desejamos seja uma curta quadra de paz, de família, de alegria, tanto quanto possível.Hoje, véspera de Natal, trago-vos dois contos alusivos a esta data, dois contos que guardo religiosamente nos meus arquivos porque me dizem muito:
1. “Era uma vez uma família pobre, que vivia numa casa muito velha numa aldeia transmontana. Clarinha acordou muito feliz, era véspera Natal. Ela sabia que nesse dia o Pai Natal visitava todas as crianças e lhes deixava os seus presentes. Nessa noite, Clarinha quase nem dormiu com tanta ansiedade. Como não tinha árvore de Natal, deixou a sua meia pendurada na janela para que o Pai Natal lhe deixasse lá o seu presente. Na manhã seguinte, reparou que a sua meia estava vazia e que não havia presente nenhum. O seu pai, homem doente e desempregado, observava atentamente a filha, com muita tristeza. E então chamou-a:
- Clarinha, vem cá!
A menina com os olhos cheios de lágrimas sentou-se no seu colo e disse:
- O Pai Natal esqueceu-se de mim, papá! Porquê?
O pai não conseguiu conter as lágrimas, que lhe escorriam nas faces. Então a menina ao ver o pai a chorar perguntou:
- Porque choras papá? O Pai Natal também se esqueceu de ti?
E então o pai disse:
- Não, minha filha, o Pai Natal não se esqueceu de mim porque me deu o melhor presente que algum dia eu poderia ter. Esse presente és tu e eu sei que o Pai Natal também não se esqueceu de ti, porque te deu uma família que gosta muito de ti e que deseja que sejas feliz.
Nesse dia, o pai, mesmo doente, levou a sua filha para um passeio na montanha, brincaram todo o dia, regressando no começo da noite. Nessa noite Clarinha decidiu escrever uma carta ao Pai Natal, dizendo:
- “Querido Pai Natal, quero agradecer o presente que me deu. Desejo que todos os Natais sejam com o meu pai, que as nossas brincadeiras o façam esquecer dos problemas e que ele se possa distrair comigo, passando um dia maravilhoso como o de hoje. Obrigada pela minha vida, pois descobri que não somos felizes só com brinquedos, mas sim com o verdadeiro sentimento que está dentro de nós e que o Pai Natal desperta todos os anos. Obrigada. Clarinha.” E adormeceu, com um sorriso nos lábios. O pai de Clarinha quando viu a menina a dormir, aconchegou-lhe os velhos cobertores para que não tivesse frio. Nesse instante viu a cartinha que ela tinha escrito ao Pai Natal e leu-a. A partir desse dia, o pai da menina não deixou que os seus problemas afectassem a sua felicidade e começou a fazer de todos os dias, um dia de Natal”.
2. “Meu querido Pai Natal
Não recebeste a carta que te escrevi?
Tive tanto trabalho a fazê-la, escrevi tão devagarinho para a letra ficar bonita, relia-a tantas vezes para não cometer erros, se algum escapou, desculpa, ninguém me ensinou a ler e a escrever. Ainda pensei que este ano não pudesses responder às cartas que recebeste, já estava conformado, mas soube que destes muitos presentes aos outros meninos, e eu não recebi nada. Se a recebeste, porque não leste? E se leste porque não me respondeste? Nada te pedi nada que fosse caro e tu bem sabes quanto preciso de umas sandálias, mesmo velhinhas, daquelas que os outros meninos deitam fora, porque tenho os pés tão doridos por andar descalço. Os meninos a quem tu deste todos os presentes, andam tão bem vestidos; mas eu só queria uma roupa velha para cobrir o meu corpo. Ouvi dizer que os meninos a quem tu deste todos os presentes, vivem em casas bonitas; mas eu só queria um teto, mesmo de palha, para me abrigar. Os meninos a quem tu deste todos os presentes, são saudáveis; mas eu só queria que curasses as minhas feridas. Disseram-me que os meninos a quem tu deste todos os presentes, vivem com os pais, eu só queria que me ajudasses a encontrar os meus. Também ouvi dizer que os meninos a quem tu deste todos os presentes, têm muito para comer; mas eu só queria uma sopa para não ter fome no Dia de Natal, pelo menos nesse dia. Não mereci a tua resposta e pedia-te tão pouco, o que seria muito para mim que não tenho nada. Adeus Pai Natal, muitos beijos, e para o ano volto a escrever-te, quem sabe se então terei resposta”.
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A todos aqueles que fazem o favor de me aturar, aos que se dignam ler este escriba, a todos os que fazem o favor de ser meus amigos e minhas amigas, aos que em ajudaram, aos que independentemente de pensarmos de forma diferente, respeito o direito que temos de ser amigos, aos meus adversários políticos, pelo simples facto de que têm opções diferentes das minhas, e que não se podem confundir com qualquer forma de inimizade nas relações pessoais, os meus votos de um bom Natal, tanto quanto possível, na certeza de que vamos precisar de encontrar ânimo, muito ânimo - se é que o vamos encontrar - para enfrentarmos um ano de 2013 que há dias se confirmou vai constituir provavelmente o maior desafio das nossas vidas, de certeza para a minha geração. Ânimo para podermos fazer o que tem que ser feito, a começar pelo derrube de quem se afirma no poder à custa da bandalhice e do roubo indiscriminado dos cidadãos, através dos salários, das pensões, das reformas, nos cortes das responsabilidades do Estado no âmbito das suas funções sociais, etc.
Uma quadra que, no que me toca, não posso passar sem a minha família, e sem recordar aqueles que preenchem as minhas memórias, uns porque foram partindo desta para outra vida e não os devemos esquecer, outros porque partiram demasiado cedo, mas que não é por isso que deixam de ser lembrados" (in JM)