segunda-feira, outubro 29, 2012

Há registo de jovens tratados no Hospital de Ponta Delgada: Drogas legais levam a distúrbios e põem os jovens na rota da morte

Escreve o Correio dos Açores que "todos os dias chegam às urgências do Hospital do Funchal, na Madeira, 3 a 4 casos relacionados com o consumo de drogas legais. Quatro casos acabaram em morte, por falência de órgãos. Para além disso, há já mais de 150 jovens internados em instituições. A Madeira é a única zona do país onde há números sobre esta questão, no resto do país não foi feita a referenciação. Em São Miguel, na cidade de Ponta Delgada já há uma Smartshop, onde é possível encontrar um pouco de tudo para quem a procura. E já são alguns os casos de pessoas que, por ingerirem estas drogas, já foram tratadas na Urgência do Hospital do Divino Espírito Santo. Os médicos alertam: “estas substâncias pouco conhecidas prometem viagens psicadélicas, mas algumas destas podem não ter regresso”.
Doces que podem matar
Na edição do dia 5 de Outubro, a Revista, publicação integrante da edição do jornal Expresso desta mesma data avançava com uma reportagem intitulada “Drogas ilícitas: Parecem doces, mas podem matar”, onde é referido que “as smarthops proliferam pelo país” e que “sem controlo nem regulamentação eficaz, a situação é de alto risco”. Os casos relatados são vários e chegam a chocar o leitor. “Em Junho deste ano M. estava de férias no Algarve com os pais e um grupo de amigos. Maioritariamente eram estrangeiros, todos jovens. M. é uma rapariga, tem 16 anos. Uma noite chega de Lisboa um outro amigo para se juntar ao grupo. Propõe uma festa. Traz consigo um pacote com amanita muscaria, uma substância poderosa extraída de um fungo, vulgarmente conhecida como cogumelo alucinogénio, que comprou numa smartshop no centro de Lisboa. Preparam-se para o consumo, provavelmente a ideia era sonhar. Estavam em casa, num espaço confortável, semideitados. A música era suave. Não sabemos se M. e os amigos fizeram antes uma pesquisa num site sobre drogas onde, entre outros detalhes, se pode ler: “Atenção, este cogumelo é de consumo difícil pois os efeitos são imprevisíveis. A trip pode durar cinco a 10 horas.” Sabemos que para M. era a primeira vez. Horas depois todos voltaram ao estado normal. Ela não. Explicava que sentia o corpo em total deformação, os braços a multiplicarem-se. Tinha perdido a referência do lugar onde estava, o discurso era confuso. Não conseguia sair do estado de alucinação, tiveram de a levar de urgência para o hospital de Faro. Foi imediatamente medicada com um antipsicótico e um tranquilizante que a pôs a dormir. Quando voltou para casa permaneceu durante algumas semanas sob o efeito do surto psicótico, desencadeado pelo consumo daquela substância. Continuava a ter alterações no pensamento, sentia uma insegurança extrema. Não queria sair do quarto, janelas fechadas, com medo das forças exteriores que poderiam atingi-la e, novamente, deformar-lhe o corpo”. O relato veio pela voz de Graça Vilar, psiquiatra, directora clínica do Instituto da Toxicodependência que acompanha M.. Seguiu-a durante um mês. A última vez que a viu, estava ainda receosa nunca mais queria repetir. O sofrimento porque tinha passado fora devastador.
João, 34 anos, é chefe de vendas de uma multinacional e contou à Revista o que se passou consigo e com a namorada. “Era um homem saudável, um desportista, com uma vida profissional estável e bem-sucedida. Perto dos 30 anos começou a consumir cocaína. Tornou-se consumidor regular. Quando percebeu que o caos estava prestes a instalar-se decidiu largar. Fez uma desintoxicação numa clínica. Cortou com velhos hábitos. Há um ano, alugou com a namorada uma casa de fim-de-semana perto do mar. Um dia repara na loja em frente a casa, ainda não tinha dado por ela. Nesse dia, estava a fa¬er um churrasco no jardim e o letreiro luminoso piscou-lhe o olho: “Free your mind.” Foi isto que ele leu, na realidade a loja chama-se Freemind. “Não sabia o que era.” No dia seguinte entrei. “Primeiro vi os óleos, os estimulantes, os comprimidos para serem experimentados a dois, é a zona da sex-shop.” Todas estas lojas têm uma secção de estimulantes sexuais. João continuou a investigação: “A seguir, comecei a ver os cachimbos, os bongos, as mortalhas, toda a parafernália de acessórios para o consumo da cannabis. João e a namorada começaram a experimentar. Todos os fins-de-semana, os dois sozinhos na casa da praia. Bloom, blow, bliss, pozinhos mágicos que se podem adquirir nas lojas e nos sites a partir de 15 euros, com informações sobre a posologia, os efeitos e a duração. Prometem, no mínimo, euforia e desinibição social. Tudo legal. “Pensei que fosse um selo de garantia”, diz-nos João.
Até ao fim-de-semana da tragédia. “Acho que o problema foi com um bliss, nem sei bem. Percebemos a diferença pelo sabor, talvez fosse especialmente amargo. Perdi a percepção da realidade, deixei de saber quem era. Olhava para a minha companheira e também não sabia quem era, parecia-me outra pessoa. Lembro-me de lhe começar a perguntar: ‘O que é que estás aqui a fazer?’ Dizia coisas que comecei a interpretar mal. Depois apaguei. Ainda hoje não consigo distinguir se sonhei ou se vivi.” João viveu mesmo um pesadelo. Atingiu um grau de agressividade tão descontrolado que quase pôs em perigo a vida da namorada.
Importadas como incenso ou fertilizante
O que possibilita a venda de algumas destas substâncias nas smartshops é um ovo de Colombo. A maioria é importada como incenso ou fertilizante. “É assim que entram no mercado grossista, que não as identifica para a comercialização a que se destinam. Só posteriormente é que são empacotadas, em pequenas quantidades, e postas à venda nas lojas”, explica João Goulão, presidente do IDT. Um destes pequenos pacotes chama-se charlie, o fertilizante-sensação do momento no site da Magic Mushroom, à venda online e nas dez lojas que a cadeia tem espalhadas pelo país. No verso pode ler-se: “Fertilizante para plantas que estimula o desenvolvimento e crescimento da folha e raiz. É apropriado para uso de plantas de interior e exterior. Atenção: manter longe do alcance das crianças. Charlie é um fertilizante para plantas. Não somos responsáveis pelo seu uso inadequado.” Esta advertência repete-se na maioria das embalagens dos produtos à venda"