segunda-feira, abril 23, 2012

Açores: “Todos os doentes internados no Hospital do Divino são medicados com genéricos”

Escreve o Correio dos Açores que “tem-se falado muito de genéricos e dos receios que as pessoas têm de trocar o seu habitual medicamento, de referência, por um genérico. Madalena Melo, directora da Farmácia do Hospital do Divino Espírito Santo de Ponta Delgada, e Isabel Cássio, directora do Serviço de Cirurgia Vascular do mesmo hospital, explicaram no encontro promovido pela Associação Seniores de S. Miguel que os genéricos são eficazes e seguros. Então porque razão os médicos têm tantas dificuldades em prescrever genéricos? I sabel Cássio, como médica, assumiu que os médicos também têm falta de informação sobre os genéricos, mas garante que já prescrevem desde há muito tempo os medicamentos por substância activa, ou seja genéricos. Mais. “Todas as pessoas internadas no hospital são medicadas com genéricos. No hospital, quer se queira quer não, qualquer pessoa é medicada pelo princípio activo e não pela marca. Temos de acabar com as marcas, o que nos interessa é o princípio químico”. A tendência é caminhar-se cada vez mais para a prescrição de genéricos. A directora do Serviço de Cirurgia Vascular do HDES e associada da promotora do encontro sobre saúde, disse claramente que os médicos, desde Janeiro, com a prescrição electrónica, quase que são obrigados a passar genéricos. Para sustentar a sua tese, sublinhou – e demonstrou - que actualmente o médico quando passa um medicamento de referência o computador lembra que há outros medicamentos mais baratos e com o mesmo princípio activo que o de referência. E se o médico insistir em passar o de referência, o computador vai, durante as várias fases da receita, lembrar que há medicamentos mais baratos. E se o médico insistir, na receita que o cliente leva fica inscrito que existe um medicamento com as mesmas características que lhe custava menos. “Os médicos são compelidos a passar genéricos” e hoje em dia já não pode dizer que não sabe quais os medicamentos mais baratos, porque é-lhe fornecida toda a panóplia de informação relativa ao medicamento e outros com o mesmo princípio activo, e apresentados os preços. Portanto, para a médica hoje em dia já não há desculpa para não passar genérico. Mas também há doentes que não querem genéricos e a esses Isabel Cássio diz-lhes; Eu tomo genéricos e dou genéricos à minha filha”. Uma maneira de garantir ao doente que o medicamento é seguro. No entanto, a médica adverte para o facto de ter que haver cuidado. Se uma pessoa tomar um medicamento genérico de um determinado laboratório deve continuar com o mesmo para haver uma continuidade, e não se andar a mudar de laboratório em laboratório, só pelo preço. Daí ser importante que na farmácia não se mude de genérico. Também as pessoas mais velhas devem ter cuidado com as caixas dos genéricos porque são parecidas e para não trocarem os medicamentos. “Há que sensibilizar as pessoas para olharem para o produto químico e não para o nome do laboratório”. Isabel Cássio opina que há indústria farmacêutica, que para não perder quota de mercado, produz no mesmo dia, no mesmo lote, medicamentos iguais e depois divide-os por caixas. Os mesmos comprimidos, por exemplo, são embalados em caixas de genérico e outros em referência.
E o farmacêutico...
Na perspectiva do farmacêutico, Madalena Melo começou por dizer que o uso de genérico é normal e é prescrito em Portugal há muitos anos, não havendo falta de segurança, muito pelo contrário: Os de referência já foram testados em muita gente, mais do que quando fizeram ensaios para eles, o que quer dizer que são seguros, porque os genéricos para entrar no mercado já têm atrás de si toda a experiência dos de marca, em pelo menos 20 anos depois do original. “Isso implica uma segurança acrescida pelo vasto tempo de utilização no mercado. O genérico tem a mesma substância activa, a mesma dosagem, a mesma forma terapêutica (xarope, ampolas, comprimidos), a mesma indicação terapêutica”, regista a directora da Farmácia do Hospital do Divino Espírito Santo de Ponta Delgada. Acresce ainda outras vantagens. Madalena Melo lembra que são 35% mais baratos do que os de referência. Tem um menor custo para o utente e um menor custo para o Estado. Lembrou que vários países têm já uma grande penetração de genéricos, como é o caso, por exemplo, da Dinamarca (68%) e da Alemanha (57%), enquanto Portugal se situa nos 22%. Mas quais são as barreiras à entrada de genéricos no mercado? A começar, diz Madalena Melo, no nosso país os genéricos demoram mais de seis meses para entrarem no mercado, penalizando utentes e Estado. Há laboratórios que prolongam a sua patente recorrendo ao tribunal, e há outros que têm a aprovação do INFARMED mas que têm a entrada no mercado suspensa por decisão de vários tribunais administrativos. Isto é, sempre que um laboratório tenta penetrar com um medicamento genérico acaba por ter problemas com o laboratório que detém o medicamento original. Este recorre ao tribunal e até que o medicamento entre no mercado passa muito tempo. Mas o Governo, lembra a especialista em farmácia, quer acabar com essas barreiras aos genéricos. E há também cada vez mais pessoas que recorrem a esses medicamentos. Tanto assim é que até os grandes laboratórios de referência já produzem genérico. A terminar, Madalena Melo lembrou que também os genéricos são bons como os de referência, aumentam a esperança média de vida, têm um tratamento eficaz e seguro para muitas das doenças crónicas, como por exemplo hipertensão, dislipidémia, osteoartrite, diabetes, e com um custo inferior”.

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