terça-feira, novembro 02, 2010

Sobre comunicação social (II)

- O pluralismo está, neste momento, posto em causa na comunicação social madeirense?
Na Madeira, e por razões que não vou comentar porque acho que as pessoas facilmente entendem, politizou-se demasiado, se preferirem, partidarizou-se indevidamente, o debate em torno de questões da comunicação social, do exercício do jornalismo, dos problemas dos jornalistas, etc, que deveria ser completamente mantido à distância de opiniões de políticos e de partidos que são sempre sectárias, interesseira e que visam usar, repito, usar, o sector e os seus profissionais para estratégias políticas que assentam apenas no mediatismo informativo., como se isso fosse exercício da política.
Repare que na Madeira praticamente todos os partidos vivem em função da presença na comunicação social, das conferências de imprensa, etc. Não têm actividade política concreta. Promovem visitas a um lugar qualquer e quando os jornalistas lá chegam confrontam-se com dois ou três dirigentes partidários e uma conferência de imprensa improvisada. Sem essa presença na comunicação social os partidos não “existem” porque não fazem mais nada fora do eixo Assembleia Legislativa -Comunicação Social. Na televisão nacional não se vê nada disso. Não há uma obrigatoriedade de presença dos partidos nos noticiários, muito menos quando não têm nada para dizer. Ninguém anda a medir com calculadora e cronómetro essa presença, salvo a ERC. Depois há aqueles indivíduos sem escrúpulos que, por vaidade e ambição pessoal, que quando não são convidados para programas de rádio e televisão, atacam logo os meios de comunicação e desacreditam os jornalistas, tudo por não terem sido convidados.
A verdade é que no caso da Madeira e dos Açores, o relatório da ERC sobre a RTP se limita a cronometrar tempos, como se se tratasse de uma contabilidade de mercearia. E como no caso da Madeira os tempos desmitificaram os argumentos e a teoria ”vendida” por alguns partidos da oposição, a resposta destes, no fundo o argumento dos fracos e dos vencidos, foi a de duvidar da credibilidade do relatório. Tal como duvidam e atacam os organismos de estatística quando os números por eles divulgados não lhes interessam, numa perspectiva política e de propaganda.
Na Madeira o PS acusa o PSD de, por causa do JM, tentar manipular a informação (um absurdo, porque não sabia que um jornal bastava para manipular e controlar a informação em geral). Mas nos Açores, a situação inverte-se e vemos o PSD local acusar Carlos César e o PS dos Açores, que são poder (!) de perseguirem e ameaçarem jornalistas e meios de comunicação. Ainda recentemente o Presidente do Governo atacou violentamente a RTP e a RDP locais por causa da notícia sobre a suspeita de que a secretária regional alterou uma portaria para alegadamente beneficiar o filho.
Não ouvi ninguém criticar os quase 500 mil contos gastos pelos Açores na transmissão do programa sobre as “7 maravilhas de Portugal”. Um valor que é, presentemente, o dobro da publicidade institucional paga anualmente pelo Governo Regional da Madeira à comunicação social regional.
Mas este ano tivemos uma enorme polémica nos Açores sobre a publicidade do Governo Regional nos meios de comunicação social com denúncia de situações de exclusão propositada por motivações políticas. Isso é conhecido e está publicado na imprensa local. Não me lembro de ter visto o assunto debatido na comunicação social regional.
No plano nacional, nem abordo o tema, porque a realidade é de tal maneira promíscua, em termos de dependências, de pressões, de manipulações, de interesses empresariais, que se cruzam, que sinceramente desconfio que alguém quer debater a realidade dos média. Aliás, os despedimentos têm sido constantes, o encerramento de órgãos de informação são frequentes, o endividamento das empresas atinge montantes astronómicos, tudo isso deveria constituir motivo de reflexão e de discussão dos jornalistas, uma classe que, ao invés, me parece mergulhada numa espécie de egoísmo sectário institucionalizado, em que cada um puxa para o seu lado, ignorando o que aconteça ao parceiro do lado. Há uma luta pela sobrevivência em que vale tudo.
Portanto, e em resumo, acho que o sector paga pelos erros, cometidos por culpa própria, de envolver a política e os partidos em discussões que não lhes competiam, abrindo as empresas, as redacções e inclusivamente discutindo critérios editoriais ou redactoriais na praça pública, quando essa matéria deveria ser reserva absoluta dos meios de informação e dos seus profissionais, e por isso adequadamente blindada, o que não acontece. Temo que a continuar por este caminho, vamos ser confrontados com tristes factos na Madeira, porque dificilmente numa situação de crise haverá a garantia de sobrevivência para todos, com todos os dramas daí resultantes. Lamento profundamente se isso acontecer e espero que esteja enganado.
Não creio, por tudo o que referi anteriormente, que haja ameaça à liberdade de imprensa, ainda por cima num contexto onde a internet -outra ameaça que foi erradamente desvalorizada – constitui cada vez mais um instrumento concorrencial, particularmente no domínio das receitas publicitárias. Há quanto muito decisões empresariais que devem ser tomadas e não podem ser mais proteladas.
Esta semana fiquei a saber que a publicidade na internet, nos EUA, atingiu no primeiro semestre quase 9 mil milhões de euros, mais 12%% que no período homólogo anterior. Na Europa o fenómeno segue a mesma tendência, numa altura em que o debate se centra nas medidas a tomar relativamente ao acesso aos conteúdos na internet. Em França a publicidade na televisão estatal foi abolida, mas o Le Monde está ameaçado de encerramento, pese soluções de recurso encontradas à pressa. Em Espanha, apesar de subsistir a polémica, a RTVE continuará sem publicidade institucional. Recordo-lhe que em Maio do ano passado li um texto dando conta da falência dos principais jornais do mundo no qual era referido que “sabemos que quando chegam as crises, os grandes empresários reduzem os custos com os trabalhadores. Diariamente, milhares de trabalhadores de todo o mundo vão para a rua. As rotativas funcionam a meio gás e as notícias sobre as falências e os encerramentos dos principais diários do globo sucedem-se uma após outra, testemunhos do capitalismo do papel que se desfaz no ar”. Não podemos cotninuar a ter a veleidade de pensar que essa triste realidade acontece apenas...lá fora
" (LFM)

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