"A economia portuguesa deverá registar uma estagnação em 2011, após o crescimento de 1.2 por cento projectado para 2010. Esta evolução resultará do efeito conjugado da contracção da procura interna, a partir da segunda metade de 2010, com o abrandamento das exportações em linha com o crescimento da procura externa dirigida às empresas portuguesas. Para os preços no consumidor perspectiva-se um crescimento de 1.8 por cento em 2011, após um aumento de 1.4 por cento em 2010, num contexto em que se admite um crescimento moderado dos custos salariais e um aumento dos preços nos mercados internacionais, nomeadamente das matérias-primas. Os riscos da projecção são marcadamente descendentes no que se refere à actividade económica e encontram-se exacerbados pelo facto de apenas se incluir o conjunto de medidas de política orçamental que satisfaz os critérios acordados no âmbito dos exercícios de projecção do Eurosistema, ou seja, as medidas especificadas com detalhe sufi ciente e já aprovadas em termos legais, ou com elevada possibilidade de aprovação legislativa. Pelo contrário, os riscos em torno da projecção de inflação são equilibrados.
Em comparação com o Boletim Económico do Verão de 2010, o crescimento do PIB é revisto em alta em 2010, reflectindo um crescimento superior ao esperado tanto da procura interna como das exportações. Em 2011, a actividade económica é revista ligeiramente em baixa, reflectindo um menor crescimento da FBCF, num contexto em que as exportações são ligeiramente revistas em alta. A actual projecção implica a manutenção da projecção para a inflação em 2010 e uma ligeira revisão em baixa para 2011, associada ao aumento inferior ao esperado tanto do preço do petróleo como do preço das importações.
A evolução da economia portuguesa em 2011 será fortemente condicionada pelo processo de consolidação orçamental, bem como por alguma dinâmica de redução do endividamento do sector privado. No actual quadro de diferenciação marcada e persistente do risco soberano na área do euro e dada a natureza temporária das medidas de política não convencionais do Eurosistema – que têm assegurado o financiamento externo da economia portuguesa –, o inadiável processo de ajustamento económico tenderá a intensificar-se a partir da segunda metade de 2010. Permanece, no entanto, uma elevada incerteza sobre o grau e o ritmo de materialização deste processo no horizonte de projecção. O que pode afirmar-se com segurança é que a economia portuguesa enfrenta actualmente um conjunto de desafios particularmente exigentes, que condicionarão as decisões dos vários agentes económicos nacionais no futuro próximo. De facto, a persistência de constrangimentos ao financiamento externo tenderá a acelerar e acentuar o indispensável ajustamento dos balanços dos agentes – públicos e privados –, tendo em conta a manutenção de elevadas necessidades líquidas de financiamento externo no período recente. No contexto de uma união monetária, e em condições normais de funcionamento dos mercados financeiros, um processo de desalavancagem da economia poderia processar-se de forma gradual, com a possibilidade de alisamento do ajustamento entre o sector público e privado. Em contraste, no actual contexto de segmentação e diferenciação de mercados soberanos no seio da área do euro, a pressão sobre o ajustamento recai sobre todos os sectores da economia em simultâneo, gerando uma dinâmica contraccionista severa e inescapável. Este ajustamento implicará uma diminuição da actual disparidade entre a poupança e o investimento internos.
No que se refere ao processo de desalavancagem do sector privado, importa referir que o elevado défice externo da economia portuguesa surge num quadro de taxas de poupança e investimento particularmente baixas. No caso das famílias, a sua capacidade líquida de financiamento apenas aumentou significativamente a partir de 2009, graças ao aumento da taxa de poupança – após os mínimos registados nos anos anteriores – e a manutenção da tendência de diminuição da taxa de investimento, que se situa actualmente em mínimos históricos. Por seu turno, no contexto da actual crise, o sector das empresas não financeiras registou inicialmente um aumento das necessidades líquidas de financiamento em percentagem do PIB, apenas invertendo esta tendência mais recentemente, embora para níveis ainda elevados no contexto europeu. Esta evolução recente decorreu de um aumento da taxa de poupança do sector e de uma nova diminuição da formação bruta de capital fixo em percentagem do PIB, para mínimos históricos.
O processo de ajustamento de balanços deverá intensificar-se no futuro próximo, envolvendo um conjunto de decisões, estreitamente interligadas, entre os sectores das famílias e das empresas. Dada a importância do investimento na criação de condições para um maior crescimento económico no futuro, aquele ajustamento deverá desejavelmente decorrer de um reforço global da poupança. Este processo implicará a moderação do consumo privado e o maior recurso ao auto-financiamento das empresas não financeiras. O processo de consolidação orçamental assume importância primordial no actual contexto. De facto, foram os receios dos investidores internacionais quanto à sustentabilidade das contas públicas nacionais – num quadro de manutenção de fragilidades estruturais da economia portuguesa e de forte turbulência nos mercados financeiros na área do euro – que geraram a diferenciação da avaliação do risco da economia portuguesa nos mercados de financiamento internacionais e que tornaram inadiável o actual processo de ajustamento orçamental. O esforço necessário para cumprir os compromissos orçamentais para 2011 é muito substancial. De facto, a informação disponível sugere que a execução orçamental de 2010 implicaria, na ausência de medidas temporárias significativas, um défice claramente superior ao objectivo inicialmente traçado. Deste modo, o conjunto de medidas necessárias para recuperar a ambiciosa trajectória de consolidação inicialmente anunciada afigura-se particularmente desafiante. É neste contexto que se insere o anúncio no final de Setembro de um extenso conjunto de medidas, em antecipação à apresentação do Orçamento de Estado para 2011. Estas medidas, bem como outras que venham a revelar-se necessárias, enquadram-se num processo de consolidação orçamental que, apesar de favorável – e mesmo indispensável – ao crescimento da economia no médio e longo prazo, terá um impacto contraccionista no curto prazo. Este impacto será exacerbado pelo facto de vários países da área do euro se encontrarem num processo simultâneo de consolidação, pelo facto de as taxas de juro da autoridade monetária se encontrarem próximas de zero, bem como por tender a existir uma crescente restritividade de acesso ao crédito pelas famílias e pelas empresas. O contra-factual de não ajustamento orçamental não surge, no entanto, como uma alternativa superior, dado que implicaria custos de ajustamento económico incomensuravelmente mais elevados. De facto, num cenário de manutenção da restrição externa de financiamento nos mercados – conjugada com a remoção gradual das políticas não convencionais do BCE, que têm sustentado quase integralmente o financiamento da economia portuguesa – haveria a necessidade de um ajustamento abrupto do desequilíbrio das contas externas. No quadro de uma união monetária, a impossibilidade de ajustamento rápido dos preços relativos com o exterior exigiria uma contracção inaudita da procura interna e um aumento substancial do desemprego. Este cenário implicaria assim custos extremos em termos de bem-estar económico e social. Deste modo, o cumprimento escrupuloso dos objectivos orçamentais actualmente delineados surge como indispensável. Naturalmente, a prossecução destes objectivos deve ser conjugada com o reforço dos incentivos ao crescimento económico no médio e longo prazo, nomeadamente no que respeita ao grau de previsibilidade e permanência das políticas, à mobilidade e capacidade de reafectação de recursos, à exigência na qualificação dos recursos humanos e à criação de um quadro institucional – nomeadamente no que se refere à celeridade do sistema judicial – favorável ao crescimento económico.
Lisboa, 7 de Outubro de 2010"
Em comparação com o Boletim Económico do Verão de 2010, o crescimento do PIB é revisto em alta em 2010, reflectindo um crescimento superior ao esperado tanto da procura interna como das exportações. Em 2011, a actividade económica é revista ligeiramente em baixa, reflectindo um menor crescimento da FBCF, num contexto em que as exportações são ligeiramente revistas em alta. A actual projecção implica a manutenção da projecção para a inflação em 2010 e uma ligeira revisão em baixa para 2011, associada ao aumento inferior ao esperado tanto do preço do petróleo como do preço das importações.
A evolução da economia portuguesa em 2011 será fortemente condicionada pelo processo de consolidação orçamental, bem como por alguma dinâmica de redução do endividamento do sector privado. No actual quadro de diferenciação marcada e persistente do risco soberano na área do euro e dada a natureza temporária das medidas de política não convencionais do Eurosistema – que têm assegurado o financiamento externo da economia portuguesa –, o inadiável processo de ajustamento económico tenderá a intensificar-se a partir da segunda metade de 2010. Permanece, no entanto, uma elevada incerteza sobre o grau e o ritmo de materialização deste processo no horizonte de projecção. O que pode afirmar-se com segurança é que a economia portuguesa enfrenta actualmente um conjunto de desafios particularmente exigentes, que condicionarão as decisões dos vários agentes económicos nacionais no futuro próximo. De facto, a persistência de constrangimentos ao financiamento externo tenderá a acelerar e acentuar o indispensável ajustamento dos balanços dos agentes – públicos e privados –, tendo em conta a manutenção de elevadas necessidades líquidas de financiamento externo no período recente. No contexto de uma união monetária, e em condições normais de funcionamento dos mercados financeiros, um processo de desalavancagem da economia poderia processar-se de forma gradual, com a possibilidade de alisamento do ajustamento entre o sector público e privado. Em contraste, no actual contexto de segmentação e diferenciação de mercados soberanos no seio da área do euro, a pressão sobre o ajustamento recai sobre todos os sectores da economia em simultâneo, gerando uma dinâmica contraccionista severa e inescapável. Este ajustamento implicará uma diminuição da actual disparidade entre a poupança e o investimento internos.
No que se refere ao processo de desalavancagem do sector privado, importa referir que o elevado défice externo da economia portuguesa surge num quadro de taxas de poupança e investimento particularmente baixas. No caso das famílias, a sua capacidade líquida de financiamento apenas aumentou significativamente a partir de 2009, graças ao aumento da taxa de poupança – após os mínimos registados nos anos anteriores – e a manutenção da tendência de diminuição da taxa de investimento, que se situa actualmente em mínimos históricos. Por seu turno, no contexto da actual crise, o sector das empresas não financeiras registou inicialmente um aumento das necessidades líquidas de financiamento em percentagem do PIB, apenas invertendo esta tendência mais recentemente, embora para níveis ainda elevados no contexto europeu. Esta evolução recente decorreu de um aumento da taxa de poupança do sector e de uma nova diminuição da formação bruta de capital fixo em percentagem do PIB, para mínimos históricos.
O processo de ajustamento de balanços deverá intensificar-se no futuro próximo, envolvendo um conjunto de decisões, estreitamente interligadas, entre os sectores das famílias e das empresas. Dada a importância do investimento na criação de condições para um maior crescimento económico no futuro, aquele ajustamento deverá desejavelmente decorrer de um reforço global da poupança. Este processo implicará a moderação do consumo privado e o maior recurso ao auto-financiamento das empresas não financeiras. O processo de consolidação orçamental assume importância primordial no actual contexto. De facto, foram os receios dos investidores internacionais quanto à sustentabilidade das contas públicas nacionais – num quadro de manutenção de fragilidades estruturais da economia portuguesa e de forte turbulência nos mercados financeiros na área do euro – que geraram a diferenciação da avaliação do risco da economia portuguesa nos mercados de financiamento internacionais e que tornaram inadiável o actual processo de ajustamento orçamental. O esforço necessário para cumprir os compromissos orçamentais para 2011 é muito substancial. De facto, a informação disponível sugere que a execução orçamental de 2010 implicaria, na ausência de medidas temporárias significativas, um défice claramente superior ao objectivo inicialmente traçado. Deste modo, o conjunto de medidas necessárias para recuperar a ambiciosa trajectória de consolidação inicialmente anunciada afigura-se particularmente desafiante. É neste contexto que se insere o anúncio no final de Setembro de um extenso conjunto de medidas, em antecipação à apresentação do Orçamento de Estado para 2011. Estas medidas, bem como outras que venham a revelar-se necessárias, enquadram-se num processo de consolidação orçamental que, apesar de favorável – e mesmo indispensável – ao crescimento da economia no médio e longo prazo, terá um impacto contraccionista no curto prazo. Este impacto será exacerbado pelo facto de vários países da área do euro se encontrarem num processo simultâneo de consolidação, pelo facto de as taxas de juro da autoridade monetária se encontrarem próximas de zero, bem como por tender a existir uma crescente restritividade de acesso ao crédito pelas famílias e pelas empresas. O contra-factual de não ajustamento orçamental não surge, no entanto, como uma alternativa superior, dado que implicaria custos de ajustamento económico incomensuravelmente mais elevados. De facto, num cenário de manutenção da restrição externa de financiamento nos mercados – conjugada com a remoção gradual das políticas não convencionais do BCE, que têm sustentado quase integralmente o financiamento da economia portuguesa – haveria a necessidade de um ajustamento abrupto do desequilíbrio das contas externas. No quadro de uma união monetária, a impossibilidade de ajustamento rápido dos preços relativos com o exterior exigiria uma contracção inaudita da procura interna e um aumento substancial do desemprego. Este cenário implicaria assim custos extremos em termos de bem-estar económico e social. Deste modo, o cumprimento escrupuloso dos objectivos orçamentais actualmente delineados surge como indispensável. Naturalmente, a prossecução destes objectivos deve ser conjugada com o reforço dos incentivos ao crescimento económico no médio e longo prazo, nomeadamente no que respeita ao grau de previsibilidade e permanência das políticas, à mobilidade e capacidade de reafectação de recursos, à exigência na qualificação dos recursos humanos e à criação de um quadro institucional – nomeadamente no que se refere à celeridade do sistema judicial – favorável ao crescimento económico.
Lisboa, 7 de Outubro de 2010"
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