sexta-feira, outubro 15, 2010

Façam o que entenderem

Quando ontem o Jornal I publicava uma entrevista idiota com o ministro Lacão, que se limitou a um chorrilho de asneiras em vésperas de apresentação do orçamento para 2011, e quando o governo socialista precisa de negociar com o PSD, Passos Coelho cometeu um erro que nem mesmo o facto de ter estado no Funchal, nem a reacção (boa) d e Marco António suavizaram: a de ter desvalorizado uma acusação de falta de maturidade que neste contexto é ofensiva e repugnante. A reacção política deveria ter sido mais violenta. E não foi. Em política, sobretudo em tempos de combate, não há nem explicação para “paninhos quentes”, nem muito menos justificação para temores.
Mas há uma outra questão que se coloca, em certa medida ligada a esta, e que é a de saber até que ponto o PS e o governo estão (e estavam ontem) certos da fragilidade política do PSD, depois confirmada pela sondagem da SIC divulgada posteriormente a isso? Só assim se explica que, ontem à tarde, na Assembleia da República, um deputado qualquer do PS tivesse retomado a perspectiva laconiana da imaturidade, acrescentando-lhe uma desprezível alusão aos “tempos da JSD” ou “aos protestos na JSD” que nada têm a ver com a realidade hoje em equação, numa tentativa de tentar vender às pessoas a ideia de que o PSD está entregue a um iluminado sacado da cartola, sem perfil nem maturidade suficientes para estar onde está. O deputado laranja Montenegro reagiu da forma que pôde e foi capaz, mas nesse mesmo dia à noite o PSD deveria ter reagido politicamente com veemência e contundência adequadas, denunciando o recurso pelos socialistas ao ataque pessoal numa conjuntura política de crise questionando-se sobre a intencionalidade subjacente a tudo isto.
Neste altura o que ocorre? É bem possível que os portugueses concluam que os socialistas andam a pressionar e a enxovalhar o PSD, porque não acreditam que este partido tenha propostas alternativas que suavizem as medidas de austeridade e garanta as receitas que o Estado precisa para estabilizar as nossas contas públicas. No fundo creio que é isso que as bases do PSD e os eleitores social-democratas querem saber, mas não conhecem a resposta: que alternativas?
PS – Uma nota final: confesso que não é por causa do PD que deixo de dormir. Se o partido acha que desta no bom caminho, se acha que está a cumprir a sua função, se está também a lutar pelos seus objectivos políticos e eleitorais, se defende a sua dignidade e a dignidade do líder, então deixem estar tudo como está. Mas depois não se queixem, quando for tarde demais, quando o PSD, prejudicado por alvo de permanentes e plausíveis acusações de cumplicidade com a penosa governação socialista, for arrasado para terrenos eleitoralmente pantanosos, caindo irreversivelmente num fosso de onde duvido que alguma vez possa sair.

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