segunda-feira, julho 12, 2010

Jornalismo: Bob Woodward e Carl Bernstein derrubaram mesmo Nixon?

Li no DN de Lisboa num texto do jornalista pedro Fonseca, que "o jornalismo nem sempre é fiável quando se trata de abordar questões dos media. Um livro agora publicado, e apesar de os casos relatados serem todos americanos, mostra como alguns mitos do jornalismo são exacerbados em todo o mundo. O exemplo mais concreto é o de o presidente Nixon ter sido afastado após o caso Watergate pela denúncia de jornalistas do Washington Post. Como escreve W. Joseph Camp- bell em Getting it Wrong: Ten of the Greatest Misreported Stories in American Journalism, agora lançado pela University of California Press, estes "mitos podem ser pensados como a junk food do jornalismo". Não sendo inócuos, "podem distorcer a percepção do papel e função do jornalismo", porque "tendem a dar aos media um poder e influência maior do que o que têm" e "minimizam a complexidade dos eventos históricos para interpretações simplistas ou erradas". O professor de Jornalismo na American University considera que, no caso Watergate, que levou à demissão do presidente Nixon, em 1974, foi o tratamento cinematográfico que perpetuou o mito na consciência do público. Os Homens do Presidente (1976), de Alan J. Pakula, foi "o filme mais visto sobre o Watergate", com Robert Redford e Dustin Hoffman no papel dos jornalistas Bob Woodward e Carl Bernstein, e mostra-os como "cruciais" mas, "mais de 35 anos depois, o que permanece mais memorável e acessível sobre o caso é a versão cinematográfica". "O jornalista-herói tornou-se a linha mais familiar no Watergate" mas, diz Campbell, é uma abordagem "curta" e "exagerada" para entender a complexidade do caso, que envolve tribunais, FBI, comités do Congresso e o Supremo Tribunal. A contribuição dos jornalistas foi "modesta e, de certeza, não decisiva" - como reconheceram pessoas do Washington Post e por Woodward que, em 2004, afirmou que dizer que a imprensa tinha derrubado Nixon era horseshit. Outro mito sobre o Watergate, de que incentivara a procura do jornalismo, é também desmontado por Maxwell McCombs, que, no Gannett Center Journal, revelou que essa procura duplicara nos cinco anos anteriores a 1972, quando o Watergate começou. Outro caso abordado pelo autor é a emissão radiofónica da Guerra dos Mundos, de Orson Welles, cujo sucesso em 1938 levou algumas pessoas a pensar que estavam perante um ataque real de marcianos. Mas algumas é diferente da "grande maioria" que se julga ter acreditado na emissão, apesar de ser essa versão perpetuada. Outros temas abordados são a omissão do New York Times sobre a invasão da baía dos Porcos, em Cuba, a pedido da Casa Branca, o fim da carreira do senador Mc- Carthy, o alegado pedido de Wil- liam Randolph Hearst a um ilustrador para incentivar a guerra Espanha-EUA ou o suposto comentário (há várias versões) do presidente Johnson após declarações do jornalista Walter Cronkite. Campbell pensa numa sequela a Getting It Wrong porque "o universo dos mitos liderados pelos media não está confinado a dez".

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