domingo, novembro 02, 2008

Puritanismos

Imaginem só! O folheto - exemplo da forma digna como trata as pessoas que não pensam da mesma maneira que os que por lá andam - critica-me por usar num comentário aqui publicado ter usado "dr" com minúsculas" em vez de "Professor Doutor" (com maiúsculas). Aliás, basta passar a vista no dito cujo, para constatarmos que dali brotam exemplos do respeito pelas pessoas, incluindo pela sua formação académica. Indesmentível. De facto penalizo-me pelo lapso, porque regra geral nem sequer uso "dr" nem coisa nenhuma, já que em termos jornalísticos - não creio que o autor dessa nota não seja jornalista em "stand by" ou em fase de travessia no deserto porque saberia disso. Para alguns o uso do "dr" é fundamental para a sua existência. Para outros, que funcionam pelos vistos como "procuradores" dessa vaidade pessoal de terceiros, sem a inclusão desse apêndice a vida deixa de fazer sentido... Realmente vamos impor uma nova regra: nos jornais, na televisão, nas rádios, toca obrigar toda a gente a tratar-se por "senhor engenheiro" para ali, "senhor doutor" para acolá, "senhor arquitecto" para cima, "senhor professor doutor" para baixo, "senhor doutor doutor" (ou resumidamente senhor doutor ao quadrado) para dentro, "senhor mestre" para fora, etc. Talvez fiquem satisfeitos. Tal como dizia Blaise Pascal, "somos tão presunçosos que desejaríamos ser conhecidos em todo o mundo... E tão vaidosos que a estima de cinco ou seis pessoas que nos rodeiam, nos alegra e nos satisfaz". Ou Voltaire: "Se a natureza nos não houvesse feito um pouco frívolos, seríamos muito infelizes; é por ser frívola que a maior parte das pessoas não se enforca".

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