Os jornais regionais não têm aderido ao portal que visa compensar a redução do porte-pago por falta de acesso ou de conhecimento da Internet e a existência de sites próprios. Criado em Abril no âmbito do plano do Governo para reduzir as despesas com a Comunicação Social, nomeadamente com o porte-pago (comparticipação do Estado nos custos de expedição de publicações periódicas), o Portal da Imprensa Regional permite albergar 500 publicações, mas tem actualmente menos de 30 títulos inscritos, estando disponíveis apenas 16.Destes, quase metade (6) não estão visíveis no portal, remetendo para páginas sem conteúdo ou para informação de manutenção do site.Entre os jornais regionais contactados pela Lusa, vários escusaram-se a responder, alegando desconhecer o portal, sendo que apenas o director do semanário Diário do Alentejo, Francisco Pacheco, elogiou sem reservas o Portal da Imprensa Regional, considerando ter «todo o interesse».Ainda assim, o Diário do Alentejo não é um dos títulos incluídos na lista dos 16 disponíveis.«Não há motivação para lá estarmos», garantiu à Lusa o director do Jornal do Barlavento, Hélder Nunes, explicando que o título já dispõe de uma versão online do jornal.«Se puderem ver na Internet, de forma gratuita, [os leitores] não vão comprar os jornais», criticou Hélder Nunes, questionando um incentivo à leitura de jornais «feito através da Internet».«A intenção do Governo de disponibilizar um portal por querer deixar de apoiar o envio de jornais regionais para o estrangeiro» é uma «castração da imprensa regional», acusou.Também para Luís Nave, coordenador do Jornal do Fundão, a existência do Portal da Imprensa Regional «não faz sentido».O responsável, que alegou que o jornal já tinha um site próprio antes da criação do portal, considera que a medida governamental «não beneficia em nada» o Jornal do Fundão, «nem compensa a redução do porte-pago».Apesar de admitir que só no final do Verão terá ideia dos prejuízos causados pela diminuição dos apoios para expedição do jornal, Luís Nave adianta que o preço da assinatura anual já teve de ser «muito aumentado», passando de 27 euros para 30 no território nacional, 60 na Europa e 90 no resto do mundo.Já o director do Comarca da Sertã, João Miguel, admite que o portal pode constituir uma vantagem e que é «bem intencionado».No entanto, não pediu ainda para que o título que dirige passe a ser ali disponibilizado.«O nosso leque de assinantes tem um nível cultural reduzido e a Internet 'passa ao lado' de muitos», explicou João Miguel, adiantando acreditar que essa seja uma condição frequente em todo o Interior do país.Os leitores «principalmente das comunidades no estrangeiro, não têm computador ou já não se interessam por jornais portugueses», reforçou o director do jornal O Interior, Luís Baptista-Martins.Apesar de ter aderido ao portal «logo depois de ter sido anunciado», o responsável do título não viu ainda «quaisquer vantagens».«Aderimos para procurar chegar a mais pessoas e estamos acessíveis no portal desde Maio», explicou, assegurando, no entanto, que «não houve nenhum acréscimo de visitas de leitores».Assumindo sentir «uma certa desilusão porque esperava que houvesse uma promoção do portal por parte do Governo», Luís Baptista-Martins diz que não registou «nenhuma mais-valia».Já para Pedro Faria, do jornal Terra Quente, a adesão «foi uma mais-valia» até porque o título ainda não tinha site.No entanto, Pedro Faria considera que essa vantagem não compensou a redução já do porte-pago.«Perdemos entre 10 e 20 por cento de assinantes e nem pensar que o portal compensa essas perdas», disse, acrescentando existir ainda outro problema causado pela «necessidade de mão-de-obra para actualizar o site».«No início controlei o número de pessoas que visitavam o site e fiquei muito surpreendido, talvez porque o portal tivesse sido muito badalado e as pessoas tivessem curiosidade», mas a versão online deixou de ser actualizada por falta de tempo e de interesse, disse.A falta de adesão dos jornais regionais é reconhecida pelo subdirector do Gabinete para os Meios de Comunicação Social, entidade que dirige o portal, que avança, no entanto, estarem a ser preparados incentivos como acções de formação.«Admito que alguns possam pensar que colocar o jornal neste serviço possa ser mais complexo do que é na realidade», mas este «é um software amigável, que tem potencialidades e interesse para os jornais», defende João Paulo Palha. Com 29 candidaturas requeridas, o portal conta com 16 jornais online, o que para este responsável «não está muito fora das expectativas», embora João Paulo Palha assegure querer que «haja mais [adesões]».O plano governamental de redução do porte-pago determina que os jornais regionais recebam este ano uma comparticipação dos custos de envio de 60 por cento, sendo o valor diminuído para 50 por cento em 2008 e 40 por cento em 2009.Em 2005, foram gastos pelo Estado 11 milhões de euros no porte-pago, sendo que 532 publicações receberam apoio. No ano passado, o número de jornais que tiveram porte-pago foi de 434 (fonte: Sol).
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