O PS e António Costa têm que perceber uma coisa essencial, depois da golpada político-parlamentar, obviamente que absolutamente normal e legítima, à luz das regras parlamentares e face aos acordos partidários inéditos e precários que foram conseguidos: o PS precisa de fazer opções, de promover clarificações urgentes e de tomar decisões políticas.
Já todos percebemos que Costa, que tudo fará para sobreviver politicamente, quer aguentar esta situação até Abril, Congresso do PS, por temer que se uma crise governativa e política que possa surgir antes dessa reunião aumente a desconfiança do universo eleitoral socialista e provoque imediatamente a sua queda no seio do PS e o aparecimento de alternativas, aliás facilmente identificáveis, sobretudo devido à forma como se operou a mudança de liderança do partido e o modo como escorraçou Seguro, vitorioso das autárquicas de 2013 e das europeias de 2014.
O dilema de Costa é bem mais grave do que se possa pensar.
Costa sabe que o PS não pode ir, sob a sua liderança, para eleições antecipadas, sem que antes ganhe tempo para que as medidas populistas tomadas pelo governo comecem a ter efeito junto das pessoas. Antes disso, Costa precisa que resolver a polémica no seu "quintal parlamentar" porque é importante, diria mesmo decisivo, que resolva a polémica instalada em torno do orçamento de Estado para 2016 que pode ser o rastilho de uma nova crise política que inevitavelmente culminará com eleições antecipadas. Não acredito que Marcelo Rebelo de Sousa dê sequer uma nova oportunidade a Costa para renovar acordos à esquerda. Não funcionam, não têm consistência. Nunca tiveram consistência e pior ficaram quando se começou a perceber a postura reivindicativa constante de PCP e do Bloco. Mais do que aliados eles transformaram-se nos pesadelos de Costa, mas também nas suas bengalas, que lhe permitirão andar com as "pernas partidas" pelo menos até ao Congresso ao PS e ser candidato a novas eleições antecipadas caso esse cenário se coloque.
Mas se a fragilidade desta solução governativa se agravar, se aumentar a dependência do PS face aos seus parceiros, não sei até que ponto o Congresso do PS, por muito manipulado e controlado que esteja pela máquina socialista dominada pelos "costistas" pode ou não encostar Costa às boxes e responsabilizá-lo directamente por qualquer agravamento da situação.
Não tenho indicações concretas sobre qual o peso no seio PS das chamadas alas esquerda e não esquerda. Explicando, não sei qual a dimensão, entre os militantes, simpatizantes e eleitores socialistas, da corrente que apoia esta solução governativa e parlamentar, claramente arrancada a ferros e assente em pilares de barro, e aceita a submissão desprestigiante do PS perante os seus parceiros, e a outra corrente que recusa a descaracterização ideológica do PS aos olhos dos portugueses, devido aos acordos à esquerda que só o futuro dirá a quem, beneficiarão em termos políticos eleitorais.
Forças de pressão constante
O PCP mantém-se com um pé dentro e outro fora. A ideia que tive de que a ameaça politica para Costa não viria do PCP mas antes do Bloco, desvaneceu-se rapidamente quando me confrontei com o discurso agressivo e radicalizado do líder da CGTP que é também membro do Comité Central do PCP, ou seja uma mera marioneta deste partido infiltrada no sindicalismo. O que não é novidade. A Intersindical - e Jerónimo não deve pensar que engana tolos quando quer e sempre que precisa - necessita de espaço de afirmação, precisa de ter sindicatos controlados e submissos para mobilizar trabalhadores para graves que obedecem a uma agenda política mediática e manter a capacidade de revindicação a patamares elevados.
Duas ameaças surgiram ainda com o anterior governo de Passos Coelho e do CDS de Portas:
- a) a desmobilização na função pública onde uma sucessão de medidas desmotivou os trabalhadores, acelerou reformas antecipadas ou meras saídas dos quadros da função pública, afastando-os dos sindicatos que se revelaram uma enorme e cara - vários milhões de euros - inutilidade ao longo dos 4 anos de austeridade, não conseguindo rigorosamente para travar os roubos com salários, a precariedade, os despedimentos forçados, a roubalheira com pensões e reformas, a aplicação de uma vergonhosas ladroagem institucional por via dos impostos, etc, limitando-se antes ao protagonismo tonto de alguns sindicalistas que vivem do mediatismo que lhe sé dado e disfarça as suas insuficiências até formativas. Tenho que reconhecer que o anterior governo percebeu isso tudo e rapidamente encostou os sindicatos controlados pelo PS e pelo PCP às boxes;
- b) as mudanças nos transportes, claramente a principal aposta do PCP, e que ajuda a explicar o interesse insistente de comunistas e bloquistas na reversão dos processos de privatização com base em argumentos meramente ideológicos e programáticos. Sem empresas publicas o sindicalismo atrofia-se porque começam a estar em cima da mesa, muito concretamente, realidades que levam os trabalhadores a relegar o sindicalismo, por precaução compreensível e natural defesa do emprego, para lugares secundários, irrelevantes na respectiva lista de prioridades dos trabalhadores. A influência dos sindicatos do PCP num sector dos transportes pertença do estado é uma, a influência dos mesmos sindicatos num sector privatizado passa a ser outra, insignificante ou mesmo quase nula.
Foi porque sabe disto e percebeu o impacto que esta privatização teria na tal influência social que o PCP reclama, e que diverge da influência eleitoral, que Jerónimo Sousa liderou as negociações com Costa e o PS na lógica de que um apoio parlamentar a um governo socialista implicasse como contrapartidas essenciais, todas as medidas revertíveis que estão a ser adoptadas nos transportes, resta saber com que custos financeiros e mesmo políticos.
Costa, neste momento, depois da derrota em Outubro de 2015 e da derrota em Janeiro de 2016, e perante a ameaça de uma nova derrota, desta vez política e governativa por causa do OE 2016, precisa que tomar medidas que, muito sinceramente, porque o considero um político instável, vulnerável, fragilizado, fraco e sem brilho, duvido muito que possa ter sucesso.
E que medidas são essas?
Desde logo ou coloca PCP e Bloco na ordem, impedindo, de forma enérgica, que comunistas e bloquistas sejam uma espécie de força de pressão constante que mantém o PS refém dos interesses daqueles dois partidos minoritários, ou vai cair no abismo. É apenas uma questão de tempo.
Segundo aspecto a reter, ou afirma a sua liderança no quadro deste projecto governativo de esquerda e marca o caminho, ou permite que PCP e Bloco por mero oportunismo interesseiro, mostrem que apenas deram cobertura parlamentar ao governo para o pressionarem a tomar medidas sectoriais - algumas sociais também - que andaram a propor todas as semanas na Legislatura anterior e foram recusadas, para que depois tanto PCP como Bloco cheguem a eleições e reclamem os louros e os méritos de decisões e de eventuais benefícios de medidas que na realidade foram tomadas pelo governo do PS!
Assim, mantendo esta salada russa ela não pode durar muito tempo, não tem condições políticas para durar muito tempo. Os portugueses começam a perceber as pressões externas, das agências de rating mafiosas, dos sectores capitalistas mais corruptos, e dos nossos credores - vicissitudes com as quais qualquer governo tinha que contar, porque Portugal é um pais endividado, que deve mais de 250 mil milhões de euros, mais de 120% do PIB e que não tem nenhuma soberania financeira e orçamental aos olhos da comunidade internacional e os mercados, sobretudo dos mercados - podem descambar e levar o país para atalhos sem fim.
Parece-me mais do que evidentes que os portugueses estão satisfeitos com as medidas anunciadas - quem não ficaria satisfeito com o alívio da carga fiscal e com aumentos salariais e das reformas e pensões que na realidade são a reposição de tudo o que lhes foi roubado pelo governo de Passos e do CDS e Portas? - mas começam a ter medo de um eventual regresso ao passado de tão má memória. O nosso povo chegou a um ponto que não admite mais austeridade, ela não é mais compatível com os rendimentos tão baixos das famílias e com a realidade financeira e estrutural das nossas empresas, esmagadoramente PMEs. Mais austeridade será o caos e a desordem, mais austeridade será o fim de Portugal na União Europeia e o aparecimento acelerado de correntes políticas mais extremistas que darão cabo da nossa própria democracia.
António Costa é um dirigente do PS fraco, perdeu as eleições legislativas, tomou o poder no PS de assalto - fazendo o mesmo que Passos fez no PSD embora de forma mais calculista, preparada, pensada, sem espalhafatos - forjou uma coligação de esquerda que politica e paralelamente sendo legítima não garante, longe disso, a estabilidade que o país precisa. Depois, graças a uma posição dúbia que tanto deu para uma vitória de Marcelo como para uma derrota, Costa foi o grande perdedor das presidenciais porque goste ou não de ouvir, os candidatos socialistas somados obtiveram menos quase 500 mil votos que o PS tinha alcançado em Outubro do ano passado. E quanto a isso não tenho dúvidas. Cito o Expresso online num texto das jornalistas Cristina Figueiredo e de Luísa Meireles:
- "Entre o número de votos que o PS obteve nas legislativas de Outubro e o que os “seus” dois candidatos alcançaram domingo (Presidenciais) vai quase menos meio milhão. É a terceira vez (consecutiva) que o PS perde umas presidenciais. A 4 de Outubro de 2015, nas eleições legislativas, 1.747.685 eleitores (32%) votaram PS. Desses, este domingo, 94 dias depois, quase meio milhão (492.906) escolheu um destino para o seu voto que não depositá-lo num dos candidatos da área – Sampaio da Nóvoa ou Maria de Belém".
Ou seja, já não bastava a derrota nas legislativas de Outubro de 2015, já não bastava a fragilização evidenciada e o desespero que o obrigou a fazer tudo o que lhe fosse possível para sobreviver politicamente, pelo menos até ao Congresso do PS de Abril, e eis Costa a braços com nova derrota, pessoal e política, diga ele o que disser, aumentando ainda mais a dimensão da sua fragilidade política e a consequente instabilidade enquanto chefe do governo, qualidade em que, curiosamente, falou na noite das presidenciais, despindo-se apressadamente das roupagens de líder socialista.
Pessoalmente, se é verdade que fui adepto de uma mudança, de políticas e de protagonistas na Legislatura anterior, porque achava, e não alterei a minha opinião, que a anterior maioria PSD-CDS fez o trabalho que pretendia fazer e estava desgastada e distante do eleitorado, tal como sempre afirmei que tanto Portas assim como o seu líder parlamentar Magalhães, bem como Passos e o seu líder parlamentar e "cão de caça", o maçónico Montenegro, se deviam demitir para darem lugar a mudanças nos dois partidos e oportunidade a novos protagonistas, também acho que a solução encontrada é insegura, não é douradora e sujeita-se a cair a qualquer momento. Até por causas fúteis.
A verdade é que Portas, mais hábil e politicamente mais preparado e mais inteligente, percebeu isso mesmo, percebeu que a sua continuidade penalizaria o CDS, respondeu de imediato à situação criada e demitiu-se do cargo, não se recandidatando, processo que é absolutamente normal. Algo que Passos completamente agarrado ao poder e dependente da política, recusou fazê-lo provavelmente porque insiste em usar o PSD como trampolim para hipotéticos tachos europeus na expectativa que os seus parceiros europeus de direita lhe possam dar, premiando uma vassalagem e uma submissão caninas e absolutamente vergonhosas e humilhantes.
Finalmente Costa e o PS precisam de estar atentos ao confronto - que as presidenciais vão acelerar - entre PCP e Bloco, confronto de protagonismos e de visibilidade mediática. O PCP vai usar a sua influência sindical para promover greves contra a política de um governo que ele diz apoiar! O Bloco vai provavelmente continuar discretamente a usar a sua influência na comunicação social, nas pontes que tem com vários meios de comunicação, por via das suas redacções, e apostar numa influência mais mediática que não propriamente assente nas acções reivindicativas de rua que o PCP porventura reforçará graças ao controlo sobre a Intersindical.
Julgo que o tempo de Costa e do PS está a esgotar muito rapidamente. O PS precisa que impor-se aos seus parceiros e Costa precisa que se afirmar, em vez de se esconder sob a capa de uma fragilidade e descrédito político que duas derrotas eleitorais no espaço de três meses não deixam dúvidas a ninguém.
Costa e o PS não podem continuar reféns do PCP e do Bloco. Acho mesmo que devem esticar a corda e atirar para o colo de Jerónimo e de Catarina o ónus de eleições antecipadas que podem revelar-se desastrosas para o PS - ou não, conforme o timing da sua realização - mas sobretudo podem penalizar comunistas e bloquistas se forem identificados junto do eleitorado como os causadores da crise política e por isso passíveis de uma penalização eleitoral que se adivinha como inevitável em próximas eleições.
O problema é que sem Portas no CDS, e portanto sem que exista um líder que tenha carisma e uma imagem feita junto do eleitorado ao ponto de o mobilizar rapidamente, e com um Passos desgastado, que atemoriza as pessoas, que não esconde uma sede de vingança por tudo o que o PS e Costa lhe fizeram, e mantendo (Passos) o comportamento sopeiro de sempre, de adepto fervoroso e submisso da austeridade imposta pelos líderes europeus de direita, provavelmente Portugal cairá num fosso, sem soluções políticas e eleitorais sustentadas e mobilizadoras. Isto porque os partidos hoje são uma trampa, repito, uma absoluta trampa, no que diz respeito às lideranças, ao carisma dos seus dirigentes, à credibilidade das castas elitistas que tomaram de assalto o poder nos partidos, graças a procedimentos mafiosos internos, nomeadamente o acesso às listagens de militantes e seus contactos, etc, tudo isto numa descarada subversão da lógica democrática que se recomenda aos partidos sérios.
Uma coisa é certa: depois da vitória de Marcelo, com 52% e mais 400 mil votos que PSD e CDS em Outubro passado, dificilmente os partidos ditos "apoiantes" do governo de Costa e do PS estarão interessados em eleições antecipadas. E isso dará espaço de manobra e capacidade de pressão alta aos socialistas (LFM)
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