segunda-feira, janeiro 25, 2016

Cinco curiosidades das Presidenciais

Marcelo ganhou em todo o lado e "esmagou" em "casa", Marisa Matias e Edgar Silva bateram recordes partidários em sentidos inversos. E, sim, o "independente" Manuel Alegre, teve em 2006 mais 77 500 votos do que o "independente" Sampaio da Nóvoa. Os resultados eleitorais não deixaram margem para dúvidas quanto às preferências dos portugueses. Mesmo assim, houve alguns números surpreendentes. E pelo menos um que gerou um incómodo equívoco histórico.
Manuel Alegre não gostou de esquecimento histórico
No seu discurso da noite eleitoral, Sampaio da Nóvoa fez, apesar da derrota, um balanço positivo dos resultados da sua candidatura, defendendo que "pela primeira vez na nossa democracia, um candidato independente ultrapassou os 20% e alcançou um milhão de votos". O problema é que não tinha razão. Em 2006, de acordo com os dados oficiais que ainda podem ser consultados no portal da Comissão Nacional de Eleições (CNE), Manuel Alegre, à frente da candidatura "O poder dos cidadãos" - com a qual bateu Mário Soares, candidato do PS, na luta pelo segundo lugar - chegou a 1 138 297 votos correspondentes a 20, 74%. Sampaio da Nóvoa teve menos 77 528 votos, apesar de ter alcançado uma percentagem de 22,89% dos votos. Quem não gostou do lapso foi Manuel Alegre - que apoiou a candidatura de Maria de Belém. "Tem de haver rigor e memória histórica", defendeu, exigindo ao antigo reitor da Universidade de Lisboa a reposição da verdade dos factos: "Ele, portanto, que faça o favor de corrigir, caso contrário corrijo-o eu".
Marcelo esmagou em casa
O presidente da República eleito ganhou as eleições em todos os 18 distritos do continente e também nas regiões autónomas da Madeira e dos Açores. Beja foi o único distrito onde pairou a hipótese de uma vitória do candidato independente da esquerda mas, no final, Marcelo acabou mesmo por levar à melhor, ainda que pela margem mínima: 31,71% dos votos e 31,47% foram aliás, respetivamente, o pior e o melhor resultado do vencedor e do segundo classificado das Presidenciais. Marcelo foi também o candidato presidencial que melhores resultados conseguiu na sua terra natal, chegando aos 81,9% dos votos no concelho de Celorico de Basto, de onde é natural.
Sporting de Braga goleou e deu os parabéns ao sócio 2253
Por mais que tenha frisado a sua vontade de ser o Presidente de "todos os portugueses" e de tratar por igual todos os cidadãos, há uma área onde o futuro Chefe de Estado nunca poderá invocar total isenção: o futebol. Marcelo é um reconhecido sócio e apoiante do Sporting Clube de Braga e ontem pode dizer-se que o seu clube do coração fez um esforço para ajudá-lo a ultrapassar a ansiedade do dia eleitoral, batendo em casa o Rio Ave por 5-1. A partida começou às 18.15 e por volta das 19.00, hora do fecho das urnas, a equipa da casa já ganhava 2-0, graças a um "bis" do egípcio Hassan. Na segunda parte, enquanto se aguardavam os resultados das primeiras projeções eleitorais, a equipa da casa marcou mais três golos, conseguindo um dos melhores resultados da época e consolidando o quarto lugar. Após as eleições, o clube deixou uma nota na sua página do Facebook: "O Sporting de Braga felicita o seu sócio n.º 2.253, Marcelo Nuno Duarte Rebelo de Sousa, pela vitória nas eleições presidenciais". Ignora-se se Marcelo retribuiu os parabéns.
Marisa a melhor do Bloco, Edgar o pior do PCP
Os candidatos apoiados pelos dois partidos mais à esquerda tiveram destinos opostos na noite eleitoral. Os 3,9% de votos na candidatura de Edgar Silva nas eleições presidenciais de domingo, que correspondem a 182.9905 votos, representam o menor resultado obtido por um candidato apoiado pelo PCP desde as eleições presidenciais desde 1976. Até hoje, o pior resultado obtido por um candidato apoiado pelos comunistas era o de António Abreu, que obteve 5,13%, que representava o voto de 221.971 eleitores, nas eleições de 2001. Nas primeiras presidenciais após o 25 de Abril de 1976, Octávio Pato conseguiu 7,59% dos votos. Nas duas eleições seguintes, realizadas em 1980 (Carlos Brito) e em 1986 (Ângelo Veloso), os candidatos indicados pelo PCP desistiram. Em 1991, Carlos Carvalhas registou o melhor resultado de um candidato comunista, com 12,92% dos votos. Em 1996, o PCP apoiou Jorge Sampaio e, em 2001, ao optar por ir a votos, António Abreu teve 5,13% dos votos. Nas eleições de 2006, as primeiras ganhas por Cavaco Silva, o candidato Jerónimo de Sousa, que viria a ser o secretário-geral comunista, registou 8,64% e, em 2011, Francisco Lopes teve 7,05%. Já Marisa Matias conseguiu nas presidenciais de domingo o melhor resultado obtido por uma militante bloquista, superando o de Francisco Louçã em 2006. A eurodeputada, de 39 anos, obteve 10,13% dos votos nas eleições presidenciais, correspondendo a 469.307 votos, o melhor resultado das três eleições para a Presidência da República a que o Bloco de Esquerda apresentou candidato.
Em 2001, na reeleição de Jorge Sampaio, o candidato apoiado pelo BE, um dos fundadores do Bloco de Esquerda, em 1999, obteve 2,98%, representando o voto de cerca de 129 mil eleitores. Nas presidenciais seguintes, que elegeram pela primeira vez Cavaco Silva, o Bloco de Esquerda apoiou a candidatura do também fundador Francisco Louçã, que conseguiu 5,3% dos votos, ou seja, 288.261 eleitores. Na eleição do Presidente da República realizada em 2011, o BE apoiou, com o PS, o socialista Manuel Alegre, que perdeu para Cavaco Silva, obtendo 19,6%.
Segunda maior abstenção de sempre
A abstenção nas eleições presidenciais de domingo foi de 51,16%, a segunda mais elevada de sempre em sufrágios para a escolha do chefe de Estado. Nestas eleições, nas quais Marcelo Rebelo de Sousa foi eleito Presidente da República, votaram 4,7 milhões de eleitores, em 9,6 milhões de inscritos. A mais alta taxa de abstenção em eleições presidenciais foi registada na reeleição de Aníbal Cavaco Silva, em 23 de janeiro de 2011, com 53,56% dos eleitores a optarem por não ir às urnas. No pós-25 de Abril de 1974, a reeleição de Cavaco Silva, que venceu com 52,95% dos votos, confirmou a tendência para uma maior abstenção quando se trata de um segundo mandato. Nas eleições de domingo os votos brancos atingiram 1,24 por cento e os nulos 0,92 por cento. Estas percentagens foram menores relativamente às eleições presidenciais de 2011, nas quais se registaram 4,26 por cento de votos brancos e 1,93 por cento de votos nulos (DN-Lisboa)

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